Motion Designer da “Imaginary Forces”, Alan Williams fala sobre Vinyl

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Imaginary Forces é uma empresa norte-americana que trabalha diretamente com grandes produtores de séries e filmes, neste Beyond The Title Art, conversamos com o Motion Designer Alan Williams sobre os seus trabalhos.

Alan Williams da “Imaginary Forces” fala sobre a sua mais recente criação

O Beyond The Title Art é um espaço dedicado a todo um mundo por trás desta arte que é os genéricos de séries e cinema. O genérico para mim é algo que quando vou ver um filme ou uma série não posso passar à frente (é regra), toda a imagética e a música imediatamente evidenciam o tom da narrativa e sou mais facilmente transportado para aquele mundo, para aquela história. Na minha opinião os genéricos são necessários para nos ambientarmos à série ou filme em questão.

Decidimos começar este espaço com uma referência no mundo do motion design, o Motion Designer Alan Williams que trabalha atualmente na Imaginary Forces, foi responsável pela criação do genérico de Vinyl. Alan esteve já nomeado para a categoria de “Outstanding Main Title Design” para os Emmy Awards.

Alan fala-nos um pouco sobre ti e sobre aquilo que tu fazes.

Alan: Vivo em Brooklyn, Nova Iorque com a minha mulher, Kerri. Sou diretor criativo na Imaginary Forces em Nova Iorque.

CG NYC SUBWAYQual é a tua experiência em arte e design?

Alan: Aos 28 mudei por completo a direção da minha carreira e entrei na Savannah College of Art and Design onde alcancei um MFA [Master of Fine Arts] em Motion Media Design. Fui contratado há cinco anos pela Imaginary Forces logo a seguir à formatura e ainda é lá que trabalho.

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Sei que a filosofia é uma parte da tua vida, sentes que isso influência a forma como desenvolves o teu trabalho?

Alan: O meu bacharelato é em inglês e filosofia e ambos desempenham um grande papel no meu desenvolvimento enquanto conceitualista/storyteller. Analisar as correntes da civilização e o pensamento ocidental muniu-me de informação significativa do que nos move enquanto humanos.

Fala-nos como é trabalhar nesta área, consideras uma área competitiva?

Alan: Sinceramente, eu adoro o meu trabalho. O tipo de trabalho que recebemos na Imaginary Forces é muito eclético o que é ótimo porque adoro aprender coisas novas! Um dia podes estar no set a filmar a publicidade de uma escova de dentes e no dia seguinte a construir miniaturas para uma sequência em stop-motion e depois à tarde a desenhar key art para billboards. Nunca há um momento em que fiquemos confortáveis ou entediados criativamente. A competição fará sempre parte desta indústria. Dependendo da perspetiva, tanto nos pode impulsionar e desafiar a tornarmo-nos melhores artistos, como pode despedaçar-nos a partir de um mínimo de dúvida e medo.

“Se tens mais experiência, encontra oportunidades de ensinar e encorajar aqueles que se encontram abaixo de ti. Se estás no início, encontra heróis com os quais possas aprender, aceita críticas e aumenta a paciência consoante a cronologia do teu sucesso. “

Fala-nos um pouco sobre o processo por detrás do desenvolvimento de um genérico de uma série televisiva por exemplo, como este que fizeste com a Imaginary Forces.

Alan: Cada projeto é diferente. Num trabalho podem pedir-me para produzir visuais para um argumento já desenvolvido, enquanto outro cliente pode ter mínimo se é que tem algum conceito desenvolvido, acabando por nos procurar em busca de soluções. Geralmente são os títulos que estão mais de acordo com o segundo caso, que é por isso que os adoro tanto.
Os realizadores e argumentistas de séries televisivas vivem e respiram a sua série. Querem que os genércos sejam impressionante mente evocativos e únicos e ao mesmo tempo têm de ser feitos dentro das barreiras daquilo que é o tom e a visão da série. Deste modo, o meu primeiro passo no desenvolvimento de uma sequência de títulos é ouvir e pesquisar.

