Contrastando com a habitual imagem que se tem dos realizadores de cinema como experientes magos a produzir pérolas cinematográficas, por vezes jovens realizadores conseguem um fantástico filme na sua primeira cruzada.
Vamos enumerar alguns destes casos de realizadores com menos de 28 anos.
10) Kevin Smith (24) – Clerks (1994)
Tendo frequentado a escola de cinema durante apenas 4 meses, Kevin decidiu poupar o dinheiro do curso e usar a loja onde trabalhava como cenário. Escreveu um simples mas cativante filme chamado Clerks sobre um dia na vida de um… empregado de loja, tal como ele era na realidade. As situações incríveis, personagens intrigantes, e diálogos espirituosos, conquistaram o mundo. Kevin Smith continuou a criar óptimos filmes independentes com o seu cunho pessoal, tais como Chasing Amy e Dogma.
9) Richard Kelly (26) – (2001)
Embora tenha tido apenas este êxito, Richard Kelly merece claramente o seu lugar nesta lista, pelo filme de culto Donnie Darko, considerado um dos melhores filmes independentes de sempre. Tem um pouco de tudo: drama, mistério, sci-fi, paranormal, bizarro, estilo, substância, puzzles, final aberto, narrativa não-linear, tudo em doses adequadas. A cereja no topo do bolo é um talento de um então desconhecido Jake Gyllenhaal como protagonista.
8) François Truffaut (27) – The 400 Blows (1959)
A indústria cinematográfica nos anos 50 era ainda muito controlada pelos estúdios e produtores. O realizador era apenas uma peça na engrenagem na produção de um filme, e a montagem não passava pelas suas mãos. Alguns jovens críticos em França começaram a desafiar esta política, argumentando que o realizador deveria ser o verdadeiro autor do filme, controlando todos os aspectos artísticos do mesmo. Esta era a “teoria de autor”, sendo François Truffaut um dos seus fundadores, que decidiu pegar numa camara e demonstrá-la. Com o seu sentido de realismo e naturalismo e uma camara totalmente livre, este filme deu início ao movimento “New Wave” em França, que iria influenciar o resto do mundo.
7) Robert Rodriguez (24) – El Mariachi (1992)
Este é o realizador mais novo da lista, e muito provavelmente um dos mais inventivos e criativos. Senão vejamos: no seu primeiro filme, sem nunca ter frequentado a escola de cinema, foi o argumentista, produtor, director de fotografia, supervisor de efeitos especiais, realizador, e editor. As localizações eram gratuitas, e muitos dos actores e figurantes eram pessoas que se encontravam no local. El Mariachi é um filme simples, mas a sua acção frenética, e enquadramento dinâmico, a tão baixo custo, atraíram muitas atenções. No fim de contas, custou apenas 7 mil dólares mas rendeu 2 milhões por todo o mundo. Desde então Robert Rodriguez esteve ligado a filmes como From Dusk Till Dawn e Sin City.
6) George Lucas (27) – THX 1138 (1971)
Este nome provavelmente toda a gente conhece, ainda que a sua filmografia seja reduzida. Ele é um dos cineastas mais bem sucedidos de sempre, muito graças à famosa saga Star Wars. Antes disso, o seu primeiro filme foi THX-1138. Foi uma estreia audaciosa, baseada num futuro distópico, numa altura em que o sci-fi não era um género muito apreciado. Apesar disso demonstrou o seu lado visionário e a sua capacidade de trabalhar com poucos recursos para produzir um verdadeiro filme de autor. Quando um realizador consegue tal feito, ficamos sedentos de saber o que fará com maior orçamento. Felizmente neste caso podemos fazer mais do que imaginar.
5) Wes Anderson (27) – Bottle Rocket (1996)
Este é um dos grandes nomes da indústria cinematográfica dos dias de hoje. Deixando uma marca em todos os aspectos dos filmes que realiza, com um olho de lince para os detalhes, vincou prontamente o seu cunho pessoal no seu filme de estreia Bottle Rocket. Apesar do seu estilo ser mais refinado nos dias de hoje, particularmente no que diz respeito ao uso da palete de cores e fotografia, na altura já estava presente tudo que o distingue: diálogos em que quase temos vergonha de rir, personagens peculiares e cheias de vida, e situações completamente nonsense. Wes Anderson tem uma visão tão única que todos os actores querem trabalhar com ele.
4) Paul Thomas Anderson (26) – Hard Eight (1996)
Se procura um realizador com pulso forte sobre os seus filmes, que adora as suas personagens mas a leva ao limite, e não lhes permite a redenção, e com cinematografia de topo planeada ao milímetro, o seu nome é Paul Thomas Anderson. É impressionante que alguém com apenas 26 anos e que desistiu da escola de cinema tenha deixado uma marca tão forte no seu primeiro filme, Hard Eight, ao qual se seguiram grandes títulos como Boogie Nights, Magnolia and There Will Be Blood, sendo um dos novos nomes do cinema mais respeitados.
3) Stephen Soderbergh (26) – Sex, Lies, and Videotape (1989)
Antes de Tarantino, Rodriguez, Smith, Linklater, Anderson, e outros, um realizador introduziu o mundo independente em Hollywood. O seu nome é Stephen Soderbergh, que em 1989 a Palma de Ouro em Cannes com o incomum Sex, Lies and Videotape. Escrito em poucos dias, este trata da história de um homem com um estranho fetiche, mostrando-nos um casamento infiel onde a amante é também a irmã, combinando todos os elementos num filme minimalista mas com tanto por desvendar por baixo da superfície. Soderbergh continuou o seu caminho desconstruindo fantásticas personagens em filmes como Erin Brockovich, Traffic, e num registo mais comercial a saga Ocean Eleven, ou até a conceituada série de TV the Knick.
2) Steven Spielberg (26) – Duel (1971)
Duel tem todo o mérito em figurar nesta lista. Principalmente se considerarmos quem o realizou, numa altura em que era um grande feito que alguém tão novo tivesse tanta responsabilidade. Ainda com ar de miúdo, mostrou todas as qualidades que um realizador deve ter: visão, liderança, conhecimento, energia, força, entusiasmo, e confiança. Desta forma um simples telefilme rodado em 10 dias sobre um condutor perseguido por um camião tornou-se numa onda de adrenalina e suspense. A fórmula de Duel foi posteriormente usada em Jaws, o filme que criou o conceito “BlockBuster” e catapultou Spielberg para a fama mundial. Ele é um dos realizadores de maior sucesso de sempre, fascinando-nos ao longo dos seus mais 40 anos de carreira.
1) Orson Wells (26) – Citizen Kane (1941)
Pode ser considerado a sua única obra de arte, mas que obra! Aclamado pelos críticos até aos dias de hoje, considerado como o melhor filme jamais feito, tudo isto alcançado por um jovem que nunca tinha feito um filme antes, a quem deram total liberdade num tempo em que tal não sucedia nem aos realizadores mais experientes. Entre as diversas inovações, este foi o primeiro filme que no genérico aparecia somente o título, a apresentação da historia era como um documentário, desenvolvendo-se não linearmente entre vários flashbacks and flashforwards, contado em diversas perspectivas, em que os actores envelheciam, e usava também iluminação não convencional, movimentos de camara elaborados, contra picados extremos, grande profundidade de campo, e musica composta à medida para o filme. Ou seja, bastante à frente para a sua época.
