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Titane | A bela e macabra Palma de Ouro de Julia Ducournau

Miguel Revel
  • Outubro 13, 2021
  • 3 min read

Cinco anos depois do filme de terror canibal “Raw”, Julia Ducournau abraça em “Titane” outra história mais complicada de definir.

Agathe Rousselle e Vincent Lindon são os protagonistas do candidato de França aos Óscares.

Dividiu uma parte da crítica e certamente dividiu o público, mas “Titane” está aqui para ficar, como uma das propostas mais arrojadas a ganhar a Palma de Ouro do Festival de Cannes.

Habituada a chocar o público, não fosse o caso de tanto “Raw” como “Titane” terem necessitado de ambulâncias à porta dos festivais, Julia Ducournau apresenta neste filme uma mulher em fuga dos seus pecados e quanto menos se souber sobre a história melhor (sem spoilers abaixo, mas quem preferir pode saltar os três próximos parágrafos).

Agathe Rousselle interpreta a protagonista Alexia, que em criança necessitou de uma operação de urgência onde lhe foram colocadas placas de titânio no cérebro e no corpo para que conseguisse sobreviver a um terrível acidente de carro.

Em jovem adulta, trabalha em salões de carros onde dança eroticamente em cima dos carros em exposição, atraindo olhares desejados e indesejados, que a levam a tomar uma decisão drástica e fugir em consequência disso.

Na busca de uma nova identidade, faz-se passar por um jovem desaparecido em criança e acaba por ser recebida pela personagem de Vincent Lindon, o chefe de uma caserna de bombeiros, que vai cuidar dela acreditando tratar-se do filho.

A transformação de ambas as personagens de Rousselle e Lindon é o centro emocional do filme, que apesar de todo o grotesco vai revelando a pouco e pouco um lado humano mais forte de resiliência e superação.

Quanto ao lado estético, esse está impecável, sem falhas. A direção de fotografia, a banda sonora, a montagem, a caracterização, o guarda-roupa, a direção artística, a mistura de som… tudo funciona ao melhor nível para proporcionar uma experiência visual de grande qualidade, num caminho que passa tanto por David Cronenberg e Quentin Tarantino como por Nicolas Winding Refn e Leos Carax.

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Macabro, grotesco e nojento mas lindo e estranhamente emocional, “Titane” é um filme certamente difícil de ver e que funciona tanto a nível metafórico como literal, dependendo da interpretação de cada um.

“Titane” encontra-se em exibição nos cinemas.

Miguel Revel
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Miguel Revel

Apaixonado por cinema desde criança, dos clássicos modernos de Nolan e Fincher às obras intemporais de Hitchcock e Welles. Licenciado em Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa. Colaborador do Cinema Pla'net desde Agosto de 2015.

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