Crítica | “Thor: Ragnarok”, de Taika Waititi

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Thor: Ragnarok é o 3º capítulo na trilogia do deus do trovão da Marvel.

Enquanto que nos dois anteriores filmes das aventuras deste lendário deus nórdico podem ter havido vários risos e situações humorísticas, o tom de ambos em geral era muito mais negro e mais sério como um todo do que o realizador Taika Waititi (What We Do In The Shadows, Hunt for The Wilderpeople) nos traz nesta louca aventura cósmica e fantasiosa, igualmente fiel às bandas desenhadas clássicas do personagem que deixariam Jack Kirby e Walt Simonson orgulhosos. Escrito por Eric Pearson, Craig Kyle and Christopher L. Yost, Thor: Ragnarok é sem dúvida um filme bem mais leve em termos de tom do que os seus predecessores, com imensos momentos para rir, por vezes à custa de qualidade e consistência no seu tom, mas não pensem por um segundo que este filme é uma “comédia”, embora certamente tenhas as qualidades, e os defeitos, de uma.

Waititi foi claramente capaz de trazer a este filme o seu estranho sentido de humor e o seu carisma encontrado nos seus trabalhos anteriores, embora agora familiar e consistente com os outros filmes no Universo Cinemático da Marvel. A mudança de tom até chega a ser bem vinda, mas é a inconsistência nos vários tons encontrados no filme que trazem problemas.

Felizmente há um elenco soberbo que se mostra imensamente confortável com a nova narrativa, e um trabalho deveras magnífico é encontrado nas personagens envolvidas no filme. Elenco este liderado por Chris Hemsworth, que regressa para liderar pela terceira vez num filme de seu nome, após provar inúmeras vezes como consegue vestir Thor como uma segunda pele e também como tem um excelente timing cómico. Aqui mistura ambos esses talentos com os ingredientes que recebe do argumento para fazer um delicioso prato que dá ao personagem toda uma nova dimensão. Tendo dito isto, a primeira cena do filme irá imediatamente deixar alguns irritados com a maneira como o herói lida com uma específica situação na qual se encontra. Felizmente no que toca a Thor isso é esquecido facilmente no resto do filme dada a naturalidade com que o personagem age, reage, fala e como todas as suas peripécias são aquelas que esperamos do numa escala muito maior.

A tapeçaria com que trabalha Ragnarok é certamente DIGNA de héroi dada a sua evolução desde o primeiro filme na sua saga, a Vingadores, O Mundo das Trevas e por fim A Era de Ultron. Eventualmente Thor encontra-se de novo em Asgard onde tem de confrontar o seu irmão Loki (Tom Hiddleston), o qual pensava que estava morto, num confronto que embora funcione narrativamente, poderá deixar alguns insatisfeitos dado o poder do final de Thor: O Mundo das Trevas. No entanto é o diálogo e a química entre os dois irmãos que tão brilhante é que parece que saem faíscas do ecrã quando os dois estão juntos no plano. Enquanto isto, o verdadeiro Odin (Anthony Hopkins) encontra-se na Terra, onde foi deixado por Loki num lar de idosos.

É aqui que, sem spoilar, nos deparamos com o esperado cameo de Doctor Strange (Benedict Cumberbatch),numa espetacular sequência que tem que ser dos mais simples, e no entanto, mais fiéis elementos que um filme baseado em BD’s pode adaptar. Isto é, a inclusão de um personagem heróico no mesmo universo, que na narrativa funciona como um encontro casual e de conveniência para ambos os personagens. O que serve para espelhar o quão cheio o universo da Marvel está, e para talvez esperarmos mais encontros destes, pois tirando o exemplo deste que falamos, deverá ser algo bastante natural e vulgar para os nossos heróis de depararem uns com os outros aqui e ali.

