13 Reasons Why: cada história tem sempre duas versões

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A nossa vida nunca mais foi a mesma depois de ouvirmos as cassetes de Hannah Baker (Katherine Langford), e para os seus protagonistas também não. Agora, têm eles a oportunidade de contar o outro lado da mesma história!

O grande público ouviu as cassetes de Hannah Baker em 2017 quando Clay Jensen (Dylan Minnette) recebeu a encomenda e premiu consecutivamente o botão do play.

Contudo, também os pais de Hannah ouviram as suas gravações e o stop não foi opção. Por conseguinte, agem judicialmente para responsabilizar o liceu Liberty pela sua apatia no suicídio de Hannah. Ao longo deste julgamento teremos oportunidade de ouvir o outro lado da história que ficou por contar, recorrendo ao rewind, sempre que necessário.

Brian Yorkey adaptou o best-seller homónimo de Jay Asher, permitindo dar vida e corpo à história da enigmática jovem Hannah Baker. Curiosidade – o Clay no livro ouve as cassetes de uma assentada o que confere à obra muita intensidade e suspense – aconselho!

13 Reasons Why
“Uma obra de arte só é boa se for feita por necessidade.”

A primeira temporada extravasou para lá do argumento, e, não perdendo a fidedignidade dos factos, conseguiu criar um enredo que prendeu o espectador. O grande desafio seria o que haveria por dizer/fazer para além daqueles treze episódios que tinham um objetivo claro. Ou seja, por onde derivaria a 2ª temporada por forma a ser um bom produto mas defendendo o já relatado?

Quase todos os protagonistas que ouvimos nas cassetes são chamados a prestar depoimento em tribunal, que coloca frente a frente os pais de Hannah, entretanto separados, e a escola, tentado reconstituir os últimos meses de Hannah que culminaram no seu suicídio – quem era Hannah Baker? Quais os seus segredos mais profundos? O que ficou por contar nas suas cassetes e que borbulha até à tona inevitavelmente? Terá sempre sido uma vítima, ou foi uma abusadora nalgum momento?

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13 Reasons Why
“A verdade nem sempre coloca tudo nos eixos.”

Para a narrativa avançar, como seria de esperar, foram introduzidas novas personagens: Chlöe (Anne Winters), atual namorada de Bryce Walker (Justin Prentice); Tyler Down (Devin Druid) trava amizade com Cyrus (Bryce Cass) e a irmã deste, Mackenzie (Chelsea Alden); Sonya Struhl (Allison Miller) encarna a implacável advogada de defesa tendo como opositor Dennis Vasquez (Wilson Cruz); Nina Jones (Samantha Logan) será um amparo para Jessica (Alisha Boe);  Assim como Caleb (RJ Brown) para Tony Padilla (Christian Navarro), entre outros.

Todos trazem elementos fundamentais que preenchem e fundamentam o enredo, não descurando as questões penduradas, literalmente, da última temporada! O que aconteceu a Alex Standall (Miles Heizer): sobreviveu à tentativa de suicídio? E quais seriam os seus reais motivos? Justin Foley (Brandon Flynn) desapareceu irremediavelmente? E uma vez que tudo indica que Bryce Walker (Justin Prentice) é um violador, será a justiça capaz de o fazer pagar?

13 Reasons Why
“Chega uma altura que temos de parar de fugir.”

Não pretendendo levantar muito o véu, digo que tudo indica, relativamente ao Bryce, porque nesta temporada o espectador não se cinge apenas aos sussurros de Hannah Baker. É sujeito ao outro lado da versão, com visão, prisma e motivos até então desconhecidos. Navegamos pelo passado, revivendo de forma ensurdecedora passagens transatas mas com a adição dos relatos atuais (e por vezes, pensamentos e recordações), de todos aquelas personagens que foram tocados pela tempestade levantada pela confissão póstuma de Hannah Baker. Já Clay Jensen, continua a centrar a dicotomia entre a resolução perante a sua própria dor/luto e a itinerância de trazer justiça face aos acontecimentos e, por conseguinte, à memória de Hannah e ao seu amor por ela. Esta luta, por vezes inglória, quase o desintegra. E olhem que ele é osso duro de roer, aliás, não fosse ele filho de Jack Shepard, em Lost!

13 Reasons Why
“Não és tu que estás a ser julgada.”

Sendo que na primeira temporada ansiávamos pela totalidade das cassetes, aqui o nosso foco é substituído pela deliberação da culpa da escola, mas ainda que com um desafio diferente, o relato desenvolve-se de forma muito emotiva, com linhas estreitas que tocam profundamente, por ser uma realidade contígua, sem leveza ou enfeites, realizando cenas dificílimas do espectador visualizar sem repugnância e algum choque. O entretenimento é a base mas a mensagem por trás de 13RW é fortíssima e o argumento toca em diversos assuntos delicados, coesamente, interligando com a caracterização e crescimento das personagens: assédio e violência sexuais, o acesso às armas sem limitações ou regulação, a xenofobia ou preconceito, homossexualidade, bullying, dependência de álcool e drogas, os lares sem estrutura para onde se volta no final do dia, e as escolas negligentes.

13 Reasons Why
“Sempre achamos que vamos ter tempo.”

Até chegarmos a um clímax e ficarmos, uma vez mais, pendurados para uma 3ª temporada com mais por explicar, temos entretanto a companhia irrepreensível de nomes como Foals, Majical Cloudz, Lucy Dacus, Billie Eilish & Khalid ou Telekinesis, orquestrando uma banda sonora envolvente e adequada. Os planos são similares aos já utilizados anteriormente mas temos cenas arrojadas que surpreenderam pela positiva.

Olivia Barker (Kate Walsh), mãe de Hannah, vai para Nova Iorque a fim de cumprir o sonho dela. Mas não sem antes desvendar que sempre existiram 13 reasons why not! Coloquem o vosso helmet favorito pois estes jovens imperfeitos, num mundo atroz, ainda têm muito ao virar da esquina por enfrentar!

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