O Cinema Pla’net seleciona sete películas que tinham todas as condições para se tornarem icónicas mas que, por algum motivo, não chegaram a ser realizadas.
Ao longo da sua prodigiosa história, a quantidade de obras-primas que o cinema nos proporcionou é incontável, crescendo de ano a ano. De “Metropolis”, de Fritz Lang, ao recentíssimo “La La Land“, de Damien Chazelle, passando por “O Mundo a Seus Pés”, “O Bom, o Mau e o Vilão”, “2001: Odisseia no Espaço” e “O Padrinho”, a qualidade é de tal modo elevada que não haveria espaço para enumerar todas as grandes películas que tivemos o prazer de ver.
Porém, nem todas as grandes produções foram consumadas, havendo um vasto rol de projetos que, por diversos fatores, nunca conseguiram ser realizados, para infelicidade dos envolvidos – e de todos nós, pois claro! Assim, seguem-se sete grandes filmes… nunca realizados.
ISOBAR
Sendo Ridley Scott um mestre na arte da ficção científica (filmes como “Alien”, “Prometheus” e “The Martian” justificam tal epíteto), não surpreende que quase tenha avançado para a realização de “ISOBAR”, gigantesco projeto sobre uma planta inteligente e carnívora (o equivalente do alien) que, num cenário futurista, encurrala a tripulação humana num comboio transatlântico.
Com um orçamento de aproximadamente 90 milhões de euros (“Alien”, por exemplo, custou apenas 10 M€), previa-se que o filme fosse um sucesso já que, além da direção de Scott, contaria com o “star power” de Sylvester Stallone e Kim Basinger, há altura duas das maiores estrelas em Hollywood. Porém, o projeto nunca foi concluído, em grande medida devido à falência da “Carolco Pictures”, produtora responsável. Como tal, Ridley Scott prosseguiu a sua carreira (a película que realizou de seguida foi “Thelma e Louise”, um dos seus filmes mais “sui generis”), enquanto a ideia por detrás de “ISOBAR” adormeceu.
Heart of Darkness
Ainda hoje visto como um dos melhores cineastas americanos de sempre, Orson Welles conquistou reputação internacional assim que saiu o seu primeiro filme, “O Mundo a Seus Pés” (“Citizen Kane”, 1941), com 26 anos de idade.
O que muitos poderão não saber é que, se os planos de Welles se tivessem concretizado, “Citizen Kane” não teria sido o seu filme de estreia. Ao invés, seria a adaptação da lendária obra de Joseph Conrad, “Heart of Darkness” (“O Coração das Trevas”, na tradução portuguesa). O projeto até chegou a ser encetado, mas o custo inerente à sua produção e a linha “politizada” que o argumento seguiu (numa fase em que Hollywood procurava distanciar-se da vida política) levaram ao cancelamento do mesmo por parte da RKO.
Kaleidoscope
Embora se tenha assumido, na segunda metade dos anos 60, como, quiçá, o realizador mais influente de Hollywood, Alfred Hitchcock nem sempre pôde avançar com os seus planos.
Após “Psico” e “Os Pássaros”, o grande cineasta inglês pretendia realizar um filme, ambientado em Nova Iorque, sobre um assassino que matava e violava as vítimas. Contudo, a Universal Pictures recusou dar “luz verde” para o projeto avançar, nomeadamente devido à violência e ao previsível conteúdo extremo que seria representado na película. Por essas razões, “Hitch” foi obrigado a desistir de “Kaleidoscope” realizando, em 1972, “Frenzy”, filme com algumas ideias iguais, mas filtrado pelo próprio.
Nostromo
Responsável por épicos como “Lawrence da Arábia” e “Doutor Jivago”, David Lean procurou, na segunda metade dos anos 80, realizar uma derradeira grande produção, baseada na obra de Joseph Conrad, “Nostromo”.
