Hugh Jackman, o ator dos musicais e que cronicamente estará ligado a Wolverine, encontra nos papeis menos estridentes os seus melhores desempenhos.
Nascido na Austrália, o ator de 49 anos não é limitado no que toca ao talento para as artes. Para além de representar, o ator canta, dança e ainda toca vários instrumentos musicais. Hugh Jackman, o showman ou, o homem do espetáculo, é um dos atores em que mais se nota o “normal” amadurecimento com o decorrer da sua carreira.
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O ator australiano revela a nítida vontade e a preferência por um estilo de filmes, que o afasta de outros papeis que possivelmente lhe serviriam melhor. O forte interesse por musicais e as poucas escolhas por papeis menos estridentes, tiram-no do rumo certo para o estrelato.
É, quando executa papeis menos espalhafatosos, que revela o seu melhor lado, sendo, por consequência, quando as coisas lhe saem melhor. Quando envereda por aquilo que mais gosta de fazer, à exceção do que aconteceu com a sua participação em “Os Miseráveis”, continua a revelar alguma incapacidade no acerto da sua performance.
Robert Angier em “O Terceiro Passo” (2006)
Personagem: Um mágico que vive uma rivalidade severa com um antigo colega de profissão, após um desentendimento entre ambos.
Um bom ator, mas que parecia estar destinado a filmes mais ligeiros, de fácil execução, consegue, num dos melhores filmes de Christopher Nolan, fazer com que prevaleça a crença de que se está perante, mais que um bom ator, um ator capaz de surpreender pela positiva.
Uma atuação mais segura do que as anteriores, mas onde ainda se nota alguma falta de sintonia na expressão corporal. Tem alguma energia que não é bem medida no inicio do filme. A leveza com que atua não favorece o seu desempenho, revelando alguma dificuldade em se adaptar.
A transição para a fase em que se lhe impera um semblante mais carregado, fechado, em que a sua personagem revela uma maior ambição e uma sede de vingança notória e que tem a necessidade de mostrar que é superior ao seu rival, não é feita da melhor forma, não pela maneira como a história e o argumento foram construídos, mas sim pela dificuldade que o ator tem em fazê-la. É, quando se fecha, já na segunda parte do filme, que Jackman consegue mostrar o melhor de si.
Realizador: Christopher Nolan
Tomas Creo em “O Último Capítulo” (2006)
Personagem: Um cientista que vive na procura desesperada de um avanço médico para salvar a sua esposa.
Hugh Jackman tem, nesta hora e meia de filme, três papeis distintos, mas que se ligam. Apesar de estarem em diferentes camadas, através da (i)rreal “Árvore da Vida”. Cumpridor em cada um deles, sai-se melhor quando está presente na vida real e na esfera onde espera ansiosamente pela explosão da nebulosa.
A incansável procura pela vida eterna é, neste filme e nesta história, o verdadeiro significado do amor. Cercado pelo ambience do filme e invadido pela melancólica, e eficientemente usada banda sonora, Tomas Creo sustenta bem o filme. Sendo ele quem o carrega às costas, a importância de não quebrar é enorme, e o ator consegue fazer exatamente isso. Um desempenho muito fidedigno, que mostra segurança e que faz com que o empenho e a entrega ao filme, por parte do ator, seja incontestável.
O “Último Capítulo” do filme encontra, na(s) personagem(ns) de Jackman, um espelho. O esmorecimento e o desmoronar de todos os pilares que sustentavam a esperança, estão bem presentes no desempenho do ator. Jackman consegue, com a sua interpretação, mostrar, com profunda apatia e estar aprisionado, funcionar como um espelho e refletir para o lado de cá da tela, todas as emoções que o filme deveria suscitar.
Realizador: Darren Aronofsky
Jean Valjean em “Os Miseráveis” (2012)
Personagem: Um homem marcado pela a injustiça social que ao voltar da sua prisão de dezanove anos, tenta reerguer-se.
É aqui que o ator gosta de representar e se sente mais à vontade: musicais. Sendo este o melhor filme musical em que entrou, foi também o seu melhor desempenho no género.
A atuação de Hugh Jackman enche o filme. Quando entra em cena, consegue roubá-la da melhor forma. Bastante credível e segura, a representação do australiano é merecedora de um aplauso. Enérgico em alguns momentos, em doses acertadas, encontra o equilíbrio que lhe faltou noutras ocasiões.
O filme gira à volta de Jean Valjean e Jackman respeita a personagem e toda a importância que a mesma tem, entregando-se de corpo e alma ao projeto e conseguindo uma prestação estonteante.
Hugh Jackman conseguiu, com o desempenho deste papel, uma nomeação para o Óscar de melhor ator principal.
Realizador: Tom Hooper
Keller Dover em “Raptadas” (2013)
Personagem: Um pai que procura desesperadamente a sua filha desaparecida.
Hugh Jackman revela, com esta personagem e o respetivo desempenho, maturidade. Consegue, depois de todos os filmes em que participou, ganhar a tal maturidade necessária para vestir a pele desta personagem e a interpretar da melhor forma. Extremamente sólido ao longo de todo o filme, coisa que em outros filmes não era conseguido, o ator revela consistência no seu trabalho.
Jackman apresenta segurança, firmeza e estabilidade ao longo de todo o seu desempenho. Um dos elementos que beneficia esta excelente prestação é a realização de Denis Villeneuve. O modo como a personagem está construída, quase sem expressão facial e corporal, favorece bastante a atuação do ator. E, sendo nisto em que ele é melhor, consegue neste filme uma das suas melhores performances.
Realizador: Denis Villeneuve
Logan/Wolverine em Mundo X-Men (2000-2017)
Personagem: Logan já cansado toma conta de Professor X e uma nova mutante, Laura ou X-23. Na sua tentativa de deixar o seu legado, combate com Pierce, um outro mutante, e a sua equipa.
Hugh Jackman participa nos nove filmes da saga X-Men. De 2000 a 2017, Logan ou Wolverine, percorre duas gerações de filmes. Com duas trilogias dedicadas ao mundo e às personagens de X-Men, juntamente com três outros filmes que, agrupados, perfazem uma outra trilogia dedicada especialmente à personagem a que eternamente estará ligado.
O filme em que o ator melhor desempenhou aquela que se pode considerar a sua personagem de eleição foi o último em que participou. Com “Logan” atinge-se o culminar de uma era. O ator tem o melhor desempenho desta personagem, mas também o melhor desempenho da sua carreira.
Hugh Jackman junta o melhor de dois lados: o mundo e uma personagem a que está habituado e aquilo em que é melhor, personagens com conteúdo, densas e pouco estridentes.
Realizador: James Mangold