Antigo membro dos Coil e compositor de vários filmes, Stephen Thrower é um dos convidados do MOTELX que o Cinema Pla’net teve o prazer de entrevistar.
Qual é o seu método de trabalho ao fazer uma banda-sonora?
Geralmente começo por um estado de espírito. Qual é a emoção e a “paleta atmosférica” do filme? Presto sempre muita atenção ao mood e atmosfera dos filmes – muitas vezes isso é mais importante para mim do que a história. Portanto, começo com um mood, reflito na estrutura e decorrer da história. No Cyclobe [duo musical de Stephen Thrower e Ossian Brown] e no UnicaZürn [projeto de Thrower com David Knight] começamos por improvisar, depois aperfeiçoamos, modificamos e damos maior atenção aos micro-detalhes, polindo a espontaneidade. A diferença é que em gravações de grupo é a banda que decide o que destacar, enquanto que numa banda-sonora são os desejos do realizador que temos de ter em conta.
Onde procura a inspiração?
Não necessito assim tanto de procurar porque sempre fui uma esponja para imagens, sons e texturas fora do comum. Sou assim desde há tanto tempo que só preciso de relaxar, deixar-me levar e as ideias chegam naturalmente. É deixar isto acontecer por um bocado e gravar o que quer que aconteça. Depois começo a editar, moldar, às vezes cortar e voltar atrás drasticamente ou modificar e transformar em novas formas de acordo com os pedidos específicos da imagem e da montagem.
Como escolhe os seus projetos?
Eles têm tendência a escolher-me a mim! Se há algo que me faz rir ou que apela ao meu sentido estético (do género ‘convulsivo’, não do tipo ‘flores e corações’), depois abraço ansiosamente a oportunidade de trabalhar no projeto.
Qual foi a sua melhor experiência de quando era membro dos Coil?
Musicalmente, um passo importante foi “At the Heart of It All” para o álbum ‘Scatology’. Foi a minha primeira composição para os Coil, ao contrário de me limitar a juntar detalhes à tela que eles já tinham começado. Gravámos duas versões: a que usámos era a melhor, a outra já se perdeu. Era uma altura em que tudo parecia possível. Nós éramos grandes amigos, no início do nosso tempo juntos e acho que apresentámos algo especial. Foi a minha oportunidade de mostrar aquilo de que era capaz e ainda hoje aguenta-se muito bem. À parte da música, enfim, houve alguns períodos extraordinários, irrepetíveis e indescritíveis em que estávamos fora das nossas mentes.
“Hell’s Ground” é o primeiro filme de terror paquistanês. Como é que este projeto lhe chegou às mãos?
Chegou através do Pete Tombs que o co-escreveu com Omar Khan e co-produziu com Andy Starke. O Pete, foi e será sempre um grande amigo meu. Adorei o seu livro “Immortal Tales” e tivemos a oportunidade de nos conhecermos nos anos ’90. Ambos vivíamos no norte de Londres e então via-o frequentemente. Ele tinha ouvido as minhas gravações do Cyclobe e pensou que me encaixaria muito bem no filme. Gostei mesmo muito do projeto, gostei do quão lunático e excêntrico era e o facto de eu não estar familiarizado geograficamente trouxe algo especial em termos de género.
Para além dos filmes de terror, que outros géneros gosta de explorar?
A comédia é um termo demasiado vago para ser considerado um género, mas gosto da comédia absurda, humor negro, as sátiras, comédia splapstick, de maneiras, do embaraço. Aprecio o Giallo italiano e o poliziottesco com certeza. Blaxploitation, sexploitation dos anos ’60 e ’70, ficção científica, especialmente quando misturada com terror (o que acontece com frequência). Os géneros que me deixam mais no frio são os westerns americanos e os musicais, combinem os dois e é o inferno na Terra para mim!
Já trabalhou num documentário [“Peter De Rome: Grandfather of Gay Porn”]. Existe alguma diferença no processo de criação?
Sim, principalmente no facto de haver uma grande inclinação para o pastiche. Durante o documentário sobre Peter De Rome perguntaram-me por algo ‘no estilo de Velvet Underground’ para acompanhar as filmagens de Warhol e The Factory (o Peter foi brevemente cortejado por Warhol com uma visão dos dois a trabalhar juntos, mas nunca se concretizou). Uma vez que o objetivo era evitar que o realizador tivesse de pagar uma enorme quantia por um trecho dos Velvelts (o que duplicaria o orçamento), e porque eu próprio gosto dos Velvets, foi divertido mimetizar os seus sons para uns breves 30 segundos.
Há algum realizador para quem gostaria de compor?
Bem, o David Lynch vem-me imediatamente à cabeça. Tenho uma grande admiração por ele, “Inland Empire” é um dos filmes mais perturbadores e fascinantes que já vi. Podes mesmo perder-te nele!
Está a trabalhar em algum novo projeto?
Sim, num filme experimental, muito ambicioso e bonito e sobre o qual neste momento ainda não posso revelar mais. Também tenho esperança de poder gravar um álbum de covers baseados em material não publicado de Jess Franco e Daniel White.
Stephen Thrower dará uma masterclass com sessão de autógrafos a 8 de Setembro às 18h30 no MOTELX, Cinema S. Jorge.