WandaVision – Uma história de luto e perda em 9 episódios

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Em “WandaVision”, Elizabeth Olsen e Paul Bettany encantaram-nos ao longo de 9 episódios na pele de Wanda Maximoff e Vision.

“WandaVision” chegou ao fim e fica aqui uma análise a esta minissérie.

O Universo Cinematográfico da Marvel já  nem precisa de apresentações. Com um total de vinte e três filmes, a Marvel completou a sua Saga do Infinito com o filme “Avengers: Endgame”, que fechou a saga com chave de ouro, uma grande despedida emocionante para os dez anos de história do Marvel Studios no cinema. Entretanto, tivemos a sequela da mais recente interpretação do nosso amigo da vizinhança com “Spider-Man: Far From Home”, e desde então nada.

Pela primeira vez desde 2010, passamos mais de um ano sem novas histórias da Marvel. Por esta altura, já teríamos visto pelo menos “Black Widow”, “Eternals” e “Falcon and the Winter Soldier”. Todos estes ou thrillers ou histórias de ficção científica com bastante potencial. Porém, foi imensamente positivo constatar que o regresso do MCU se deu com uma entrada imensamente inovadora, emocionante, e que se foca nas personagens em vez de um festival de efeitos especiais.

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Assim nos chega “Wandavision”, uma série que marca o começo de uma enorme aposta de séries televisivas do MCU, que serão lançadas no Disney+. Esta já não é a primeira vez que vemos séries da Marvel. Recentemente tivemos as excelentes “Daredevil” e “Jessica Jones” feitas na Netflix, e também “Agents of Shield” produzida pela ABC.

Ainda assim, estas séries, apesar de teoricamente se passarem no mesmo universo, nunca chegaram a conversar diretamente com o mesmo. A proposta das séries da Disney+ é que estas sejam uma peça tão importante quanto os filmes no panorama geral do MCU, uma proposta ousada, mas que pelo menos por enquanto está a resultar.

“Wandavision” traz de volta as personagens Wanda e Vision que vimos nos filmes dos Vingadores e em “Captain America: Civil War”, mas desta vez num universo de sitcom no qual cada episódio retrata uma época de sitcoms diferente, desde os anos 50 à primeira década deste ciclo. Porém, a sitcom revela-se como uma cobertura para uma história de mistério com elementos de terror, mas acima de tudo, como uma exploração de dor e luto, que enriquece ambas as personagens de uma forma que simplesmente não estava à espera.

ATENÇÃO: A partir do próximo parágrafo a crítica inclui spoilers.

Os três primeiros episódios remontam as sitcoms durante os anos 50 até aos anos 70 e marcam o primeiro ato da série. As homenagens são bastante caricatas, e o humor é extremamente inteligente, com piadas um tanto infantis mas que brincam com a forma como conhecemos as personagens, em especial uma piada sobre uma pastilha elástica que faz com que o Visão deixe de funcionar e é simplesmente hilariante.

Ainda assim, durante este primeiro ato conseguimos entender que existe um clima estranho na cidade Westview, em especial em redor do casal. Ambos começam a ver coisas estranhas desde vozes a intrusos na forma de homens e objetos. Tudo isto é-nos traduzido com elementos de mistério. Honestamente, às vezes sentia que estava a ver uma sitcom que pouco a pouco se tornava num filme de terror psicadélico estilo “Twin Peaks”. É algo completamente diferente do que havíamos visto até então dentro do MCU e muito corajoso a meu ver.

A série monta bem o mistério e deixa-nos com imensas perguntas: “Como é que o Visão está vivo? Será que a Wanda criou isto tudo? Ou será uma alucinação?” Muitas eram as teorias, teorias essas que é um tema por si só que irei discutir entretanto. Assim avançamos para o segundo ato. Aqui somos apresentados ao lado Marvel da série, e somos apresentados a Monica Rambeau. A forma como a série nos introduz a personagem no meio das consequências de “Avengers: Endgame”, foi alucinante. A personagem é também cheia de carisma e marca presença em tela ao juntar-se à agencia Sword para investigar o que Wanda fez em Westview, porém esta é sugada para dentro do campo de forças.

Wanda expulsa Monica da cidade e esta começa a trabalhar com Darcy e Jimmy Woo, para descobrirem o que se passa. Não era grande fã de Darcy nem do Jimmy Woo, porém acho que ambos conseguem ter um excelente timing cómico em especial no quarto episódio…. até que são deixados de lado.

Não me interpretem mal, eu gostei do arco de Monica, Darcy e Jimmy, porém achei muito menos interessante do que tudo o que se passava com Wanda e Vision. A trama do lado da Sword não só conta com um vilão péssimo de nome Hayward que muito sinceramente é dos vilões mais genéricos que o MCU já teve. Do lado da Monica existem algumas vertentes interessantes, um possível conflito com a Captain Marvel e um bom contraste da sua perda com a perda de Wanda, que tornam a sua personagem extremamente cativante.

