Nunca ouviste falar de “Death Note”? Fica a saber mais sobre a história

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Com a adaptação norte-americana de “Death Note” prestes a chegar, muitas pessoas no Ocidente começam aos poucos a ouvir falar daquele que se tornou numa das séries de manga (e anime) mais famosas no Japão e à escala mundial.

Se nunca ouviste falar na história escrita por Tsugumi Ohba e ilustrada por Takeshi Obata, este artigo introduz-te a este thriller intenso.

O mau, o bom e o caderno

“Death Note” conta a história de Light Yagami, um estudante japonês que parece ter um futuro brilhante à sua frente. No entanto quando o jovem encontra um misterioso caderno largado no mundo dos humanos por um Shinigami (palavra japonesa para “Deus da Morte”) a sua vida toma um novo rumo quando descobre a principal característica deste objeto: o Death Note mata qualquer humano cujo nome seja escrito nas suas páginas.

“The human whose name is wiritten in this note shall die.”

Light resolve usar o caderno para aplicar a sua própria noção de justiça e começa a eliminar criminosos em todo o mundo, visando tornar-se, pelas suas próprias palavras, “no Deus do novo mundo”. Contudo, as suas atividades não passam despercebidas aos olhos da Interpol que rapidamente desconfiam que um serial killer está a provocar as execuções. Assim, a organização deixa nas mãos de L, considerado como o melhor detetive do mundo, a missão de capturar e executar Kira (alcunha do criminoso, referente à pronúncia japonesa da palavra inglesa “killer”).

O que se segue é um jogo intenso de gato e rato entre o melhor aluno do Japão e o melhor detetive do mundo, no qual serão colocadas em causa uma série de questões éticas face às intenções de ambos os protagonistas. Conseguirá Light criar um mundo novo? Ou irá a justiça prevalecer pela mão de L?

Um jogo com regras

Muitos apontam como principal razão da popularidade de “Death Note” o facto de mexer em várias questões éticas (entre as quais a principal “É correto matar um assassino?”) assim como a relação tensa e interessante que se desenvolve entre Light e L à medida que ambos trabalham para se tramarem um ao outro.

Contudo Light tem do seu lado uma arma poderosa. Não só o caderno consegue matar uma pessoa, como ainda tem a capacidade de controlar as ações da pessoa antes da morte. A desvantagem? Para que uma pessoa morra, o dono do caderno tem que saber o rosto e nome verdadeiro do alvo. E L tem vários truques na manga para evitar que a sua verdadeira identidade seja revelada.

A personagem Light Yagami aparece frequentemente em posições altas nas listas de “Melhor Vilão de Anime”, chegando várias vezes a ultrapassar Freeza de “Dragon Ball Z”. O estudante apesar de ter nascido e crescido num ambiente familiar normal, mal coloca as mãos no Death Note, torna-se num sociopata frio, calculista e meticuloso que não olha a meios para atingir os seus fins, nem que tenha que eliminar quem se meta no seu caminho, ou até quem é seu aliado.

No entanto são várias as características que o antagonista tem em comum com o seu rival. L chega a ser mais perspicaz do que Light, tendo do seu lado uma grande capacidade de dedução. L é o favorito de muitos fãs não só pelo facto de as suas ideologias serem opostas às de Kira, mas também pelo seu feitio introvertido e forma única de ser que o distingue das outras personagens.

A história dá bastante foco às decisões tomadas pelos dois protagonistas, envolvendo-nos numa trama tensa e cheia de reviravoltas levando a vários momentos dramáticos e até trágicos.

Netflix será responsável pela quinta adaptação

Além do manga (lançado em 2003 pela revista Shonen Jump, na qual foi publicado mensalmente até 15 de maio de 2006), a icónica série de anime foi produzida pela Madhouse, tendo um total de 37 episódios. Foi emitida de 2006 a 2007 no Japão e nos anos que se seguiram passou para outros continentes, onde ganhou uma enorme legião de fãs.

Pouco antes do anime ter sido emitido, um filme live action japonês foi lançado. Curiosamente na altura a história do manga não estava concluída e foi das raras vezes em que um live action foi lançado primeiro que um anime. O filme foi produzido pela Nippon Television e distribuído pela Warner Brothers. A interpretar Light esteve Tatsuya Fujiwara (“Battle Royale”) e L foi representado por Kenichi Matsuyama (“Norweigian Wood”).

A continuação, intitulada “Death Note: The Last Name” foi lançada no mesmo ano, na altura em que o anime já estava a ser emitido. Após o encerramento do filme foi lançado um spinoff focado em L, de nome “L: Change the World” e mais recentemente foi lançada uma continuação em 2016, intitulada “Death Note: Light Up the New World”. O anúncio deste último filme surgiu após o final da mini série televisiva que tinha sido emitida em 2015.

Lançada em 2015, a mini série televisiva apresentou uma nova precisa com as mesmas personagens, no entanto a narrativa teve diversas alterações na história (particularmente na backstory de muitos personagens e no desenvolvimento da narrativa) e um total de 11 episódios. Nesta nova versão Light Yagami foi interpretado por Masataka Kubota e L por Kento Yamazaki. 

https://www.youtube.com/watch?v=lQD5mPUKd5U

Entretanto, novamente em 2015, estreou no Japão e na Coreia do Sul um musical baseado na história. Curiosamente as canções originalmente foram escritas em inglês pelo compositor da Broadway Frank Wildhorn, no entanto, até ao momento não foi anunciada qualquer intenção de trazer o espetáculo para os palcos ocidentais.