Damos aqui as boas vindas à tão esperada Hela (Cate Blanchett), a deliciosa vilã do filme que domina absolutamente cada segundo em que se encontra no ecrã, não só pelo calibre de Blanchett mas também pela substância que o argumento lhe oferece. Hela não é só mais uma vilã que fala mas nada faz, pois mal a vemos há uma diversidade de cenas de acção que demonstram o seu poder não só literal como figurativo. Desde o seu cabelo negro ao capacete que deixará fãs de Kirby com baba na boca resultando num visual único e digno de qualquer um que se queira chamar um “vilão”. Blanchett reina todos os segundos de ecrã sejam eles compostos por diálogo ou acção. Embora tenhamos de dar ao seu assistente Skurge (Karl Urban) um prémio para não só “O Personagem mais Inútil” mas também para “Maior Desperdício de um Grande Actor”, pois não haverá nenhum tipo de motivação para guiar este personagem na narrativa, assim como não haverá nada que  o faça a um nível literal.

Eventualmente, Thor acaba por se encontrar perdido em Sakaar, um planeta abundado por párias e indesejados de outras civilizações, o qual é dominado pelo louco e exuberante Grandmaster (Jeff Goldblum) que faz justiça ao seu personagem da banda desenhada, trazendo consigo todo o charme pelo qual o actor é conhecido, assim como as maiores e mais longas gargalhadas do filme.

Aqui, se não que em todo o filme, a sequência mais esperada é a gladiatorial batalha entre Thor e o seu colega de trabalho, o Incrível Hulk. Este tão esperado duelo é algo que só poderia ser imaginado ou sonhado até ao lançamento deste filme, a luta é bruta, é longa, fiel às acções e pensamentos de ambos os personagens, assim como os seus poderes, forças e fraquezas, e sem dúvida a pura definição do termo “entretenimento”. Hulk acaba por se ver novamente na pele de Bruce Banner (Mark Ruffalo), no que tem que ser uma das cenas mais emocionalmente pesadas do filme. Embora rápida é perfeitamente eficaz e diz-nos tudo que precisamos de saber à cerca do estado mental deste personagem, trazendo também um balanço perfeito não só entre a dualidade de Hulk/Banner mas também entre os dois heróis para deixar Thor brilhar sendo este o seu filme.

Nesta aventura conhecemos também Valkyrie (Tessa Thompson) que depois do seu trabalho neste filme ficará sem dúvida com a denominação de “icónica” dada a incrível personagem que nos dá a conhecer, a sua coragem, e a sua evolução narrativa desde o momento que a conhecemos até ao início dos créditos finais, trazendo também algo de novo à mitologia que já conhecemos de Thor, fazendo com que olhemos para traz com uma nova perspectiva.

O filme também inclui Idris Elba como Heimdall, que embora continue com um papel semi-pequeno tem sem dúvida mais para fazer em Ragnarok do que nos filmes anteriores.

O filme conta também com excelentes cameos que vão dar com o público a demorar cerca de 2 segundos a aperceberem-se que realmente estão a ver quem estão a ver.

A produção visual e a estética do filme é excelente e realmente merecedora de algum prémio, contando também com excelente uso de cor a todos os níveis que fazem o filme ganhar uma vida própria graças às suas diferente criaturas e ambientes. Os efeitos visuais e as batalhas, tanto de pequena como de grande escala, elevam este filme altíssimos patamares. Um filme divertidíssimo, sem querer que esta palavra de torne uma espécie de veneno, pois qualquer filme blockbuster ou comic-book, independentemente de tom, deve sê-lo.

É sem dúvida uma aventura de fantasia e acção, com comédia a servir de uma espécie de tempero, mas nunca se torna numa.

No entanto o maior problema de Ragnarok é como já foi falado, a inconsistência no tom aqui e ali, onde uma certa fala ou alguma intervenção são desnecessárias e até distraem do filme. Assim como o seu nome. Sem nada revelar, se chamássemos ao 3º capítulo da saga de “O Senhor dos Anéis” de “The Lord of The Rings: Mount Doom” o resultado seria o mesmo. O que pode parecer muito piquinhas, é uma adaptação e a própria história original não serem propriamente a coisa mais séria ou negra que se pode ler, e contudo, serem aquele mosquito que não nos deixa de incomodar.

Assim como a falta de urgência na narrativa, há uma grande e fantástica aventura a ser vivida, com Thor, Loki, Hulk e Valkyrie em Sakaar, mas quando damos por ela, falta-nos sentir a gravidade da situação que é o Ragnarok, e como alguns poderão saber, o que esta situação traz consigo.

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