Em nossa posse podemos ter um mero argumento do episódio piloto e uma chamada telefónica de 15 minutos com o realizador. O meu objetivo é o de verdadeiramente analisar e digerir aquele conteúdo antes de sequer avançar conceptualmente. Depois disso, como qualquer outra aventura criativa, procuro inspiração. Geralmente começo com música, encontrar uma canção que eu acredito poder encapsular o tom do programa e depois ouço-a repetidamente à medida que mergulho no meu oceano de murais de Pinterest, clips de filmes, citações, etc. até que encontro uma dúzia de “pérolas” que coletivamente guiam-me para um novo conceito. Enquanto realizador, antes de contratar artistas de storyboards ou gurus de style frame, tenho de me seguir por estas ideias soltas e ordená-las e poli-las de forma lógica e coerente. Começo a escrever e desenvolver o meu “treatment book” desde o dia 1. É incrível como algo pode parecer tão bom ou tão mau na tua cabeça, mas simplesmente por escrevê-lo ou juntar umas páginas de referência, pode ser visto de forma totalmente diferente. Nesse momento, peço ajuda. Existe um grupo seleto de pessoas na minha vida às quais recorre durante esta fase; a maior parte das vezes é por causa dessas interações que o esqueleto da minha ideia se ergue de um mínimo para algo real. Não consigo dizer mais que isto, devem partilhar com os outros e aceitar o seu feedback criativo… mesmo a vossa mãe pode oferecer um ponto de vista! É após a escrita e a caça de referências, que eu trago a minha equipa de artistas de storyboard, gurus do photoshop e animadores, para juntarem a carne ao esqueleto. Acho que nunca me vou cansar de ver ideias simples explodirem de vida nas mãos destes artistas brilhantes. Eu trabalho com os melhores do ramo e devo-lhes muito por qualquer sucesso que consegui obter.

Como é que é feita a transição do processo do design para a animação (movimento)?

Alan: Essa transição pode ser fácil ou difícil dependendo muito do calibre do designers que contratas. Se têm um forte sentido de movimento então os seus boards vão conter uma visão e soluções que apressam o processo. Estes boards são tipicamente editadas de acordo com a música por um editor, que também, se feito corretamente, pode oferecer um incrível sentido de timing antes de algo ser filmado e/ou animado.

Onde é que encontras a tua inspiração?

Alan:  Encontro muita da inspiração na minha experiência de vida. Flannery O’Connor escreveu:

“qualquer um que tenha sobrevivido à sua infância tem informação suficiente sobre a vida para durar o resto dos seus dias.”

Tudo desde uma má separação às cores do pôr-do-sol – se algo me tocou existe uma grande possibilidade de um elemento desse aconecimento encontrar um caminho para o meu trabalho. Quanto mais luto contra o cinismo e a arrogância, mais sou capaz de ver o “simples” e o “mundano” com um “olhar-de-criança” maravilhado. De repente, a magia está em todo o lado. Eu tento quanto me é possível viver um estilo de vida de observações – se algo me toca, coleciono-o e analiso-o profundamente. Quando esses momentos de magia acontecem ao longo do dia, grandes ou pequenos, levo-os muito a sério. A inspiração é mais potente à primeira, dái que tento sempre ter um papel e uma caneta (ou iPhone) por perto, para rapidamente expressar aquilo que senti. Nem sempre estou livre para encontrar inspiração tanto quanto gostava, seja na beleza de alguma fuga selvagem ou mesmo numa visita a uma galeria de arte… por tanto, como grande parte do meu tempo é passado atrás de um computador, considero o Pinterest um site brilhante para descobrir e organizar a inspiração. Sempre que encontro imagens interessantes ou frases, organizo-as num dos meus próprios murais do Pinterest… Tenho mais de 120! Posso apontar para vários deles e ver diretamente linhas de inspiração que se desenvolveram em títulos e publicidades que realizei.

Sei que recentemente estiveste envolvido no genérico da série “Vinyl”. Quais foram as dificuldades com que te deparaste durante a criação deste generico?

Alan: O primeiro desafio foi visualizar o mundo da música na cidade de Nova Iorque dos anos ’70 de uma forma inovadora e do agrado de Mick Jagger e Martin Scorsese. Como é que crias algo que faz mover não só os que fizeram parte desse movimento mas que igualmente foram os protagonistas do mesmo?

Fiz uma tempestade de ideias com a nossa brilhantes editora, Jessica Ledoux, e concluímos que queríamos explorar o impacto da música através de representações visuais de vibrações, dissonância, e até mesmo destruição. A música tem um impacto no modo como nos sentimos, muda ideias, cria revoltas. A mudança explosiva que ocorreu nos anos ’70 por causa destas pessoas, mudou a cidade de Nova Iorque e o mundo. Muita da música que tocava nos clubes noturnos de NYC era anti-prestigiosa, irreverente e fora de controlo. Queríamos que estes títulos transmitissem o mesmo.

Adorámos a ideia de desorientar a mudança de escalas, andar para a frente e para trás entre vibrações microscópicas e impactos tão grandes como os que abateram o teto de Richie Fenestra no episódio piloto.

Mas como poderíamos ver o impacto da música?

