Misoginia como Estratégia de Marketing: o caso de “Ghostbusters” (2016)

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A polémica referente a sexismo tem sido recorrente na Internet desde o lançamento do primeiro trailer do novo “Ghostbusters”.

No entanto serão os geeks fãs desta franquia realmente um reflexo de misoginia? Ou será este um argumento que, no fundo, acaba por ser usado como uma estratégia de marketing?

Não sou fã ferrenha de “Ghostbusters”, no entanto calhou eu ter visto primeiro trailer lançado em março, quando o tópico ainda era relativamente fresco. Mal terminei de ver não precisei de pensar muito para decidir que não iria ver isto no grande ecrã. Um trailer de um filme é como ter uma primeira impressão de alguém que acabamos de conhecer. Por muito que talvez se revele mais tarde que nos enganamos, é a primeira impressão que nos aproxima ou afasta de alguém (neste caso de um produto).

“Uma polémica estapafúrdia”

Porque não me atraiu este filme? Vou explicar a minha perspetiva por tópicos. Os efeitos? Péssimos! O acting? Constrangedor! A premisa? Uma paródia! A ideia de trocar os sexos aos personagens originais? Uma falta de investimento numa história nova! Nada neste trailer me convenceu que este será um filme que vai valer o meu tempo e dinheiro. No entanto, lá continuei com a minha vida a perguntar-me se o “Captain America: Civil War” valeria a pena ou se o “Batman vs Superman” não seria muito overrated.

Antes de ter visto ambos os filmes que referi anteriormente, comecei a ler notícias que arranjaram forma de surpreender: o trailer de “Ghostbusters” foi extremamente mal recebido (não me supreendeu) e a razão pela qual isso aconteceu, de acordo com várias fontes, era porque os fãs dos filmes originais eram uns machistas que não suportam ver mulheres como protagonistas de filmes… Esperem, o quê?!

O realizador Paul Feig tem andado ativamente a criticar os geeks que adoram os filmes originais, dizendo, basicamente, que são uns sexistas que não se conseguem deslargar do passado. Um crítico de cinema bem conhecido na Internet, James Rolfe, lançou um vídeo no qual ele refere que se recusa a fazer crítica ao filme. Pela simples opinião de se recusar a ver o filme, referindo praticamente as mesmas razões que eu salientei, foi atacado e apelidado de sexista.

“Sexismo no grande ecrã? Não é bem assim”

Antes de mais, custa-me a crer que a maioria das pessoas que não gostam desta nova premisa sejam todos (sem exceção) homens sexistas. Eu sou mulher e mesmo assim não me senti atraída pelo trailer. A mim parece-me extremamente contraditório que digam que ninguém gosta da ideia por a equipa ser de mulheres. Ninguém gerou polémicas quando foi revelado que a protagonista de “Rogue One: a Star Wars Story” seria uma mulher. “The Force Awakens” e a saga “The Hunger Games” foram um sucesso e ambos tinham uma mulher como protagonista.

maxresdefaultSe eu gosto de ver mulheres fortes no ecrã? Absolutamente! Mas gosto também que essas mulheres tenham um caráter que as torne únicas. Lembramo-nos de personagens como Hermione Granger, Leia Organa e Katniss Everdeen pelas suas ações e personalidades. Aliás a Hermione é a personagem favorita de muitos fãs de “Harry Potter”. E é mulher!

Contudo, se tiver que apontar um detalhe referente a sexismo seria à ideia deste novo filme introduzir uma “nova” equipa. Eu, pessoalmente, não sou adepta da ideia de trocarem sexos a personagens originais. Diz-se por aí que estão a ponderar fazer um filme de James Bond com uma mulher. Eu acho a ideia fraca. Porquê? Porque além de mostrar a criatividade cinematográfica a definhar, essa mudança não traz nada de novo à personagem exceto uma mudança de sexo.

ghostbusters_then_and_now-620x412Eu se vir esse filme não vou conseguir encarar essa “Jane Bond” como uma personagem original. Seria a mesma coisa se fizessem remake de, por exemplo, “The Hunger Games” e pusessem um rapaz no lugar de “Katniss”. Eu iria estar sempre a pensar na personagem original e o filme não me surpreenderia nem um pouco. O tal fator distintivo que referi anteriormente perde-se e a figura em causa não passa de uma personagem “copy + paste”.