Death Note: Há quase 15 anos a causar impacto

A história já conta com mais de uma década de vida e uma popularidade notável um pouco por todo o mundo. Neste momento o manga ocupa o décimo lugar no ranking de “Melhor Manga de Sempre”, de acordo com um inquérito conduzido pelo Ministro da Cultura do Japão em 2007. Recebeu ainda um Eagle Award para “Manga Favorito” em 2008, que contou com os votos de milhares de pessoas no Reino Unido.

Além dessa classificação recebeu várias nomeações, especificamente para “Melhor Manga” nos American Anime Awards de 2006,  em 2007 para um prémio cultural Tezuka Osamu, uma seleção oficial no  Angoulême International Comics Festival.

Em Portugal o anime foi emitido pela primeira vez no Animax e na Sic Radical, sendo atualmente possível ver a série completa pela Netflix. O manga foi traduzido para português de Portugal pela Devir Manga.

No entanto com a sua popularidade seguiram-se uma série de controvérsias. O manga foi banido da província de Liaoning, na República da China, em 2005 quando vários alunos começaram a criar as suas próprias versões do caderno e a escrever nomes de professores, colegas e outros conhecidos. Em 2010, nos EUA, o estado do Novo México foi abalado por uma votação em massa para banir “Death Note” das suas escolas públicas, no entanto a votação não conseguiu levar a sua intenção avante. Na Rússia, em 2013, após uma rapariga de 15 anos se ter suicidado e vários volumes do manga terem sido encontrados na sua mochila, vários pais juntaram-se numa campanha dirigida a Vladimir Putin, com o objetivo de ser imposta uma mediação relativamente a qualquer referência (fosse em manga, séries televisivas ou referências na comunicação social) a “Death Note”. No entanto, em 2014, a campanha não continuou após uma investigação ter concluído que o manga não teria sido o principal causador do suicídio da jovem.

Além destas intervenções “Death Note” também inspirou um homicídio. Em 2007 na Bélgica foram encontrados restos mortais de um jovem caucasiano. Ao lado do cadáver estavam duas notas que tinham escritas a frase “Watashi wa Kira dess”. Esta frase, além de mal escrita, era uma alusão a uma citação da série, cuja tradução é “Eu sou Kira” (私はキラです Watashi wa Kira desu). O crime durante anos não teve suspeitos, até ao ano de 2010, no qual quatro pessoas foram detidas por ligações ao homicídio. Este caso ficou conhecido na Bélgica como o “Mangamoord” (tradução: o “Assassino do Manga”).

O que se pode esperar da adaptação norte-americana

Naturalmente irão ocorrer mudanças na narrativa, algo que a minisérie já fez, particularmente com as histórias pessoais das personagens. Com uma transição de cenário do Japão para os EUA, este tipo de mudança é natural e refrescante de modo a que a o espectador não esteja sempre a pensar na narrativa original enquanto vê esta nova versão.  Mas, claro, a qualidade da história também dependerá da “força” ou “fraqueza” da narrativa.

A julgar pelo trailer esta narrativa parece dar maior ênfase ao fator “ação” do que ao fator “diálogo”. “Death Note” sempre teve uma fama de ser uma série com bastante diálogo e muitos jogos mentais, algo que o trailer dá pouco a entender ao mostrar partes cheias de adrenalina. Não que a história original não tivesse os seus momentos mais intensos, contudo este trailer dá a impressão que a narrativa vai apostar mais em ação.

O essencial é que o conceito da história seja mantido: um rapaz descobre um caderno que pode matar pessoas, vai testando o que consegue fazer com ele e vê-se envolvido num jogo de gato e rato com um detetive excêntrico que o que trazer à justiça ao mesmo tempo que o próprio rapaz começa, aos poucos, a enlouquecer. A meu ver qualquer novo twist que ocorra será bem vindo, visto que se trata de uma história onde o suspense predomina.

Naturalmente não poderia terminar este artigo sem fazer alusão ao fator racial que tem provocado inúmeras discussões acesas desde o lançamento do último trailer. Uns criticam antecipadamente a série por não ter atores asiáticos, outros sentem-se insultados por a raça de L ser diferente (à semelhança da polémica que ocorreu quando Noma Dumezweni foi escolhida para interpretar Hermione Granger na peça de teatro “Harry Potter and the Cursed Child”).

Por um lado não posso deixar de achar que os fãs acérrimos do anime estão a ser de certa forma superprotetores (e devo dizer exageradamente reacionários) face a uma história que, do seu ponto de vista, foi aperfeiçoada pela adaptação em anime. Por outro lado após determinados fracassos, particularmente referindo-me à adaptação de Hollywood de “Dragon Ball”, é normal que muitos temam que esta história também vá ser ridicularizada.

https://www.youtube.com/watch?v=hdxz2htgPiQ

Relativamente à questão racial, tal também tem uma razão de ser: um ator de origens asiático-americanas, Edward Zo, tentou ir ao casting para ficar com o papel de Light. Foi rejeitado porque a intenção não passava por incluir uma personagem asiática para o papel. A situação constrangedora, desde 2015 que tem causado algumas reações indignadas até mesmo da parte dos japoneses (que mesmo assim não levantaram o mesmo tipo de polémica que os fãs no ocidente).

Contudo irão os fãs da história original reagir bem a esta nova versão da história assim que o filme estiver disponível? Ou irão as baixas expectativas estar corretas? Só em agosto saberemos.

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