Quando a Netflix deu a luz verde ao projeto televisivo dos irmãos Wachowski, responsáveis pela saga Matrix e do visualmente interessante Cloud Atlas, todos ficaram deslumbrados com o excelente trailer promocional da mesma. A premissa engloba uma estranha mulher a suicidar-se com um tiro e esse disparo parece ter unido oito indivíduos através da mente. Os sensates são humanos que conseguem telepaticamente estar juntos uns com os outros e nem mesmo o aspeto geográfico (que se estende um pouco por todo o planeta) é entrave para se entre ajudarem. Estes indivíduos começam a aperceber-se que o seu papel é ainda mais importante para o mundo ou, pelo menos, para as suas tristes e decadentes vidas.
Quando o primeiro filme de The Matrix chegou aos grandes ecrãs o público ficou fascinado com a criatividade e visual excêntrico que os irmãos Wachowski (um deles tendo mudado de sexo há já algum tempo, passando de Larry a Lana Wachowski) transmitiram para a tela, na medida em que traziam uma logística incrivelmente trabalhada para uma era em que a tecnologia dava os primeiros passos para o sucesso. The Matrix é uma obra complexa que combina ficção científica com doses de ação elegantes (o uso da câmara lenta foi um must) e é, ainda hoje, o melhor trabalho dos dois. Quando a fama e o dinheiro sobem à cabeça, a qualidade dos produtos cinematográficos tem tendência a decair e o foco dos seguintes filmes da trilogia de The Matrix assenta numa estetização de uma linha de história completamente cópia do seu original acrescentando uns efeitos visuais melhorados. Depois dos seus flops comerciais (Speed Racer e o recente Jupiter Ascending), os irmãos decidiram que a sua última obra visualmente competente daria uma interessante produção televisiva e, eis que Cloud Atlas, foi praticamente alargado e injetado com algumas linhas novas de história e Sense8 ganhou vida.
Não é fácil gostar-se de Sense8; a sua história confusa e cientificamente impossível parece empatar-se a si mesma, na medida em que as personagens não desenvolvem o suficiente porque estão constantemente a chocar umas com as outras e, de tanto quererem encaminhar o público para respostas, obriga os argumentistas a manterem-se focados nas vidas desinteressantes e complexas dos mesmos. O facto de ter sido filmado em diversas partes do globo, com destaque para Mumbai, Berlim, Londres, Chicago, Nairobi, Seoul e algumas zonas da Islândia, a série ganha uma vivacidade incrível e consegue, inquestionavelmente, seduzir o espectador através desta celebração da humanidade. O grande trunfo dos Wachowskis e dos seus colaboradores Tom Tykwer e J. Michael Straczynski reside na exploração paisagística destes cenários que acabam por enriquecer a narrativa confusa e desinteressante. A série começa a florescer a partir do momento em que o fator humano colide com o da ciência, nomeadamente as cenas de sexo intensas e (quase) explícitas e posteriormente quando os protagonistas começam a “abraçar” a ideia de estarem todos conectados. As respostas começam a surgir na reta final e, só aí, é que o público começa a sentir-se realmente interessado na narrativa. Apesar de não ser um fracasso, Sense8 assume-se como uma novela multicultural que insiste na vagarosa explicação lógica dos acontecimentos e procura incessantemente pela aprovação do público das personagens em ação, o que prejudica o fluxo da narrativa e, em vez de se tornar memorável, fica-se pelo medíocre.
No entanto, ao contrário de muitos que assumiram através do primeiro episódio que Sense8 seria um exercício precário de televisão, a série consegue tornar-se cativante assim que o espectador se sente familiarizado com os intervenientes e com a constante alternância de ambientes e cenários. Mesmo não chegando a ser maravilhosa, a novela multicultural dos Wachowskis ainda capta o olho mais desatento com os seus visuais estonteantes, personagens sem pudor e fotografia magnífica.