Amar. Casar. Recomeçar | Como arruinar uma comédia romântica

Amar. Casar. Recomeçar é mais um filme que se enquandra na permissa de "e se?", mas cujo argumento aborrecido e previsível estraga tanto a comédia como o romance que poderiam existir neste filme.
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Amar. Casar. Recomeçar é a nova comédia romântica da Netflix que rapidamente se tornou popular. Mas nem a dupla Sam Claflin e Olivia Munn conseguiram salvar esta história previsível e aborrecida.

Brincar com timelines pode ser divertido, principalmente se tivermos as personagens dos filmes a repetir sempre os mesmos ciclos. Para quem é fã destes loops infinitos, filmes como O Feitiço do Tempo, com Bill Murray ou a série Russian Doll, com Natasha Lyonne podem ser uma boa opção. Infelizmente, Amar. Casar. Recomeçar não entra nesta categoria de boas opções…

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A comédia romântica da Netflix é um remake de um filme francês Plan de Table, que explora a ideia clássica de “e se fizessemos tudo outra vez mas diferente?” O realizador/argumentista Dean Craig (do filme Morte num funeral) reconstrói este filme de uma maneira bizarra e sem sentido.

Tudo começa com aquela frase que NENHUMA noiva diz “nada pode estragar este dia”. Honestamente, quem é que diz isto? É aquela frase clichê inserida neste tipo de filmes para depois se desencadear uns eventos catastróficos.

Há muitos problemas com este filme. Personagens unidimensionais, cenas completamente aleatórias, humor básico, diálogos forçados… Mas talvez o maior erro deste filme seja o facto do espectador não conseguir dizer “estes dois definitivamente estão destinados um para o outro!”. Não é isto que uma comédia romântica devia ser? Um filme que, apesar de todos os altos e baixos de um casal, eles acabam juntos e são felizes para sempre? Amar. Casar. Recomeçar é um filme que deixa o público dizer “sim, isto poderia ter acontecido… Sei lá.”

A noiva deste filme é Hayley (Eleanor Tomlinson), uma personagem nada convincente e com um sorriso falso e o noivo é Roberto (Tiziano Caputo). A única coisa que sabemos de Roberto é que é italiano (deve ser por isso que fazem o casamento em Itália, não é?). Mais nada. Desenvolvimento de personagem não é propriamente o forte deste filme. O casamento destes dois é narrado por Penny Ryder, numa tentativa falhada de nos dizer que o final “viveram felizes para sempre” é tudo uma questão de sorte.

Sam Claflin é Jack, irmão de Hayley que tem uma pequena crush por Dina (Olivia Munn), uma jornalista e convidada do casamento. Há 3 anos, Jack e Dina conheceram-se em Itália, passaram uns dias juntos e quase se beijaram… Mas não. Agora, no casamento de Hayley, ambos estão solteiros (uau, que sorte?) e prontos para voltar ao jogo. Mas as tentativas para este casal se reconectar são sempre interrompidas (alerta clichê).

Um ex-namorado que interrompe o casamento é um dos desastres (alerta clichê outra vez). Jack Farthing é Marc, que tenta a todo o custo forçar Hayley a ficar com ele. Apesar de não ter sido convidado para o casamento, obviamente, ninguém o expulsa e até lhe arranjam um lugar na mesa… É mais uma daquelas cenas que o espectador fica “a sério? Sim, acho que pode acontecer… Sei lá”. Outro desastre é Hayley sugerir a Jack para drogar Marc e assim ele fica a dormir e não se torna um inconveniente. Mas depois de colocar um comprimido no copo de Marc, vemos algumas crianças a brincar e a mudar os nomes dos convidados na própria mesa… E assim o copo com o comprimido pode parar nas mãos de qualquer pessoa daquela mesa.

Vamos aqui só reflectir um pouco sobre como Hayley conseguiu pôr de quarentena o pior grupo do seu casamento numa só mesa. Jack, o seu irmão (que claramente deveria sentar-se com a noiva, não era?); Dina; Marc (por algum motivo ainda aqui); a ex-namorada de Jack, Amanda (Freida Pinto); o namorado de Amanda, Chaz (Allan Mustafa); Rebecca, amiga da noiva, Sidney (mais à frente falamos melhor dele!), e Bryan (Joel Fry), o melhor amigo de Hayley e “dama-de-honor”.

O filme é dividido em duas partes: primeiro, o comprimido é tomado por Bryan. Bryan, arranja inexplicavelmente uma desculpa para sair de cena e cortar o cabelo 10 minutos antes da cerimónia. Sim, nenhum melhor amigo da noiva seria capaz de fazer isto. Foi só descabido e sem sentido. Depois, é uma personagem tão oca que só pensa neste casamento como uma oportunidade de brilhar em frente a um conhecido realizador que está também presente. Obviamente que, drogado e a fazer o seu discurso, tudo corre mal. Passando à frente.

A narradora entra outra vez em cena para relembrar que este poderia ser um cenário possível. Depois de uma montagem, onde podemos ver outros resultados possíveis que não foram explorados, a segunda parte do filme começa… E é Jack quem toma o comprimido.

O final da primeira parte, que começa com Bryan a tomar o comprimido e o final da segunda parte, com Jack a tomar o comprimido são ambos arbitrários. Não sabemos qual dos dois aconteceu, o que deixa o espectador comum insatisfeito e confuso. Não é bem este o sentimento que esperamos quando acabamos de ver uma comédia romântica. A segunda parte tem um final muito mais feliz do que a primeira, mas faz transparecer que Jack e Dina não estavam destinados um para o outro, a sua relação não foi trabalhada nem merecida. Foi um mero acaso.

Amar. Casar. Recomeçar também não faz grande sucesso com o seus cenários e guarda-roupa, especialmente sendo um casamento gravado em Itália. Não devia ser tudo cheio de flores, passeios pelos jardins e sol? Não me convenceu muito. A banda sonora parece que saiu de uma lista do Spotify chamada “Clássicos italianos aleatórios que servem para qualquer ocasião” e foi colada em algumas cenas aleatórias. Talvez as interacções forçadas e cansativas entre as personagens, os momentos supostamente de tensão que acabam por ser aborrecidos e o facto de Chaz estar sempre obcecado em comparar-se a Jack tiraram-me a vontade de apreciar os aspectos técnicos do filme.

Vamos a uma menção honrosa? Sim, nem tudo neste filme foi mau! Tim Key salvou alguns momentos do filme com a sua personagem Sidney. Sidney é suposto ser aquela personagem tipo Sheldon Cooper (sem ofensa, Sheldon), socialmente inapto e que interrompe constantemente os momentos de Jack e Dina. O timing das suas piadas, os comentários e a sua expressão facial até acabam por ser um bom entretenimento… E Marc consegue, na segunda parte do filme, ter um momento de redenção em frente a toda a gente. Curiosamente, este filme conseguiu tornar estas duas personagens, os intoleráveis do casamento, no seu ponto mais alto. Estranho.

Amar. Casar. Recomeçar estreou a 10 de abril na Netflix, mas não vale assim tanto adicionar à lista de conteúdos a ver… Nem mesmo para os fãs da beleza de Olivia Munn ou Sam Claflin.

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