Apesar de, aparentemente, todas as condições terem estado reunidas para o projeto ser bem sucedido (Steven Spielberg trabalharia como produtor, por exemplo), a verdade é que o mesmo nunca conheceu a “luz do dia”. Além de desentendimentos em relação ao argumento, entre Lean e Spielberg, os exorbitantes custos de produção foram adiando a consumação do mesmo, enquanto os atores desejados para a representação (Marlon Brando, Alec Guiness, Peter O’Toole, curiosamente todos com vastas nomeações a prémios da Academia), por diversos motivos, nunca se comprometeram. Com tudo isto, David Lean faleceria, em 1991, desgostoso de não ter realizado uma última película. Quanto a “Nostromo”, esteve no topo das intenções de Martin Scorsese, em 2002, mas a ideia não passou do papel.
Megalopolis
Uma vez lançado “Apocalypse Now”, mega-produção que se tornou num verdadeiro “caos” para Francis Ford Coppola, este decidiu enveredar pelos filmes independentes, realizando películas com orçamentos baixos. A situação apenas se alteraria, exclusivamente, em 1990 quando, por razões maioritariamente financeiras, decidiu avançar com o derradeiro capítulo da saga “O Padrinho”.
Ainda assim, não se pense que o lendário realizador desistiu dos grandes projetos. Na verdade, guardou durante décadas no pensamento “Megalopolis”, uma longa-metragem acerca de Nova Iorque. A ideia, que segundo alguns rumores teria uma maior grandeza de conceção do que “Apocalypse Now” e seria mais profunda que “O Padrinho”, foi sendo adiada e, quando havia condições para ser realizada, foi bloqueada pelo ataque terrorista ao World Trade Center (os estúdios consideraram que não fazia sentido continuar com um argumento utópico, romantizado, após acontecimentos de tal modo terríveis).
Coppola teve uma carreira profícua no cinema, mas “Megalopolis” tê-la-ia engrandecido ainda mais.
Leningrad
Ainda que mais conhecido pela “Man with no name trilogy” (“Por um Punhado de Dólares”, “Por Mais Alguns Dólares” e “O Bom, o Mau e o Vilão”) e outros westerns (“Aconteceu no Oeste”), Sergio Leone provou possuir, igualmente, capacidades para realizar filmes históricos, como os subvalorizados mas extraordinários “Aguenta-te Canalha” e “Era Uma Vez na América” e, uma vez completo este último (que por si só demorou 10 anos para ser concluído), preparou-se para um projeto de enormes dimensões, que atingiria os 100 M€ de orçamento: “Leningrad”.
Baseado no cerco de Leninegrado, evento ocorrido na Segunda Guerra Mundial, quando as tropas germânicas cercaram a cidade russa, o filme narraria a história de um fotógrafo de guerra americano que se apaixona por uma nativa. O projeto recebeu “luz verde” e reuniu todas as condições fundamentais para se consumar – até Robert DeNiro, que iria desempenhar o papel principal, se preparou – mas foi cancelado abruptamente com a morte de Sergio Leone, em 1989.
Napoleon
E eis o maior filme nunca realizado! “Napoleon” tem despoletado uma série infindável de rumores e discussões que levaram, até, à publicação de um livro (intitulado “Stanley Kubrick’s Napoleon: The Greatest Movie Never Made”).
A história da (não) produção de “Napoleon” é, de resto, perfeitamente conhecida. Stanley Kubrick há muito que desejava realizar um biopic do lendário líder francês, decidindo-se a avançar com o projeto após concluir “Barry Lyndon” (muito provavelmente a sua obra mais subvalorizada). Porém, este último fracassou nas receitas de bilheteira, levando os principais estúdios a recusar a realização de um novo filme de época. Kubrick, reza a história, até já tinha escolhido o ator para encarnar Napoleão (Jack Nicholson, que trabalharia mais tarde com o criador de “2001: Odisseia no Espaço” em “Shining”), mas nunca foi capaz de convencer as produtoras a financiar um projeto que tinha tudo para ser grandioso.