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“Parasitas”- Um Estudo Sobre Classes

Maria Lima
  • Dezembro 23, 2019
  • 4 min read

Na semana passada, estivemos na sessão especial do mais recente filme de Bong Joon-ho, que já está a arrecadar os prémios mais cobiçados: Palma De Ouro em Cannes e mais recentemente, nomeado para o Globo de Ouro para “Melhor Filme Estrangeiro” e “Melhor Realizador” entre outros.Vamos então, descobrir o que faz de “Parasitas” um filme de eleição!

Temas como o classismo e a diferença entre a classe alta e a classe baixa, não são novidade para o realizador Bong Joon-ho! Em 2013 apresentou a sua adaptação da banda desenhada “Snowpiercer” para o grande ecrã. Um filme que retrata a separação das classes num comboio que se perpetua á volta do mundo num cenário apocalíptico durante um constante Inverno. Desta vez, em “Parasitas”,  o cenário é mais simples mas a sua execução está longe de o ser.

Em “Parasitas”, Ki-taek e a sua familia vivem num micro-apartamento mais abaixo que um rés-do-chão. Sem um emprego fixo ou dinheiro suficiente, os filhos a tentarem apanhar o Wi-Fi dos vizinhos, uma vida sem futuro ou esperança onde passam o tempo a dobrar caixas de pizza para terem o mínimo. Mas eis que então,  surge uma oportunidade para o Ki-woo ser tutor da filha da familia Park, da classe alta da cidade. Ao perceber como o outro “lado” vive, Kim e o resto da familia de Ki-taek, engendram um plano para se infiltrarem na familia Park e finalmente terem a vida com que sempre sonharam.

Sem querer revelar muito, Bong Joon-ho entrega um filme de excelência. O seu retrato sobre a desigualdade nunca é forçada e ele nunca toma partido,  no sentido em que neste filme não há vilões ou heróis. Não há a típica culpa dos “ricos”, ou sequer, a tentativa de que a audiência não simpatize com eles. Os “pobres” também não são os heróis deste filme. Esta decisão é uma lufada de ar fresco e uma realidade diferente do habitual. A historia é um autêntico carrossel, entre a comédia e o suspense até passar pela violência, sem haver nenhum momento em que possamos relaxar. A audiência estava inquieta sem saber o que esperar a seguir…

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Os momentos mais “desconfortáveis” são os de comédia. Estes mostram a dura realidade, por exemplo quando Ki-jung demonstra o seu talento em forjar os papeis que o irmão precisa para apresentar na entrevista de trabalho, mostrando que se ela tivesse oportunidade, poderia ir bem longe na vida. Há risos por toda a sala mesmo sabendo a dura realidade da falta de oportunidades que os menos favorecidos têm!

 

Os detalhes que este filme apresenta merece que seja visto mais do que uma vez. Desde a casa da familia de classe baixa, que é praticamente  num porão, com luz natural durante  20 mimutos por dia, até á casa da familia rica que está na zona alta da cidade e a luz natural é constante. Há diferenças até nos ruídos, ou falta deles. É um deleite mergulhar em todos os detalhes que este filme nos apresenta!

O cast é incrível e tenho que mencionar Kang-ho Song, que conhecemos pelo seu brilhante papel em “Em Nome Da Vingança”. Kang trás comédia e tragédia numa só interpretação. A realização de Bong John-ho é magnifica, desde planos ao fantástico argumento, este filme vem mostrar que é possível ser-se crítico e entreter ao mesmo tempo. Uma analise profunda sobre o que realmente está de errado com a sociedade actual e que a culpa não é assim tão fácil de se atribuir.

Em suma,  recomendo verem este filme que vem cimentar Bong Joon-ho como um grande realizador do cinema Coreano.

Maria Lima
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Maria Lima

M.J.Lima nasceu no Porto onde estudou Teatro Contemporâneo e Dança. Depois de quase 10 anos no mundo do espetáculo decidiu ir viver para Londres onde trabalha como escritora de Banda Desenhada e jornalista de Entretenimento.

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