“No fundo, acaba por ser uma estratégia”

Se formos a ver bem o que tem este novo filme ganho com a polémica relacionada com sexismo? Lá está o detalhe principal de uma polémica: é referida de forma recorrente e ainda para mais num meio global como a Internet.

Vários meios de comunicação social norte americanos têm alimentado a polémica. Alguns até chegam mesmo a adotar uma posição que sublinha a suposta “misoginia” em volta desta premissa. O Women in Hollywood sublinha o facto de muitos utilizadores salientarem o quanto detestam o trailer, mais o desafio de chegar a um certo número de “dislikes”.

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Portanto a estratégia que está a ser adotada é a seguinte: trocou-se o sexo às personagens originais de “Ghostbusters”; se alguém criticar joga-se a carta do sexismo; quem acaba por ficar mal vista é a pessoa que está a criticar. Apelando às emoções de muitas pessoas que querem lutar pela justiça social, esta fórmula acaba por garantir muita publicidade gratuita para o filme.

https://twitter.com/kumailn/status/726506947000819712

As reações das pessoas que não gostam do filme acabam por dar mais azo à polémica. São comentários que são usados como “prova” que o ódio vem de sexismo e de um suposto “ódio institucionalizado” contra as mulheres. O que é mais salientado são as reações mais “infantis” da parte das pessoas que não querem ver este filme e que desejam até que o filme fracasse nas bilheteiras.

O problema aqui é que essas infantilidades não refletem a posição de todas as pessoas que disseram que não querem ver o filme. Vários críticos, como é o caso de James Rolfe, apresentaram a sua posição de forma civilizada e racional. No entanto a “máquina de marketing” usada aqui salienta que aqueles que não forem ver o filme são sexistas que não querem ver mulheres em papéis principais, apesar de isso ser uma contradição tendo em conta o sucesso de outras franquias cujas protagonistas são mulheres (como já salientei anteriormente).

“A febre do Politicamente Correto”

Esta estratégia está a ter sucesso num ano no qual as polémicas que surgem de movimentos cujo fio condutor é o politicamente correto. Estes justiceiros sociais (muitos dos quais cidadãos comuns) querem de tal forma precaver-se contra injustiças, que eles próprios acabam ou por dar uma ênfase maior a essas injustiças ou criar novos problemas onde eles não tinham necessidade de existir.

tdy_tren_ghostbusters_150826.today-inline-vid-featured-desktopA questão aqui é: deveremos ver este filme só para não sermos apelidados de “sexistas” ou “misóginos”? A minha resposta é não. Ou vamos ver um filme porque a premissa nos atrai, ou porque preferimos ver um produto no seu todo antes de o julgar, ou até mesmo pela diversão de ir ao cinema. Ninguém, a não ser aqueles que vivam numa ditadura, tem a “obrigação social” de ir ver um filme!

Assim como as pessoas têm o direito de manifestarem desagrado por um produto enquanto houver a chamada Liberdade de Expressão. Uma pessoa tem direito a dizer aquilo que muitos não querem ouvir e tem de se responsabilizar por aquilo que diz. Se alguém, independentemente de gostar do filme ou não, tem uma reação infantil ou exagerada, isso acaba por revlar mais da pessoa em si do que propriamente da sua opinião.

No meu caso, eu muito provavelmente nunca verei este filme. Pode ser que me convidem para o ver, embora as minhas expectativas quanto à sua qualidade sejam (muito) baixas. O filme pode-me agradar ou não. No entanto, do meu ponto de vista, prefiro ver um filme original com uma personagem (homem ou mulher) com mérito próprio do que gastar tempo e dinheiro com filmes cujo sucesso foi alimentado por polémicas desnecessárias.

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