Daredevil: O renascer do diabo de Hell’s Kitchen

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Depois de uma maratona de 13 episódios que (re)conta a história de Matt Murdock, advogado diurno e justiceiro noturno, pode-se dizer que a série adaptada pela Netflix supera o seu antecessor do grande ecrã Demolidor, o Homem Sem Medo. As diferenças entre a versão cinematográfica e televisiva são notórias e levam o público a esquecer o mau exemplo que foi dado em cinema. Aqui não temos Jennifer Garner, nem Ben Affleck, nem Colin Farrell à mistura, mas temos um elenco em ascensão que consegue, numa série de super-heróis, encontrar os papéis que marcarão a sua carreira para sempre. Matt Murdock é encarnado por Charlie Cox (que já conhecemos do filme Stardust) que inicia a sua carreira de advogado em conjunto com o seu amigo Foggy Nelson (Elden Henson) para combater os crimes de Hell’s Kitchen. Apesar de ainda não terem clientes, Murdock sabe que a lei é aplicada num tribunal mas o conceito de justiça vai para além disso; os dois conhecem, então, Karen Page (Deborah Ann Woll), uma jovem secretária que fora incriminada por um crime que não cometeu. Karen não tem amigos nem grandes fundos monetários, vê-se em sarilhos assim que meteu o nariz onde não era chamada e a empresa para a qual trabalhou, a Union Allied, pretende arruinar a sua vida. Atrás deste esquema conhecemos Wilson Fisk que é o rei do crime, por assim dizer, de Hell’s Kitchen e o seu monopólio criminal não tem limites para espalhar o terror nas ruas da cidade.

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O que torna a nova série da Netflix numa obra-prima dentro do universo dos super-heróis reside no trabalho argumentativo da sua equipa. O retrato de Demolidor aproxima-se muito do registo que Christopher Nolan transpôs para o seu Batman, realçando as características únicas que levam à criação de um justiceiro e a exploração do mesmo enquanto ser humano. O que torna os adeptos de banda-desenhada realmente fãs das adaptações televisivas/ cinematográficas deste vasto universo reside na humanização destes indivíduos que possuem poderes inexplicáveis e os usam em prole do Bem. Matt Murdock não é exceção, é um homem vítima de um acidente que o tornou cego (onde produtos químicos nocivos caíram sobre os seus olhos). Matt apercebe-se que os seus restantes sentidos desenvolveram-se e, ao aprender a controlá-los, decide utilizá-los como uma arma para proteger os inocentes das forças do crime. O Daredevil de Charlie Cox não se insere no típico conceito de super-herói imortal e invencível; o Daredevil de Charlie Cox tem consciência das suas capacidades, vulnerabilidades, limitações e consequências em ser um vigilante. E, embora tenha os valores morais característicos de um Homem de Ferro ou de um Capitão América, procura manter-se no anonimato.

Assim que conhecemos Wilson Fisk, num retrato assustadoramente brilhante de Vincent D’Onofrio, percebemos também que não se trata de um vilão normal. Fisk é um magnata de bolsos cheios, controlador de uma rede de tráfico de droga e têm ao seu dispor todos os organismos que primam pela proteção da cidade. O seu monopólio criminal continua a expandir, eliminando aqueles que se opõem ao seu crescimento. Assim que conhecemos a sua história, apercebemo-nos que o novo Kingpin não é um vilão odiável, mas sim um ser humano que passou por maus momentos. A humanização do vilão de serviço é uma característica que nem sempre é aplicada nas adaptações da Marvel e culmina numa abordagem sentimentalista que leva o público a sentir empatia pelo mesmo. Quem diria que sentiríamos pena de um vilão cruel e aparentemente desumano; Fisk é a personificação de que a prática do Mal tem sempre um motivo intrínseco aliado às suas raízes.

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Portanto, o Daredevil da Netflix é um triunfo visual que junta os elementos necessários para garantir o estatuto de referência onde as sequências de ação fenomenais se interlaçam com a construção humana das suas personagens. Ao contrário das suas séries companheiras (também da Marvel, como por exemplo Agents of SHIELD), as aventuras de Matt Murdock aproximam-se mais de uma realidade contemporânea que não utiliza recursos tecnológicos de última gama para auxiliar no seu desempenho, nem procura entreter o público com explosões fáceis e lutas sem sentido.

 

Texto escrito por: Jorge Lestre // Cine Addiction

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