LEFFEST ’17 | Ruben Östlund e “O Quadrado” que vale ouro

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Vencedor da Palma de Ouro, o realizador Ruben Östlund apresentou “O Quadrado” perante uma plateia cheia no Lisbon & Sintra Film Festival.

Abordando temas variados da sociologia, teorias comportamentais, experiências psicológicas e histórias verídicas, o realizador sueco também conhecido por “Força Maior” (vencedor do “Un Certain Regard” em Cannes e nomeado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro), falou ao Cinema Pla’net sobre a origem da cena mais forte do filme (cujo clip de uma parte da cena se encontra abaixo):

Eu adoro ver vídeos do Youtube. Várias cenas dos meus filmes acabam por ser inspiradas em vídeos do Youtube e a performance do macaco acaba por ser baseada em dois clips. Um deles vem de um artista punk-rock norte-americano G.G. Allin – “The Final Performance at the Gas Station” . Nunca vi um artista ou músico tão anarquista como ele. Durante as suas performances o público está aterrorizado porque ele faz tudo o que lhe apetecer. Não importa se és mulher ou homem. Não há regras! E a minha ideia quando estava a escrever esta cena é que queria um público muito bem vestido num jantar muito chique. Estariam sentados, a começar a comer, quando repentinamente G.G. Allin entra na sala. Adorei a ideia de o filme estrear em competição no Festival de Cannes, porque nos filmes em competição o público está sentado de smoking e veria um público sentado de smoking a ser assustado por G.G. Allin.

Depois há a outra parte, de eu achar muito interessantes os atores que interpretam macacos. Estava no Google à procura de “ator a imitar macaco” e encontrei o Terry Notary, artista de motion capture e grande amigo do Andy Serkis. E lá estava ele com o fato especial e os pontinhos todos a imitar macacos para o “Planeta dos Macacos” e com extensões de braços. O Terry dizia “Isto é um chimpanzé.” e andava exatamente como um chimpanzé. Era brilhante! E de seguida dizia “Este é o gorila.” e andava exatamente como um gorila. Para mim isso é o núcleo da representação, porque qualquer pessoa pode dizer, aquele/aquela é o melhor a imitar um macaco. Mas quando é para interpretar Hamlet precisamos de todo um background de conhecimento sobre o tema antes de podermos dizer “Essa é a melhor versão de Hamlet!” e depois as pessoas sentam-se a falar de maneira muito snob sobre isso. Quando a arte é reduzida a imitar um macaco chega-se ao estado mais puro da representação. E achei tudo aquilo tão interessante que decidi ligar-lhe e perguntar se aceitaria fazer de artista performativo no papel de macaco.

Também havia um texto que dizia: “Em breve serão confrontados com um animal selvagem. Como todos sabem o instinto de caça é ativado pela fraqueza. Se mostrar medo o animal vai senti-lo. Se tentar fugir o animal vai persegui-lo. Mas se permanecer totalmente imóvel, então pode misturar-se com a manada, salvo pelo pensamento de que qualquer outra pessoa vai ser a presa.” Este texto aponta para o bystander effect [efeito de testemunha] de quando há muitas pessoas num espaço público, não sabemos quem está a liderar e algo assustador acontece… ficamos paralisados. A razão de tal acontecer é porque pensamos “Não me levem a mim. Levem outra pessoa.” De novo numa abordagem sociológica o que fazemos é colocar a culpa em “Porque não tomámos responsabilidades? Que tempo é este em que vivemos? Porque somos tão egoístas?” Mas em vez de seguir um ponto de vista behaviorista ou sociológico, o texto abordava a temática como “Somos todos animais. Animais numa manada. Ficamos assustados quando algo assim acontece e não sabemos como lidar com a situação.” e é isso!

Portanto a cena era muito para sublinhar este bystander effect. Havia um set-up muito simples. Queria que ele entrasse na sala e a primeira coisa a fazer era descobrir o macho alpha. Quando encontra o macho alpha então é altura da reprodução e eu queria que o público vestido de smokings e vestidos, sentados ao jantar e tão civilizados no início, queria que se tornassem em animais loucos no final. Ninguém informou os extras do que iria acontecer. A ideia era ninguém saber o que os esperava na sala. E na primeira take eu estava muito atenta ao som porque os risos, as gargalhadas, as reações dos extras era genuína. Foi tão linda que usei esse mesmo som para cobrir a imagem das takes seguintes, porque depois acabámos por fazer não sei quantas takes!

“O Quadrado”, com Claes Bang, Elisabeth Moss e Dominic West estreia nos cinemas a 23 de Novembro, sendo um dos principais candidatos ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.

O Lisbon & Sintra Film Festival decorre até 26 de Novembro, com a presença de inúmeros convidados onde se incluem Isabelle Huppert, Robert Pattinson, David Cronenberg e Willem Dafoe.

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