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Hereditário – Será que é mesmo o novo ‘Exorcista’?

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Depois de fazer furor junto da crítica norte-americana e de no fim-de-semana passado ter batido o recorde de melhor estreia da distribuidora A24, Hereditário chega então aos cinemas portugueses esta semana.

Todos os anos há em média dois ou três filmes de terror que conseguem reinventar-se dentro do género, proporcionando uma experiência forte, mas simultaneamente original. Este ano, definitivamente que um desses casos é Hereditário. Contudo este não aposta tanto nos sustos, mas sim numa atmosfera pesada de mistério e suspense onde nunca sabemos em quem podemos verdadeiramente confiar.

Realizado com grande mestria pelo estreante Ari Aster, o filme segue uma família de luto pelo falecimento da avó. E não há muito mais que se possa revelar para além deste ponto. Toni Collette tem um desempenho intenso, num papel emocionalmente desafiante como uma mãe psicologicamente instável. Aliás, nunca sabemos se podemos confiar nela, tal como Alex Wolff, o filho mais velho, que fica com um grande peso na consciência e passa a viver aterrorizado pelas consequências do passado, numa performance que está a milhas de distância dos papéis secundários em comédias como “Jumanji: Bem-Vindos à Selva” e “Viram-se Novamente Gregos para Casar”. Destaque ainda para os outros três atores que compõem o elenco principal do filme. A filha, interpretada pela jovem estreante Milly Shapiro, o pai, Gabriel Byrne (“Os Suspeitos do Costume”) e a amiga do centro de apoio, Ann Dowd (“The Handmaid’s Tale”).

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Ainda mais fortes que o argumento e o elenco estão quatro pontos essenciais que fazem deste filme uma obra que será lembrada por muitos anos e a partir dos quais se estabelecem as comparações com filmes como “O Exorcista”. São eles: a realização, a direção de fotografia, a direção artística e a banda-sonora. Em conjunto, estes quatro elementos criam uma atmosfera incrível ao mesmo tempo que espantam o espectador pelas decisões criativas e a atenção minuciosa ao detalhe (um factor que claramente é beneficiado em visionamentos futuros).

Ari Aster, que até agora só tinha a seu crédito um conjunto de curtas-metragens de comédia, apresenta uma visão engenhosa que vai pautando todos os momentos do filme em conjugação com a direção de fotografia de Pawel Pogorzelski (que trabalhou com o realizador em várias das suas curtas), com alguns planos geniais que criam grandes expectativas para os projetos futuros que fizerem em conjunto. Por sua vez, a direção artística de Richard T. Olson (que recentemente trabalhou na série “Mosaic”, de Steven Soderbergh) é responsável por espaços intrigantes e misteriosos. Inegavelmente, estes, aliados à banda-sonora de Colin Stetson (cujas músicas de saxofone já foram usadas em filmes como “Arrival” e “12 Anos Escravo”) completam-se na construção do espaço e das emoções de curiosidade e medo sentidas pelo espectador, especialmente dentro da casa de família.

Para a maioria dos espectadores, depois de um filme muito consistente, o final pode afastar-se um bocado das expectativas. Muitas vezes, por aparentemente partir numa direção totalmente diferente do resto. No entanto, como já referi, estamos perante uma história repleta de pequenos detalhes que justificam o fim. O problema é que, se não estivermos conscientes disso ou não os pesquisarmos na internet, tais detalhes certamente precisam de mais do que um visionamento para nos inteirarmos deles e assim compreendermos o verdadeiro sentido do filme.

Hereditário, por várias razões, incluindo certos momentos muito fortes na narrativa e os quais nem sequer posso mencionar para não perderem o devido impacto, é claramente um filme que não é para todos os espectadores. Todavia, vai certamente agradar aos que estão preparados para a experiência.

Quanto à pergunta “Será o novo ‘Exorcista’?”

Relativamente a realização e argumento são filmes bastante diferentes. Em termos de aceitação geral e objeto de culto só o tempo dirá.

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