“O Grande Circo Místico”, candidato do Brasil ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, chega aos cinemas esta semana. O Cinema Pla’net entrevistou o realizador do filme Cacá Diegues.
O que o fez querer tornar-se realizador?
Um grande amor pelo cinema, que cultivo desde criança. Tudo que sei, aprendi primeiro vendo filmes. Depois, com o movimento de cineclubes, aos 17 anos de idade encontrei minha geração que tinha os mesmos sonhos que eu. Aí você fica mais forte e disposto a vencer todas as dificuldades.
O que gosta mais em todo o processo da criação de um filme?
Não há nada que eu não goste na criação de um filme.
Mais de 10 anos separam “O Maior Amor do Mundo” de “O Grande Circo Místico”, mas foi produzindo vários filmes todos os anos, o que levou a esta década entre um filme e outro?
Quando terminei “O Maior Amor do Mundo”, eu estava em crise profunda, deprimido e triste. Enquanto pensava em como fazer alguma coisa inspirado em Jorge de Lima, escrevi um livro sobre o cinema de minha geração, fiz dois documentários de longa-metragem e produzi dois filmes de outros realizadores..
Como se deu a passagem do poema de Jorge de Lima para o cinema, que principais desafios apresentou?
O principal desafio era o de como fazer um filme de um poema. A música de Chico Buarque e Edu Lobo me ajudou a superar essa dúvida. E o trabalho com o co-roteirista George Moura e a produtora Renata Magalhães foi decisivo.
Qual a sua relação com a arte circense?
Onde nasci, em Alagoas, no nordeste do Brasil, fui muito ao circo em minha infância. Mas não sou um especialista no assunto, estudei-o muito para fazer o filme.
Como foi feita a escolha do elenco do filme, que junta atores brasileiros e internacionais ao longo das gerações do circo?
Um circo é sempre muito internacional, há sempre artistas de todo o mundo trabalhando nele. Aí, com a ajuda dos produtores locais (o filme é uma coprodução Brasil, França e Portugal), fui escolhendo um elenco sem me preocupar com a nacionalidade dos atores.
A personagem de Jesuíta Barbosa é fulcral para o filme e no entanto não aparece no poema. Como surgiu Celavi?
Eu precisava de um personagem que me ajudasse a contar a história do filme. Se eu não o tivesse, seria um filme de episódios, sem unidade, coisa que eu não queria. Aí me surgiu a ideia do Mestre de Cerimónia que não envelhece, e acompanha o circo durante todo o século.
O que sente que mais mudou no cinema desde que realizava filmes como “Xica da Silva” e “Os Herdeiros” nos anos ’70?
O cinema muda constantemente, e isso é bom. Essas mudanças podem ser tecnológicas ou culturais, o importante é não perdermos tempo demonizando-as. Mas também não devemos acompanhá-las mecanicamente. É preciso atropelar as mudanças, bem como inventá-las também.
Que memórias guarda de dirigir a icónica Jeanne Moreau em “Joanna Francesa”?
Jeanne Moreau foi a maior atriz da história do cinema em todos os tempos. Me sinto muito orgulhoso e honrado por ter feito um filme com ela. O trabalho com ela e a amizade que cultivámos até sua morte são, para mim, inesquecíveis.
Qual é a sua opinião sobre a situação atual do cinema brasileiro?
O cinema brasileiro vive um momento que talvez seja o melhor de sua história. Estamos fazendo cerca de 150 filmes por ano, sempre com uma diversidade regional, geracional, política, estética, etc, muito grande, graças à nova geração de jovens cineastas que está reinventando o cinema brasileiro. O que não vai bem é a regulação do cinema no país e a própria economia do Brasil, que não permitem os resultados que merecíamos melhores.
“O Grande Circo Místico” é uma co-produção entre Brasil, Portugal e França e encontra-se em exibição nos cinemas portugueses. O filme conta com um elenco que inclui Vincent Cassel, Nuno Lopes, Albano Jerónimo e Antônio Fagundes.