André Almeida Rodrigues um cineasta português em começo de carreira

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Até ao momento os seus trabalhos mais relevantes são “O Barbeiro Guitarrista” e recentemente “Alfaião”. Começaram como projetos académicos e rapidamente ganharam notoriedade em diversos festivais de cinema nacionais e internacionais.

Para André Almeida Rodrigues a entrada no mestrado em Som e Imagem na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa foi o “empurrão” para iniciar uma carreira como cineasta. Com dois documentários produzidos até ao momento, André pretende continuar pelo mundo do cinema, tendo dois projetos em mente.

O seu documentário Alfaião já foi exibido em diversos festivais de cinema nacionais e internacionais. Nomeadamente, em países como Brasil, Grécia, Itália, Polónia, Marrocos, Uruguai, entre outros. Recentemente o filme ganhou o Prémio do Público da Competição de 2017 do Shortcutz Funchal.

Em breve André irá lançar ainda um micro-filme de um minuto, de nome “Cuidado” que se irá focar na queda de uma idosa numa bengala.

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Fala-me um pouco de ti.

Tenho mestrado na Universidade Católica Portuguesa desde 2016. Como aluno da Universidade Católica Portuguesa no primeiro ano produzi e realizei “O Barbeiro Guitarrista”. 

Trata-se de um documentário que foi exibido em 19 países. Ganhou o prémio latino de “Melhor curta-metragem portuguesa” em Espanha (um pequeno prémio da fundação Mundo Cidade), seguido de uma Menção Honrosa no FARCUME. Também foi nomeado pela Academia Portuguesa de Cinema para o Prémio Sophia Estudante.

Entretanto como projeto de mestrado realizei e produzi o “Alfaião” que neste momento anda a percorrer os festivais de cinema pelo mundo fora.

Conta-me um pouco sobre o primeiro documentário que elaboraste, “O Barbeiro Guitarrista”

“O Barbeiro Guitarrista” trata-se do meu curto documentário sobre Álvaro Martins, meu tio em segundo grau e um dos nomes da guitarra portuguesa. Fez a sua carreira sem deixar de viver no Padrão da Légua do Grande Porto, mesmo sendo o fado mais popular em Coimbra e Lisboa do que no resto do país.

Estamos a falar de um dos grandes nomes da guitarra portuguesa. Tem grande importância: a própria Amália Rodrigues em 59 (estamos a falar de uma altura em que a distância entre Porto e Lisboa era enorme) lançou um disco com uma guitarrada de Álvaro Martins.

[Álvaro Martins] foi intérprete da guitarra portuguesa e compositor. Todos os grandes nomes da guitarra portuguesa da sua época passaram por Álvaro Matins.

Agora fala-me sobre “O Alfaião”. Como é que surgiu a oportunidade de filmares esse documentário e porque escolheste aquela aldeia em particular?

Quando optei por fazer o mestrado em Som e Imagem na Universidade Católica Portuguesa fui com uma ideia muito específica do que pretendia do mestrado. Posso confessar que não tinha grande relação com o género de documentário antes d'”O Barbeiro Guitarrista”.

Mas eu já tinha uma ideia fixa de que queria ter uma oportunidade de realizar o meu próprio filme. A Universidade Católica Portuguesa disse que sim, que haveria essa oportunidade, por isso criei o meu projeto à parte.

Escolhi um tema com o qual não tinha qualquer ligação. Então comecei a trabalhar nisso e optei pelo retrato do dia a dia de uma aldeia. A partir daí tive que andar à procura de aldeias de Norte a Sul do país; comecei a procurar na internet. Alfaião chamou-me a atenção porque há um grupo de jovens que trocou a cidade de Braga por essa aldeia mesmo sem raízes familiares.

Seleccionei cerca de dez aldeias e entrei em contacto com os respectivos presidentes de junta de freguesias. Houve uma aldeia em que o presidente de junta recusou a ideia porque disse-me que estava farto de ser filmado. Eu tentei explicar o que pretendia mas ele não mudou de resposta.

