Crítica: “Power Rangers”, de Dean Israelite

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A 28 de agosto de 1993, os Estados Unidos transmitiram pela primeira vez um fenómeno baseado numa série japonesa, o Mighty Morphin Power Rangers. E foi o início de uma lenda…

E o que dizer deste fenómeno que ainda hoje atrai velhos e novos fãs? Quer aqueles que deliravam com as peripécias dos cinco teenagers with attitude, quer os que se vão ambientando através das novas temporadas que vão surgindo, o que é certo é que não se pode negar o impacto que esta franquia causou, e ainda causa, na cultura pop.

A fórmula é sempre a mesma: um grande vilão (que a maior parte das vezes vem do espaço) ameaça a segurança da Terra e o destino desta está nas mãos de cinco (ou três, ou seis, ou até mais) jovens com poderes especiais que os permitem transformar-se em guerreiros com uniformes de cores diferentes para lutar contra os monstros que o vilão envia semanalmente contra os jovens. Há uma luta, repleta de efeitos especiais e muitas artes marciais, o monstro é derrotado, cresce até ficar maior que os edifícios da cidade, os jovens invocam os Zords (veículos de combate também eles gigantes), combinam-nos num robô gigante e destroem o monstro. Simples, repetitivo, ridículo… mas resulta.

E eu como fã de super-heróis que sou, rapidamente me deixei picar por esta melga que teimava em aparecer na minha televisão todos os sábados de manhã. Havia algo naquele formato que me atraía, e não sabia se era da música de abertura, se das lutas, se das transformações, se dos robôs gigantes, ou se tudo disto em conjunto. O que é certo é que eu cada vez mais gostava e cada vez mais fazia para seguir religiosamente cada episódio, mesmo sabendo que a fórmula se iria repetir no episódio seguinte.

Mas agora, uma nova história surgiu. Uma nova origin story que pretendia pegar no conceito original e reinventá-lo, torná-lo mais autêntico, mais adulto, mais abrangente, de forma a tentar cativar não só fãs da série como ainda atrair novos. E não é que conseguiu?

Power Rangers surpreendendeu-me bastante pela positiva, pela forma como apresentou uma história negra, muito centrada nas personagens e nas suas histórias de vida e como conseguiu fazer com que um conceito que à partida era patético fosse levado a sério. Aqui, ao contrário do que vimos nas primeiras personagens, os adolescentes têm atitude. São rebeldes, problemáticos, não são amigos inicialmente, nem sequer se conhecem no início do filme. Aos poucos vamos conhecendo-os um a um, sabendo o passado deles, explorando os seus defeitos e virtudes e assistimos ao seu desenvolvimento em conjunto até se tornarem numa equipa a sério.

Enquanto em Mighty Morphin a única coisa que os distinguia era o facto de usarem todos as mesmas cores dos seus uniformes (de personalidade eram praticamente idênticos e de atitude tinham pouco ou nada), aqui todos são distintos. O Jason é rebelde, mas justo e leal, a Kimberly é atrevida, o Billy é autista, a Trini é homossexual e vive com uma família que não a compreende, e o Zack é destemido, embora o seja para esconder a sua angústia. Até mesmo o Zordon (interpretado por Bryan Cranston) é bem mais complexo que a sua contraparte dos anos 90, com a sua descrença nos Rangers e a sua atitude de superioridade. Até mesmo o Alpha 5 é bem mais interessante e não é irritante como o anterior.

Este filme é sobre os Power Rangers como os adolescentes por detrás das máscaras e não sobre os super-heróis que se tornam, e essa talvez seja a característica que dá mais força ao filme, mas que ao mesmo tempo lha tira. Durante o filme vemos várias tentativas dos jovens se transformarem, sempre sem sucesso, e só no clímax eles conseguem. Vemos muito pouco dos Rangers em ação, e pouco temos de esperar até vermos os famosos Zords. É interessante a batalha final, cheia de ação e comédia, e é interessante ver os Rangers a trabalhar em equipa a comandar o Megazord e derrotar o Goldar. Contudo, mesmo a apresentação dos Zords foi muito simples, não se soube o que cada um representava nem qual Ranger ficava com qual Zord (apesar de as cores tornarem a associação óbvia).

O diálogo podia ter sido muito mais bem trabalhado. Existem piadas um tanto mal colocadas, ou demasiado infantis, e para um filme que tenta ser mais adulto, tais piadas não encaixam bem. O product placement do Krispy Kreme é exagerado no terceiro ato do filme ao ponto de parecer que era a própria marca a apresentar os Power Rangers e não ao contrário. Gostei da Elizabeth Banks como Rita Repulsa, cuja aparência inicial era realmente repulsiva. No entanto, assim que conseguiu recuperar toda a sua força, ela tornou-se num daqueles vilões genéricos que, apesar das muitas oportunidades que têm para matar os protagonistas, preferem não o fazer, e este caso não é exceção.

Apesar de tudo, Power Rangers apresenta uma muito interessante origin story e evolui o conceito inicial e melhora aquilo que a série original nos anos 90 falhou em passar. Se é uma masterpiece? Claro que não, está muito longe disso. Se vai agradar aos fãs? Nem todos irão gostar das mudanças, mas certamente que a maior parte vai recebê-las de braços abertos. Até podemos apreciar a música original quando os Rangers aparecem com os Zords, e os atores originais que interpretaram a Kimberly e o Tommy aparecem num cameo perto do fim. Aparentemente, mais filmes estão a ser planeados, de forma a dar continuidade à história. Esperemos que os próximos títulos consigam estar à altura do que este capítulo inicial trouxe, e que tragam novas personagens, vilões e histórias interessantes.

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