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Greenland – O Último Refúgio | Desastre global à escala familiar

Miguel Revel
  • Setembro 25, 2020
  • 5 min read

“Greenland – O Último Refúgio” coloca uma família no meio da extinção da humanidade, apresentando uma aventura eficaz e emocional.

Adiado indefinidamente nos EUA devido à pandemia, o filme chegou aos cinemas portugueses a 24 de Setembro e merece ser visto no grande ecrã.

“Greenland – O Último Refúgio”

greenland - o último refúgio

Nos anos ‘90 assistimos a uma vaga de filmes de desastre em Hollywood, de qualidade variável, mas sempre com grande espectáculo. Filmes como “Impacto Profundo”, “O Dia da Independência”, “Armageddon”, “O Cume de Dante”, “Pânico no Túnel”, “Vulcão”… todos eles blockbusters que foram permanecendo no imaginário coletivo depois de dezenas de repetições nas tardes televisivas de fim de semana.

Entretanto, nos anos 2000, à parte de Roland Emmerich, que ainda nos presenteou com “O Dia Depois de Amanhã” e “2012”, o cinema norte-americano de desastre ficou num estado dormente, e as obras mais interessantes do género passaram a surgir já nos anos ‘10 na Coreia do Sul e na Noruega.

Foco agora a minha atenção na Noruega, cujos “Alerta Tsunami” (candidato aos Óscares) e a sequela “O Terramoto”, são dois bons filmes de desastre, que dedicam mais tempo à vida familiar das personagens, fazendo-nos importar com elas, antes de ‘libertar’ o grande desastre. Uma fórmula simples, mas extremamente eficaz, aclamada na altura como uma ‘bofetada de luva branca’ ao cinema de desastre norte-americano.

Um desses filmes no imaginário recente é precisamente “Geostorm – Alerta Global”, com Gerard Butler, que nos apresenta ação desenfreada, mal editada e com efeitos visuais que deixam muito a desejar. Quando surgiram notícias de um novo filme de desastre com Gerard Butler, parecia que estávamos a caminho de mais do mesmo.

No entanto, para grande espanto, até parece que “Greenland – O Último Refúgio” aprendeu alguma coisa com o cinema europeu. Com realização de Ric Roman Waugh, que dirigiu Butler em “Assalto ao Poder”, o filme toma uma abordagem eficaz ao género.

Num ano em que já assistimos à gigantesca explosão de Beirute, aos céus laranja dos incêndios na Califórnia e ao estado de calamidade da pandemia, reconhecemos no filme vários elementos que o tornam muito mais forte e próximo da realidade, do que se tivesse estreado há um ano atrás. Agora, quando vemos as personagens no meio do pânico geral, com os céus em tons laranja e a serem atingidos por potentes ondas de choque, já não nos parece tão afastado da vida real.

“Greenland – O Último Refúgio” segue uma família em que a mãe (Morena Baccarin), recentemente, colocou o pai fora de casa (Gerard Butler), mas que acaba por dar-lhe uma segunda oportunidade, para preservar a ligação com o filho (Roger Dale Floyd).

Entretanto, um cometa despedaçado vai passar pela Terra e proporcionar um belo espectáculo quando um pedaço maior cair no oceano e o resto seguir caminho pelo universo fora. Mas afinal quando todos estão de olhos colados no ecrã da televisão, nada se vê a cair no oceano e de repente chega uma valente onda de choque.

As imagens seguintes nas notícias indicam que os cientistas previram mal o local de impacto e afinal atingiu o centro da cidade de Tampa, Flórida. Para além de que afinal, após a passagem pelo Sol, a rota do cometa alterou-se ligeiramente e os pedaços vão colidir na totalidade com a Terra, incluindo um deles, maior que o meteoro que levou à extinção dos dinossauros.

Uma das abordagens mais interessantes de “Greenland” é o facto de vermos todas as sequências de desastre do ponto de vista das personagens. Ou seja, se eles estão no local, o espectador presencia tudo, se aconteceu noutra parte do mundo, só vemos o que aconteceu por reportagens televisivas ou imagens de satélite do exército, consoante o que as personagens têm acesso naquele momento.

Tal como na vida real, quando há um desastre noutra parte do mundo, também só podemos ver o que aconteceu através da televisão ou da internet.

Este acaba por ser um método extremamente eficaz para o filme não se perder em ação desenfreada e manter o foco na família e na sua resiliência e união perante a catástrofe.

Em conclusão, os efeitos visuais são de boa qualidade proporcionando cenas de desastre realistas, as personagens não são super-heróicas ou super-sortudas, e sentimos ao longo de todo o filme a urgência, o medo e o pânico por que estão a passar. Uma boa surpresa americana.

“Greenland – O Último Refúgio” estreou a 24 de Setembro em Portugal.

greenland - o último refúgio

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Miguel Revel
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Miguel Revel

Apaixonado por cinema desde criança, dos clássicos modernos de Nolan e Fincher às obras intemporais de Hitchcock e Welles. Licenciado em Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa. Colaborador do Cinema Pla'net desde Agosto de 2015.

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