“Jogo de Alta Roda” – Muito provavelmente um dos melhores filmes do ano

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Aaron Sorkin no seu TOP 5 … e desta vez na cadeira de realizador!

Baseado na autobiografia de Molly Bloom, Molly’s Game: From Hollywood’s Elite to Wall Street’s Billionaire Boys Club, My High-Stakes Adventure in the World of Underground Poker, “Jogo da Alta-Roda” conta a sua história como uma decadente atleta olímpica e uma ascendente Rainha do Póker, responsável por uma das redes de jogo ilegal mais recorridas por celebridades nos EUA durante 12 anos.

Jogo da Alta-Roda

O filme foi escrito e realizado pelo Aaron Sorkin, que depois de escrever excelentes filmes como “Uma Questão de Honra”, “A Rede Social” e “Steve Jobs”, finalmente inicia a sua carreira como realizador, que não podia ser de todo uma má decisão. Poucos são os directorial debuts tão poderosos e marcantes como “Jogo da Alta-Roda”. Estamos perante um dos melhores guiões e filmes do ano! Primeiro, graças às palavras honestas e ambiciosas do realizador. Segundo, devido ao elenco fortíssimo com cenas marcantes, ofuscado ainda assim por uma atriz principal sem feltros e receios. Terceiro, graças à ajuda da estética luxuosa e brilhante de Hollywood, realçada por uma fotografia dourada, mas não muito diferente de típicas biopics.

O método de storytelling do Aaron Sorkin é impressionante. É claro que este está mais preocupado em contar a história do que em saber se o público regista tudo, por outras palavras: “Apanharam tudo? Não? Paciência …”. Se há problemas neste filme, falta de informação não é um deles. O filme divide-se em dois ritmos. Um é frenético e estupidamente acelerado, durante o qual todo o tipo de informação é despejado para cima do público. O outro é mais calmo e paciente, servindo para deixar o público “respirar” e para mostrar a evolução dos próprios personagens face aos flashbacks, sem deixar que a tensão desapareça.

A banda sonora e a edição são dois fatores responsáveis pelo ótimo equilíbrio do aglomerado de cenas mais aceleradas. A música acha um tom agressivo e perfeito para conduzir os jogos de poker. Já a edição, é uma das melhores do ano. Desde o olho atento a detalhes até à montagem inteligente surgente dos planos objetivos e eficientes, tudo parece funcionar.

Jogo da Alta-Roda

Jessica Chastain não podia estar melhor, é assim que uma biopic deve ser conduzida. Primeiro, a atriz é uma mulher atraente e sedutora (sem seduzir intencionalmente). Todos aqueles intermináveis decotes e vestidos curtos servem o seu propósito – distrair o público daquilo que realmente acontece no poker (e no até próprio filme), tal como ele funciona na vida real. Segundo, a caracterização gradual da personagem é perfeita. Inicialmente, a Molly é uma jovem indefesa e insegura, mas que possui fortes escudos. Estes provêm provenientes da rígida, mas bem-intencionada abordagem do pai e da distante relação entre os dois. Progressivamente, a personagem torna-se fria, mas não totalmente indiferente com os seus clientes ou com o seu dinheiro. No fim, é uma mulher fria, controladora e extremamente segura, ainda assim não deixando isentos alguns momentos de vulnerabilidade. No futuro, Jessica Chastain será uma das grandes. Uma nomeação ao Óscar será mais que justa.

O Kevin Costner dá uma curta, mas excelente participação. Graças à rígida educação que proporciona, desde o ski à cultura e ao curso de advocacia, compreendemos a origem da natureza apática da protagonista, mesmo que as intenções do pai sejam as melhores. Os dois têm uma cena que resume na perfeição todo o seu distanciamento e afeto.

Jogo da Alta-Roda

O Idris Elba está novamente sensacional! A verdade é que, apesar de, por vezes, ficar ofuscado na sombra da Jessica Chastain, que rouba quase todas as suas cenas, este dificilmente se deixa abater durante os enormes e exaustivos (no melhor sentido da palavra) confrontos entre os dois. O ator inglês tem uma cena fortíssima, na qual eu pensei que uma nomeação ao Óscar não seria completamente inesperada.

Há também boas participações do resto do bom elenco: Jeremy Strong, Brian d’Arcy James, Graham Greene e Chris O’Dowd. Ainda assim, é-me muito difícil ver o Michael Cera como um antagonista. O personagem foi escrito como um jogador de poker temível, invejado e ameaçador … não convence, basta olhar para a cara do Michael Cera. Acho apenas que este ainda tem de amadurecer como um ator dramático. Não foi uma boa escolha de casting, apesar do seu inegável talento para comédias.

Jogo da Alta-Roda

Como já disse, esteticamente o filme é muito rico. Devem também ser mencionados o design de produção, consistente em belíssimos e organizados cenários, e o guarda-roupa, composto pelos elegantes e provocadores vestidos da protagonista, que, em contraste com as suas roupas anteriores e o guarda-roupa dos restantes personagens, desenvolve uma certa hierarquia.

“Jogo da Alta-Roda” é um filme único. Apesar de não ser o melhor argumento da carreira do Aaron Sorkin, é uma prova do seu talento como um futuro realizador de respeito. O elenco é composto por atores empenhadíssimos e com um talento invejável, no qual a Jessica Chastain encontra-se na sua melhor forma desde “00:30 A Hora Negra”, de 2012. Fica aqui recomendado!

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