Crítica: “Dunkirk” de Christopher Nolan

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Nunca tive tanta dificuldade em perceber se gostei de um filme ou não como desta vez, ao ponto de ter de recorrer às versões IMAX e 4DX para tomar uma decisão final…

Tal como escrevi na minha pequena bio para o site do Cinema Pla’net, o filme que realmente despertou o meu fascínio pela indústria cinematográfica foi “O Cavaleiro das Trevas”, o filme que colocou o realizador Christopher Nolan claramente nas luzes da ribalta de Hollywood, pois o mesmo ainda hoje é aclamado como o melhor filme do género ou até um dos melhores filmes de sempre. Por isso, é normal que tenha seguido a carreira do homem desde então, sempre com um grande entusiasmo de ver que nova grande experiência iria ele trazer para o grande ecrã… Até que chegou “Dunkirk”.

Eu já estava um pouco insatisfeito com o casting de Harry Styles no filme, por motivos bastante óbvios. Depois foram lançados os trailers, que nem sequer me cativaram o suficiente para ficar com o normal entusiasmo para um filme deste calibre. Para concluir, quando soube que o filme ia ter uns meros 106 minutos, só podia pensar que haveria algum tipo de engano, até que foi confirmado o contrário, deixando-me ainda mais com o pé atrás, visto que os filmes do Nolan, desde que começou a fazer filmes para a Warner Bros., normalmente têm mais de duas horas.
Mas eu tentei não me deixar levar por essas coisas… Como é do Christopher Nolan, presumi que ele tinha as coisas mais que sobre controlo, por isso, apenas esperei para ver o resultado final.

Assim que o filme concluiu, fiquei uns minutos especado a olhar para o ecrã IMAX a pensar o que achei. Sentia que tinha gostado do filme, mas ao mesmo tempo não me sentia satisfeito. Como se estivesse à espera de algo mais que faltava, o que não podia ser porque já tem todas as cenas que precisa para nos meter agarrados à cadeira, à espera que a sala exploda de tanto barulho (quem for ver o filme neste formato saberá do que falo).
Acabei por no dia seguinte ir ver o filme mais uma vez, desta vez em formato 4DX, e sai do filme um pouco com a mesma impressão que tive na primeira vez que tive em IMAX.

Por isso, o que posso eu dizer sobre Dunkirk? É um bom filme? É uma obra-prima do género, como tanta gente diz ser? É o melhor filme de Christopher Nolan, como também já se ouve dizer?

Posso começar por dizer que o filme é perfeito a um nível técnico, e que é a melhor experiência IMAX que provavelmente terão a oportunidade de ter este ano. Christopher Nolan mostrasse mais uma vez o mestre dessa tecnologia, e Hoyte Van Hoytema mostrasse mais uma vez capaz de conseguir acompanhar Nolan com uma cinematografia que nos deixa deslumbrados, especialmente em cenas aéreas, e o facto de ser tudo efeitos práticos e reais e nada de efeitos especiais com green screen e tudo mais, deixa-nos ainda mais maravilhados com o espectáculo que nos é apresentado.

E, apesar de a qualidade da imagem parecer um pouco gasta por vezes, o filme recupera na edição sonora, pois nunca vi um filme com um volume sonoro tão alto quanto este na sala IMAX. Tal como mencionei acima, mais parecia que a sala iria explodir com tanta vibração no chão e nas cadeiras, e até se sentia nos próprios ossos tamanha vibração. Por momentos achei que iria sair da sala surdo, por sorte não foi esse o caso.

A banda sonora de Hans Zimmer, desta vez, é bastante minimalista e repetitiva. Sabendo das capacidades que o homem tem para compor uma banda sonora, fiquei um pouco desiludido com este seu novo trabalho. Sim, ela soa melhor no filme que no disco em casa ou no carro, criando grande suspense e intensidade na atmosfera do filme, deixando-nos muitas vezes sem fôlego, mas ela pode tornar-se um pouco cansativa de ouvir.

A nível de personagens, não há muito a se dizer, porque a personagem deste filme é um todo: são os soldados e as pessoas que os vão ajudar. Não há nenhuma em especifico que se destaque, pois nenhuma tem um grande desenvolvimento no ecrã, mas isto é feito por um propósito, que é o facto de ninguém estar ali para fazer amizades e falar sobre a vida de uns dos outros. O próprio Christopher Nolan disse logo poucos meses antes do lançamento que o filme tem pouco diálogo porque o filme retrata apenas a sobrevivência dos 400.000 soldados, e é exatamente isso que o filme nos deu, fazendo com que, graças a um dos mais simples argumentos do realizador, não tenha a mesma estrutura que um filme normal do género. Se os soldados estão preocupados em sobreviver e chegar a casa, é óbvio que não vão fazer uma lareira e falar das vidas deles ou a cantar “Kumbaya” tipo escuteiros de mãos dadas, mas sim a fugir, a esconderem-se, a mal dormirem com medo… Isto tudo graças ao instinto de sobrevivência que os leva aos extremos para que possam ver o dia de amanhã.
Mas, não é por não haver personagens desenvolvidas no filme que quer dizer que também não há boas interpretações. Muito pelo contrário.
Todas as interpretações do filme, incluindo as dos novos atores que o Nolan foi buscar com o propósito de fazer com que nos preocupemos com estranhos que nunca vimos no grande ecrã, um risco muito grande para o realizador (sim, isto incluí o Harry Styles que, se continuar assim, é capaz de ser o próximo Jared Leto), estão quase 5 estrelas, sendo o Mark Rylance o grande destaque.

O que pode deixar algumas pessoas desiludidas é a maneira que o filme foi editado. Como o filme segue três narrativas ao mesmo tempo que se passam num tempo e espaço diferentes, até finalmente se interligarem no fim, as pessoas podem ficar um pouco confusas até esse ponto, fazendo com que não consigam acompanhar os acontecimentos.

Por isso, o que é que eu acho que falta neste filme? Sinceramente, ainda não cheguei a essa conclusão, pois este filme tem tudo o que se pode esperar de um filme do Christopher Nolan: uma excelente realização, boas interpretações, uma cinematografia de deixar boquiaberto, e uma banda sonora que sincroniza muito bem com os efeitos sonoros dos acontecimentos do filme que, apesar de cansativa, consegue aumentar o suspense e a tensão… mas não consigo deixar de sentir que este filme não passa de uma experiência cinematográfica que deve ser apreciada em IMAX, ou no maior ecrã possível o quanto antes, pois não o imagino a ser revisitado tanta vez como qualquer outro filme de Christopher Nolan após sair de exibição.

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