Ela, ao contrário da Sword, tem uma vontade imensa de ajudar Wanda, como uma pura heroína, até que se torna numa super heroína e decide atravessar o Hex de novo, algo que lhe atribui os poderes da heroína Photon, que conhecemos na banda desenhada. Ainda assim, e apesar de um bom contraste da sua perda com a perda da protagonista, acredito que a personagem é deixada de lado nos episódios finais o que me leva a sentir que a personagem não foi tão bem desenvolvida quanto poderia ter sido, e que simplesmente a introduziram para deixar a ponta solta para o filme da Capitã Marvel.

Já dentro do “Hex”, as coisas nunca deixam de ser interessantes. As tensões crescem entre Visão e Wanda, à medida que o visão começa a entender que Wanda é responsável pelo que se passa na cidade. O mistério cresce, entre várias surpresas como Evan Peters como Quicksilver de volta! Tudo isto deixa Wanda exausta, fora do controle e confusa. Até que nos é revelado que Agnes, a vizinha intrometida de Wanda é na verdade Agatha Harkness! A grande bruxa de Salem da Marvel Comics, que nas bandas desenhadas serviu como professora de Wanda! Previsível… sim, mas honestamente vivemos numa época em que fazemos tantas teorias que parece que quase fazemos a série na nossa cabeça, mas eu já chego a esse ponto.

É após esta revelação que chegamos ao terceiro ato da série e sinceramente o melhor. O episódio oito revela todos os mistérios ao fazer uma grande viagem pelo passado da Wanda. Que personagem! Aquela que para mim era uma personagem tão monótona nos flimes, tornou-se uma das minhas preferidas dentro do MCU. Elizabeth Olsen entrega uma performance carismática e doce, mas que carrega dor, o peso do trauma, a confusão, a aceitação. A atriz carrega uma personagem que passa pelos cinco estágios de luto e fá-lo de uma forma que me fez entender completamente a sua posição e sentir-me muito triste por ela.

O facto de a Marvel ter feito esta série como uma forma de discussão sobre a dor de perder um ente querido, é algo extremamente corajoso e imensamente bem executado. A série nunca esquece o seu coração, algo que é o mais importante nestas histórias de super heróis a meu ver. Seja a jornada de um homem arrogante a tornar-se num grande herói com Tony Stark, ou a de um homem fora do seu tempo a lutar para encontrar o seu lugar com Steve Rogers, acredito que o sucesso da Marvel venha com a entrega de personagens bem fundamentadas, heroicas, mas acima de tudo muito humanas.

“O que é o luto, senão o amor que se preserva!” Palavras sábias do Visão, entregues numa bela performance de Paul Bettany, que encapsulam tudo aquilo que a série é. A cena na qual Wanda cria o Hex talvez seja das melhores que já vi nesta saga. Que performance de Elizabeth Olsen, cujo berro, acompanhado de uma música e edição subtil, tornam este momento um dos mais carregados e energia da série, que me trouxe as lágrimas aos olhos.

O último episódio da série conclui muito bem o arco de Wanda e Visão, apesar de ter algumas coisas que mereciam mais tempo. A questão do Evan Peters como Quicksilver, parece ser um artifício barato para nos confundir o que é sem dúvida interessante, mas que apenas demonstra que não seria preciso trazer Evan Peters para o fazer. Como já referi Monica Rambeau merecia mais tempo de tela, acho que os poderes dela ainda não foram muito bem traduzidos embora ache que vão explorar isso melhor nos filmes. Fora isso, foi um episódio imensamente emocionante.

A transformação de Wanda na Feiticeira Escarlate, nome que nunca tinha sido mencionado no MCU, é simplesmente épica! Wanda entende que precisa de libertar todas as pessoas que aprisionou e ceder à perda de Visão e dos seus filhos. É o aprendizado de uma personagem cuja dor a consumiu durante tanto tempo. Contudo, a série abre espaço para que a mesma se possa vir a tornar numa possível vilã sendo que esta irá começar a usar Magia do Caos, algo que a pode vir a consumir e talvez criar o tal Multiverso da Loucura que veremos no novo filme do Doutor Estranho, mas a ver vamos.

Antes de dar as minhas considerações finais, acho que há algo muito importante a ressaltar. Teorias são apenas teorias, e acho que existe uma cultura hoje em dia na qual os fãs dos mais variados conteúdos acreditam que as suas teorias são o que a série deve ou não deve ser.

Não me levem a mal, adoro fazer teorias, porém, uma teoria não passa de uma conjetura e honestamente, o objetivo desta série é contar uma história sobre perda e luto, que nunca tento introduzir um Mephisto, um Quarteto Fantástico, entre outras coisas, que por não terem aparecido parecem ser motivo para atacar os produtores desta série por não terem correspondido às suas teorias. Acho que este tipo de dicotomia torna estas teorias menos divertidas. Uma série é uma série, e acredito que devemos ver a série pelo conteúdo que a série ou filme tem, independentemente das teorias que fazemos.

Portanto, assim concluo a minha opinião nesta série, que veio como uma bela surpresa. Uma exploração de dor e luto a par de uma homenagem excelente aos variados tipos de sitcom, compõe uma série muito bem realizada, com excelentes performances e um argumento que ainda que enrole quando não se foca nos protagonistas, continua a ser ousado, divertido e acima de tudo emocionante. Mal posso esperar por ver mais da Feiticeira Escarlate, que personagem incrível!

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