O fim aproxima-se para “Better Call Saul”

"Better Call Saul" terminou esta semana com o episódio 'Algo Imperdoável', marcando o início do fim para uma das melhores séries dos últimos anos.
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“Better Call Saul” terminou esta semana com o episódio ‘Algo Imperdoável’, marcando o início do fim para uma das melhores séries dos últimos anos.

“Breaking Bad” é considerada por muitos como a melhor série televisiva já produzida. Tal como muitos eu partilho da opinião. A série no seu conjunto é uma constante de adrenalina na qual as personagens são constantemente postas em situações de perigo. Breaking Bad é permeado por tensão em quase todos os episódios e é marcada não só por excelentes performances, mas também por uma realização que aposta numa cinematografia com ângulos fora do comum que atribuem à serie uma camada extra de personalidade.

O homem responsável pelo desenvolvimento de tudo isto é o showrunner Vince Gilligan, que antes de trabalhar nesta série escreveu alguns episódios da série “The X-Files”. Após o fim de “Breaking Bad” foi anunciada a chegada de uma série sobre o advogado Saul Goodman (Bob Odenkirk), uma prequela que conta a história de Saul antes de este se tornar o advogado de Walter e Jesse em “Breaking Bad”.

O que mais me surpreende em “Better Call Saul” é o facto de ser uma prequela que se sustenta por ela mesma. Na sua grande maioria, este tipo de filmes ou séries encontra-se mais preocupado em ligar a sua história à série original ao invés de fazer uma obra com identidade. Talvez o maior exemplo seja a trilogia “The Hobbit”, cuja constante referência ao Anel e a introdução de personagens de “Senhor dos Anéis” não presentes no livro “The Hobbit”, acabam por preencher o filme com fan service desnecessário e com pouco contributo à história.

Tal não acontece em Better Call Saul. Eis que nos chega a sua quinta temporada e a série continua a surpreender. Após a morte de Chuck (Michael McKean), irmão de Jimmy, este finalmente muda o seu nome para o conhecido Saul Goodman. Esta mudança marca o momento da série no qual a história cada vez mais se aproxima de “Breaking Bad”.

A começar por Jimmy. Após a morte do seu irmão este tenta reinventar-se ao mudar de nome. Jimmy começa a aceitar pequenos casos apesar da oferta de Howard para trabalhar como seu parceiro na empresa HHM anteriormente presidida por Chuck, o seu irmão. Contudo, Jimmy vê isto como uma ofensa, após todo o conflito que ouve entre ambos na temporada passada, ele culpa Howard da morte do seu irmão e não se deixa ficar. Desta forma ele faz de tudo para prejudicar a carreira de Howard, chegando a convidar prostitutas para se infiltrarem em jantares de negócios e prejudicar a imagem de Howard. Nesta trama, a série explora um lado mais frágil de Saul no qual ele se apercebe do quanto perdeu ao longo da sua jornada e do pouco com o que se contenta, levando-o a envolver-se em negócios perigosos, os quais geram alguns dos melhores episódios da série.

Mike (Jonathan Banks), outra das personagens da série mãe, começa a trabalhar a tempo inteiro para Gus (Giancarlo Esposito) após ter feito alguns trabalhos para ele nas temporadas passadas. Juntos, estes manipulam Nacho Vargas (Michael Mando) para que ele se infiltre na gangue do grande antagonista da série Lalo Salamanca (Tony Dalton). Cada vez mais Mike embrenha-se na escuridão inerente ao seu trabalho com Gus, que o leva a envolver-se em trabalhos cada vez mais violentos. Contudo, existe bondade nesta personagem. Tudo o que ele faz, este fá-lo pela sua família. Os seus olhos olhos revelam um constante cansaço e pesar pelo peso que este carrega em cima dos ombros. Consequentemente ele tenta ajudar Nacho, aproveitando todas as oportunidades que tem para tentar convencer Gus a libertá-lo, mas este sempre arranja alguma razão para o manter.

Outra ótima personagem da série é Kim (Rhea Seehorn) cujo tema nesta temporada foi sem sombra de dúvidas independência. Ao trabalhar como advogada para a empresa Mesa Verde esta apercebe-se do mal que a empresa inflige após quererem comprar o terreno de um homem que não aceita remover a sua casa para que a empresa possa construir outro banco. Desta forma Kim apercebe-se que toda a sua luta, resiliência e obsessão explorada nas temporadas anteriores, de nada servem se o seu serviço estiver às mãos de uma empresa cujos meios não justificam os fins. Desta forma ela põe-se à prova, trabalhando com Jimmy nas costas da sua empresa e colocando a sua posição na empresa em risco. Contudo a série não esconde o lado imperfeito da personagem. Kim possui uma luta interior constante entre manter-se fiel aos seus clientes e fazer o bem, o que acaba por gerar algum atrito com Jim, após este agir contra a empresa sem o seu conhecimento. Kim é uma personagem complicada, contudo bastante interessante e um ótimo contraponto para Saul.

Talvez o ponto mais alto desta temporada sejam os três últimos episódios, que na minha opinião foram dos melhores que a série já alguma vez produziu. Isto deve-se sobretudo ao grande vilão Lalo Salamanca interpretado por Tony Dalton. A personagem entra em cena de forma calma e com um sorriso nos lábios de quem está sempre em controlo. Até quando Lalo está atrás de barras, o seu carisma demonstra uma confiança tal que qualquer personagem a seu lado transpira de medo. Destaque para o nono episódio, no qual Lalo visita Kim e Jimmy numa cena em que este obriga Jimmy a contar o que aconteceu quando foi buscar o seu dinheiro. Uma cena de tensão inigualável a qualquer outra da série até então. Melhor que isto é a sensação de constante perigo proveniente da presença de Lalo. Durante toda a cena, eu pensei que as personagens podiam ser mortas a qualquer hora, em especial Kim que protege Jimmy a todo o custo e convence Lalo de que este está a contar a verdade. O facto de Lalo simplesmente se ir embora, cria um senso de insegurança que permeia o episódio final e com certeza será um dos grandes pontos de atenção da próxima e última temporada da série.

“Better Call Saul” entrega mais uma temporada repleta de excelentes performances, uma ótima construcão de personagens e cinematografia deslumbrante. Mais uma vez, esta prequela demonstra o quão rico o universo de “Breaking Bad” é, ao montar uma história que funciona tanto para os fãs da série original como para espectadores à procura de um bom drama.

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