Eu queria o retrato de uma aldeia dinâmica com vida e jovens. Não uma que fosse o estereótipo do “velhinho e do burrinho” como muito vemos nas notícias sobre as aldeias do interior. Quando entrei em contacto com o presidente da junta de Alfaião, António Baptista mostrou logo interesse em receber este projeto.

A partir daí escolhi Alfaião, fui lá durante um fim de semana em novembro que era uma altura de festa na aldeia, por ser o fim de semana de São Martinho. Eu pretendia conhecer um pouco melhor a aldeia para ter a certeza de que era ali que queria concretizar o meu projeto. Cheguei lá no sábado e domingo já estava a almoçar com pessoal da aldeia.

Aquele fim de semana fez-me ver que aquela aldeia era tudo aquilo que pretendia, por isso em janeiro voltei lá para gravar um filme durante nove dias.

Fale-me um pouco dos aspetos que escolheu salientar durante o documentário. Tinha um guião em mente ou foi montando a sequência conforme foi descobrindo essa aldeia?

Parti sempre com uma ideia do que pretendia daquela aldeia. Já a tinha discutido com o presidente da junta e ele tinha-me indicado que haviam diversos tipos de pessoas na aldeia. Há pessoas naturais de Alfaião e que residem lá, há pessoas que emigraram e agora voltaram lá, há pessoas que não são naturais de lá mas vivem em Alfaião, etc. Havia um bocado de tudo.

Eu já tinha ido com uma ideia em mente de que ia apanhar esse tipo de pessoas. E para o documentário era óbvio que eu estaria a lidar com pessoas e não com atores. E claro houveram alguns imprevistos no que toca a lidar com pessoas de uma aldeia.

Se tiver realmente uma oportunidade de fazer carreira em cinema, o documentário será o seu género principal? Ou tem outros tipos de filme em mente?

“Seguir a carreira” já a estou a seguir. Há quem considere filmes académicos como projetos na área. Neste momento já estou a preparar o meu próximo filme fora de um contexto académico.

Se o documentário será a minha prioridade, bem, começo a ter algum tempo para refletir e digamos que o cinema documentário é o caminho que quero seguir.

Neste momento tenho ainda uma curta de ficção de um minuto por estrear, mas sinto que o meu lugar no cinema é no género de documentário.

Pode-me falar da curta metragem que está a elaborar?

Trata-se do meu primeiro filme realizado sem ser em contexto académico e gravado com um smartphone (o chamado cinema mobile, que está a começar a ficar em voga graças a esta geração que vive com smartphones). Optei por cinema mobile porque não tinha apoio financeiro nem meios para ter um equipamento profissional (confesso que isso não prejudicou o filme).

Trata-se de um curto documentário sobre uma marca de sabonetes em Portugal. Chama-se Castelbel e também tem alguns produtos de cosmética. Antes desse documentário teremos um dos fundadores e gerente da Castelbel falar um pouco sobre o fabrico de sabonete.

Qual foi o prémio mais relevante que ganhou no âmbito dos seus trabalhos?

Para mim o que é mais relevante não são os prémios, mas sim as exibições. Os prémios são um acréscimo.

É óbvio que o prémio que ganhei em Espanha me foi relevante. Confesso que quando fui lá a Espanha receber o prémio senti-me ligeiramente melhor, porque estava a receber um galardão num país que não é meu.

Além disso tive a oportunidade de contactar outros cineastas de outros países que conheci. Também quando fui a Marrocos por causa da exibição d “O Barbeiro Guitarrista” também foi uma experiência fantástica.

Acha que o cinema é uma área que pode vir a ganhar futuro em Portugal? Ou já o está a ganhar?

O cinema português tem muito futuro. Vê-se pelo sucesso dos filmes mesmo que sejam filmes de autor. E nota-se que há uma nova geração a ganhar prémios em Berlim ou em Cannes.

Temos que ver que há dois tipos de cinema: o comercial e o de autor. O sucesso do cinema comercial, para mim não é nas críticas mas sim nas receitas de bilheteira. Se um filme português comercial traz muita gente às salas de cinema, é um ótimo sinal. Já no caso do cinema de autor temos que ir pelas críticas, pelos prémios que conquista e pelo alcance nas exibições em festivais.

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