Uma das nossas grandes influências para a visualização das ondas de som surgiu nos anos ’60 num vídeo científico de Hans Jemmy a experimentar pó de licopódio e vibrações sonoras. Com diferentes frequências sonoras, o pó reagia, criando padrões orgânicos em forma de bolas. Às vezes parece que estás a ver o Grand Canyon vibrar e outras vezes parecem pó a movimentar-se aos círculos. É muito hipnotizante.

Inicialmente não queríamos mostrar sequer um gira-discos mas a Michelle Doughtery e o Zach Kilrou apresentaram-nos a ideia da mão que passa o braço do gira-discos de uma pista para a seguinte. A HBO achou que era uma ideia muito inteligente de incorporar o gravador. A Jessica encontrou uma fotos microscópicas da agulha do gira-discos com uma textura e relevo incríveis.

Semelhante a estar no meio de uma plateia agressiva durante um concerto de rock, apercebemo-nos de que a agula em movimento anda para a frente e para trás entre os canais esquerdo e direito das ranhuras do disco de vinyl. Isto criou um visual muito violento e permitiu-nos criar uma dissonância na passagem de umas ranhuras para outras, andando pela borda superior e depois saltar para uma nova pista. Outro desafio foi a tipografia.

Queríamos um tipo de sensação tão irreverente quanto anti-prestigiosa consoante os visuais que apareciam por baixo. O Jeremy Cox criou um look inspirado na estética dos posters fotocopiados e outras efémeras do anos ’70. Com ajuda adicional do designer e animador Henry Chang, a tipografia ganhou vida através do negrito, kinético e dos raios incisivos. Outro desafio foi lidar com os vários meios de filmar. Parte das filmagens era em 8mm, 16mm, VHS e ainda SLRs modernos.

Adorámos conectar os visuais das partículas a vibrar e os panfletos fotocopiados com o grão e degradação do filme em Super 8. Aquilo que os pedais de distorção faziam às guitarras elétricas, nós queríamos fazer isso com o filme que tínhamos em stock. E então focámo-nos num look cru, granulado e a preto e branco. Um desafio final foi produzir elementos que não podiam ser capturados ou obtidos em câmara: a parte das várias agulhas microscópicas. A adicionar a estas filmagens, a Bhakti Patel teve a tarefa de criar os metros de Nova Iorque dos anos ’70 e as filmagens de destruição com paredes a cair e pó a voar. Ela deu 100% em cada parte e estou ansioso de voltar a colaborar de novo com ela. A HBO confiou tanto em nós e o feedback foi excelente. Permitiram-nos fazer algo incrível.

Quais são os teus genéricos preferidos?

Alan: Para ser sincero, uma das sequências mais intrigantes para mim enquanto criança foi o pedaço em stop-motion do princípio de “Pee-Wee’s playhouse”. Eu adorava o impulso lunático pela floresta e o vôo pela sua casa eclética. Em miúdo produzia em mim aquilo que qualquer bom título deve fazer, preparar-me para o programa. Eu adoro o genérico que Stephen Frankfurt fez em 1960 para “Na Sombra e no Silêncio” (To Kill a Mocking Bird). Quase 60 anos após a sua criação, com composições inteligentes e uma mistura de som cativante, os títulos levam-me para um outro mundo e para o interior da mente e coração do Scout. São intemporais.

De todos aqueles trabalhos que estiveste envolvido, qual foi o teu favorito?

Alan: Tenho de dizer que foi o genérico de “Vinyl” na Imaginary Forces. A HBO foi tão confiante, deu-nos uma incrível rédea livre para explorar. Quando tiveram feedback foi brilhante. “Vinyl” foi um daqueles trabalhos de sonho em que te conectas com a equipa criativa e és capaz de construir algo realmente incrível.

Para terminarmos esta fantástica entrevista, que conselho podes dar para os Designers que estão a iniciar a sua carreira?

Alan: Comecem agora a estabelecer fronteiras e prioridades.

“Perguntem-se diariamente, é o meu trabalho mais importante do que a minha família e amigos, minha fé, ou a minha saúde?”

Como em qualquer carreira competitiva, sem uma perspetiva e controlo adequados, o sucesso pode consumir-nos. Temos de nos perguntar constantemente se a forma como trabalhamos é sustentável. Podes fazer dias de trabalho de 12 horas com recurso a bebidas energéticas durante alguns anos, mas será isso suficiente para te sustentar durante os próximos 5, 10 ou 30 anos? Trabalhar afincadamente, criar obras de cortar a respiração, mas nunca equacionar uma promoção ou um Emmy com outras áreas mais importantes da vida.

Muito obrigado Alan Williams por esta fantástica entrevista e por seres o nosso primeiro convidado nesta primeira edição do Beyond The Title Art.

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