Crítica: “Death Note” de Adam Wingard (Versão Netflix)

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Chegou finalmente a adaptação norte-americana da história baseada num dos mangas mais famosos de sempre. Marcada por várias controvérsias e expectativas baixas, “Death Note” da Netflix infelizmente fez jus a tal negatividade: fracassou em capturar a essência do material em que se baseia e apresentou-nos um filme fraco, confuso e com uma conclusão bastante incerta.

Desde que foi anunciada a adaptação americana de “Death Note”, os fãs têm mostrado perspetivas muito divididas. Após a saída do último trailer e de várias expectativas neutras e negativas terem assolado a Internet o filme finalmente estreou na Netflix. E embora hajam ocasiões nas quais as expectativas iniciais se possam revelar ou exageradas ou bastante erradas, neste caso revelaram-se (dolorosamente) corretas.

Light Turner (Nat Wolff), um jovem que vive em Seattle, recebe um misterioso caderno que lhe dá o poder de matar qualquer pessoa bastando escrever o nome nas páginas. Na companhia da sua namorada Mia Sutton (Margaret Qualley) e do shinigami Ryuk (Wilem Dafoe), Light decide usar o caderno para matar criminosos e mudar o mundo. Mas os seus planos poderão estar em rico quando L (Keith Stanfeild), um detetive enigmático, se lança numa busca para o encontrar e acabar de vez com o reinado de “Kira”.

Embora saiba que existam várias pessoas que talvez nunca tenham ouvido falar em “Death Note”, enquanto pessoa que conhece a história original e assistiu às adaptações nipónicas (referindo-me ao anime, filmes live action e minissérie) devo dizer que esta adaptação foi completamente desrespeitadora face ao material original e não falo apenas de mudanças na narrativa. Não existem os conflitos éticos colocados em causa ao longo da história, nem os diálogos complexos pelos quais o manga é conhecido e o jogo subtil de “gato e rato” entre os dois protagonistas é substituído por acusações diretas e uma cena de ação que se prolonga por tempo a mais. Mesmo que eu não conhecesse o material original, esta adaptação, além de ser extremamente apressada em vários momentos, é muito pouco esclarecedora face ao que exatamente as personagens podem fazer com o caderno, sendo algumas dessas funções marcadas pela conveniência do plot.

Não é fácil adaptar uma história complexa como “Death Note”. Mesmo os filmes live action tiveram que comprimir e alterar vários elementos da história de modo a conseguirem contar uma história coerente com começo, meio e fim. Apesar de estar preparada para algo diferente, esperava que este filme pelo menos compreendesse quais os temas fulcrais desta história e conseguissem criar uma narrativa a partir daí. Mesmo a minissérie, que fez alterações nas histórias pessoais das personagens e nas circunstâncias em torno das quais se desenvolve a narrativa, manteve o “fio condutor” da narrativa: a história de um rapaz que recebe o poder de matar pessoas e deixa que esse poder o consuma até se tornar num ser pior do que aqueles que matou.

Enquanto personagem, Light Turner em nada supera ou equivale ao seu correspondente Light Yagami. O génio narcisista, sociopata e calculista, reconhecido como um dos melhores vilões de anime, é substituído por um rapaz revoltado e bastante emotivo que só se torna Kira por incentivo da sua namorada e do shinigami que é dono do caderno. Em momento algum este personagem me convenceu de que queria verdadeiramente estar envolvido nos assassinatos e a sua história pessoal (parecida com a da minissérie japonesa) poderia ter sido mais explorada e até poderia ter sido uma das motivações que o leva a matar criminosos.

A sua namorada Mia Sutton, a “Misa Amane” desta versão, acaba por ter mais do carácter forte, calculista e egoísta que caracteriza o antagonista da história original o que me leva a questionar o porquê de a protagonista não ter sido ela. Até Ryuk, interpretado maravilhosamente por Wilem Dafoe numa atuação que definitivamente rouba as atenções pela positiva, se revela mais sinistro em relação ao protagonista, chegando a interferir diretamente nos eventos da narrariva. L, de entre as personagens humanas, é capaz de ser a melhor interpretação, embora enquanto o “oposto” de Kira o seu temperamento explosivo (algo que o difere bastante face ao L original) poderá fazer com que as pessoas não se identifiquem muito com a personagem.

A meu ver talvez a premissa tivesse resultado melhor como minissérie. Claramente neste filme há boas ideias que poderiam ter sido muito bem conseguidas com o tempo certo para as deixar fluir. No entanto, além de ser muito confusa, a história preferiu dar mais ênfase aos momentos de ação, principalmente perto do final. Nem o visual do filme, que está perfeitamente aceitável até a nível de efeitos, consegue tornar o filme particularmente memorável.

Uma coisa é certa: quem é fã acérrimo de “Death Note” dificilmente gostará desta adaptação. Contudo, a quem não conhece a franquia recomendo uma espreitadela ou ao anime ou aos filmes live action. Pois para mim, se houve coisa que este filme teve de positivo para mim, foi ter-me feito valorizar bem mais as adaptações não-americanizadas que o Oriente tem, assim como acrescentar mais um filme à minha lista de “piores filmes de 2017”.

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