Um reboot/sequela no espírito do primeiro filme, “Spiral – O Novo Capítulo de Saw” é facilmente o segundo melhor filme da saga.
Chris Rock, para além do protagonismo, é a mente por detrás da ideia de base deste filme.
A saga “Saw” marcou toda uma década de cinema com sequelas a serem lançadas uma vez por ano desde o original em 2004 até ao “Capítulo Final” em 2010. No entanto, enquanto o primeiro filme, “Saw – Enigma Mortal”, era um excelente filme de terror e ainda melhor thriller psicológico, e as duas primeiras sequelas “A Experiência do Medo” e “O Legado” mantiveram um nível de qualidade.
A partir do quarto filme, “A Revelação”, a saga foi-se perdendo até a um muito mauzinho “O Capítulo Final”. Por essa altura, toda a essência de justiça retorcida do original estava perdida numa pilha de máquinas de tortura sem piedade. Para ainda afundar mais a saga, “Jigsaw”, o reboot/prequela de 2017 dos irmãos Spierig, foi um passo em falso, que só fez perdurar o desgaste que os fãs dos primeiros filmes já sentiam.
Mas pouco tempo depois, em 2018, o ator, realizador e humorista, Chris Rock, um grande fã da saga, esteve à conversa com um dos produtores da Lionsgate e cedo marcaram uma nova reunião para discutir algumas ideias que Rock tinha para um possível futuro da saga. Pouco tempo depois, Darryn Lynn Bousman (realizador dos 2º, 3º e 4º filmes) foi chamado de volta. Em 2019, “Spiral – O Novo Capítulo de Saw” estava pronto e apesar de adiado de 2020 para 2021, devido à pandemia, finalmente chegou aos cinemas.
Nos primeiros minutos de filme, um polícia tenta parar um carteirista durante os festejos do 4 de Julho, mas trata-se de uma armadilha… Quando acorda encontra-se suspenso sobre uma linha de metro. Por tudo o que mentiu em tribunal tem duas opções, arrancar a língua ou ser colhido pela composição do metro que rapidamente se aproxima.
Está aqui o mote para uma investigação policial a cabo do detetive interpretado por Chris Rock. A sociedade mudou desde 2004 e com ela o sentido de justiça apresentado na saga. Chegados a 2021, em plena crise de brutalidade policial e racismo sistémico, o tema de “Spiral” não podia ser mais relevante. Aqui o alvo são os polícias e detetives por todas as injustiças que cometeram, de inocentes encarcerados a inocentes assassinados. E nesta saga, onde há injustiça, há jogos mortais.
Sobretudo, o filme tira partido de uma boa primeira hora, mais dedicada ao trabalho de investigação do primeiro homicídio, ao mesmo tempo que desenvolve bem o passado do protagonista e a sua ligação ao pai (Samuel L. Jackson) e ao novo parceiro (Max Minghella). Tendo, por sua vez, uma última meia hora que junta demasiados acontecimentos em pouco tempo e que talvez beneficiasse de mais um quarto de hora de filme.
Pelo lado positivo, as armadilhas voltaram a um lado mais simples, passível de ser concretizado por uma pessoa com alguns conhecimentos mecânicos e uma ida à loja de bricolage. Sem revelar o teor das restantes armadilhas, digamos que todas elas provocam um incómodo considerável.
Pelo lado negativo, mantém-se a montagem frenética a partir do momento em que as armadilhas são ativadas, o que infelizmente não permite apreciar totalmente o engenho e reduz o impacto de terror psicológico na mente do espectador. Obviamente, não deixa de causar impressão no momento, mas não fica gravada uma marca tão forte na memória.
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No seu todo, “Spiral” podia ser melhor mas certamente que se encontra no caminho certo. Que venham mais sequelas no seguimento deste capítulo, pois há muito mais por explorar. Chris Rock assume bem o protagonismo do filme, sobretudo numa altura em que se dedica a papéis mais sérios, como na quarta temporada de “Fargo”. Samuel L. Jackson, excelente no seu papel, infelizmente, aparece menos que o esperado, mas mesmo assim manda um “You wanna play games, motherfucker?” que é facilmente a melhor quote do filme.
“Spiral – O Novo Capítulo de Saw” estreia a 13 de Maio nos cinemas portugueses.