Let’s Talk #72 – Agnès Varda por Rosalie Varda sobre “Varda por Agnès”

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Nascida a 30 de Maio de 1928, a icónica realizadora Agnès Varda terminou pouco antes de falecer o documentário “Varda por Agnès”. O Cinema Planet conversou com a sua filha Rosalie Varda.

Não é comum termos a oportunidade de ver um documentário em que o próprio autor explica os seus filmes…

“Varda por Agnès” é um filme que dá pistas para que as pessoas possam entender melhor como é que funciona o seu cinema. Para ela tudo se resumia a três conceitos: Inspiração, Criatividade e Partilha. O diferente conjugar desses conceitos permitia que cada narrativa fosse diferente, pois ela nunca queria repetir-se. Daí também ter caminhado constantemente entre fazer curtas-metragens e longas-metragens, que podiam ser de ficção, mas também documentários.

Acho que era importante para ela poder falar sobre o seu próprio trabalho, porque daqui a um ano, dois anos, três anos… haverá um documentário sobre ela. Mas aqui, neste filme, o mais importante é que ela dá muitas pistas de coisas que podíamos nem saber sobre ela e sobre os filmes que fez e é a voz dela, não é alguém a falar sobre ela.

O facto de ser Agnès Varda a falar sobre os filmes de Agnès Varda permite uma interpretação diferente de um espectador. Para além de que agora, tantos anos depois, ela conseguiu falar com mais maturidade sobre por exemplo “La Pointe Courte”, provavelmente melhor do que aquilo que ela poderia ter explicado na altura, porque agora passou pela vida. “Varda por Agnès” é um filme interessante porque mostra a energia da criatividade e dá às pessoas o desejo de sentir e pensar.

Ainda hoje muitos jovens cineastas vêem-na como uma referência…

Penso que os mais jovens vêem-na como uma referência porque ela tinha um espírito jovem e livre e não cedia. Nunca cedeu à publicidade e às grandes empresas. Foi sempre marginal ao sistema e penso que os jovens sentem isso e compreendem que quando olham para ela, não vêem uma mulher idosa, mas sim uma realizadora que tem algo relevante a partilhar com eles.

Como foi trabalhar com a sua mãe?

Não é difícil porque éramos muito boas parceiras, eu protegia-a e ela protegia-me. Tínhamos uma excelente relação. Tinha uma curiosidade nata e dizia-me “Tu não és curiosa o suficiente. Eu não sou preguiçosa, consigo fazer dez coisas num mesmo dia!” e isso foi uma boa lição que ela me deu.

Conheci a sua mãe há uns anos quando apresentou “As Praias de Agnès” na Gulbenkian, aqui em Lisboa, seguido de uma masterclass, tal como mostram em “Varda por Agnès” e ainda me lembro tão bem de tudo, ficou-me gravado na memória:

Porque não era uma velhota a dar uma palestre entediante! Quando vemos os filmes da Agnès Varda e a ouvimos falar sobre eles, sentimos que estamos perante uma alma matura mas com uma mente jovem. Ela era um espírito jovem e rebelde e livre, sempre em contacto com as outras pessoas, em constante viagem e conheceu tantas pessoas que estavam sempre a trocar impressões uns com os outros e ela encontrava sempre algo de interessante.

A obra permanece viva mesmo depois da morte do artista. Quando vemos um filme dela não dizemos – “É um filme morto.” – Não tem nada a haver com o facto de a minha mãe estar viva ou ter falecido. Um filme estará sempre vivo!

Como está a correr a apresentação deste filme por todo o mundo?

É ótimo. Sinto-me muito feliz e o facto de teres visto uma masterclass da Agnès há uns anos e agora tantos anos depois estarmos aqui a conversar sobre isso, posso afirmar “It makes my day!”

Vocês são a nova geração, vocês são importantes. São os jovens jornalistas e cineastas que dão vontade aos outros jovens de também irem ao cinema. Formam um elo de ligação entre os realizadores e quem vai ao cinema. Isto nem é só relativamente ao filme da minha mãe, estou a falar do cinema em geral. Sites como o vosso empurram os mais jovens a ver um filme. Têm de continuar a lutar pelos filmes independentes e por filmes que as pessoas podem passar ao lado, filmes que não têm nos bastidores uma grande máquina cheia de dinheiro a bombardear publicidade. Porque no final, quando entram no cinema e a sala fica escura e o filme começa, não há diferença entre ser antigo ou recente. É um filme.

“Varda por Agnès” está disponível em VOD e nos Canais TVCine (31 Maio, 12 Junho e 15 Junho – TVCine Edition).

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