Crítica: “Fragmentado” de M. Night Shyamalan

© Universal Pictures
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Estreado nas salas de cinema portuguesas no passado dia 2 de Fevereiro, o novo filme do realizador M. Night ShyamalanFragmentadochega com grande expectativa de todos… Mas, será que está ao nível esperado?

No curriculum de M. Night Shyamalan não há aquela famosa “linha que separa” onde nós podemos residir, sem gostar ou desgostar totalmente dos filmes do mesmo. Pessoalmente, já saí algumas vezes do cinema, ou levantei o rabo do sofá, praguejando e chamando nomes menos simpáticos ao Sr. Shyamalan, pelos seus famosos Plot Twist e pelas suas obras em geral.

De facto, o último filme “de jeito” que vi foi o Devil, de 2010. Mesmo assim, não foi um filme que achei digno de revisitar vezes sem conta. Por isso mesmo é que por muito que tenha adorado o trailer de Fragmentado ao visualizar pela primeira vez, e apesar de ter o actor James McAvoy, fiquei de pé atrás por ser do Shyamalan.

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Ainda assim, e como não podia ir por motivos profissionais à estreia, levantei-me no belo domingo, e fui todo contente ver um Thriller/Terror de que tanto gosto… Isto sim é uma boa forma de iniciar o dia!

O filme começa ao bom estilo das obras do realizador, sem floreados, directamente ao assunto, simples, e de forma minimalista. Não passaram muitos minutos até percebermos que vinha aí “chuva da grossa” para as 3 donzelas que vimos no trailer, uma das quais representada pela bela Anya Taylor-Joy, a qual entrou neste último ano no tão aclamado The Witch.

Nem tinha acabado o primeiro acto, e já tínhamos a base do filme delineada e posta em cima da mesa como uma boa mão de poker após a quinta carta. Depois dessa introdução, o filme desenrola-se de forma normal, como um bom thriller, havendo os momentos habituais de suspense intercalados com cenas fora do “recinto” onde residia toda a acção, cenas essas que são cruciais para construir os 23 alter-egos da personagem principal, Kevin Wendell Crumb.

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E é aqui onde faço uma pequena pausa para elogiar o actor James McAvoy; é claro que já sabíamos que o mesmo tinha enorme talento após a saga dos X-Men, ou até mesmo no Victor Frankenstein, mas com o Fragmentado, o actor subiu a um nível que realmente poucos podem chegar. Há situações onde sentimos uma envolvência extrema, e entramos no quarto onde DennisPatricia ou até mesmo Hedwig (egos da personagem) estão. Não há palavras para os “papelões” que ele faz ao representar as diferentes personas, mudando em milésimas de um para o outro, sendo sem sombra de dúvida o filme; atrevo-me a dizer que quase ao nível de um Sir Anthony Hopkins, que vestiu a pele de Hannibal Lecter no Silence of The Lambs.

Realmente não há nada de extraordinário até ao ultimo acto do filme, a não ser o desenvolvimento de Kevin, criando uma fortíssima relação com o espectador, no bom e no mau sentido. Durante essa relação, Casey (Anya Taylor-Joy) expõe os seus próprios Demónios de uma forma peculiar, fazendo-se vários regressos ao passado e explicando-se um bocado o próprio historial da mesma. Assim, começamos a tentar desvendar o fim, a jogar o jogo do “será que…”, mas mesmo assim acreditem que não vão lá.

O sentimento de claustrofobia e a própria atmosfera causada pelo espaço estão sublimes, ao nível de 10 Cloverfield Lane, usando muito bem o recinto fechado, sem que o mesmo possa parecer mínimo. Muito pelo contrário, por vezes parece enorme, o que faz com que as personagens se sintam num desespero ainda maior por não saber onde raio é a saída, e onde por vezes sentimos que está ao nível da famosa cena do labirinto do jardim do The Shinning, onde se junta uma banda sonora subtil e inserida nos momentos exactos para adicionar à atmosfera em si.

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É no terceiro acto que tudo explode, e que o suposto thriller normal acaba num thriller com a famosa assinatura do realizador.

Pessoalmente estava cada vez mais inclinado para uma teoria ao redor de Casey, do seu conteúdo, e mesmo se eu desvendasse o fim, ninguém iria adivinhar já que é realmente algo muito diferente do que se espera.

São muitas balas disparadas ao espectador, não sabemos como lidar, nem como pensar, e tudo no bom sentido, ficamos à nora, esperando que os últimos segundos de filme expliquem o porquê da viagem, mas mesmo assim, M. Night Shyamalan nega-nos isto, e ainda cria mais confusão (novamente no bom sentido). Será que aprendeu com os outros filmes? Talvez, mas isto não interessa, o que interessa é que é uma viagem a um estado mental do ser humano, às capacidades e incapacidades do Homem, como energia neste mundo. É um terror real, muito ao estilo do terror criado pelos franceses, também com um toque muito Hollywood, mas desta vez no bom sentido.

Houve alturas onde até eu, um coleccionador de filmes de terror, senti uma angústia interna, algo que é muito difícil de sentir; posso dizer que recentemente apenas senti em filmes como Don’t BreatheIt Follows ou o mágico Babadook.

É daqueles filmes que, mesmo com os seus problemas, os quais não poderia explicar sem desvendar parte do fim, aconselho a verem novamente, pois certamente haverá pormenores que serão descobertos após saber como o filme se desenrola.

Atrevo-me a dizer que, para mim, após o Sixth Sense e o Unbreakableé realmente o melhor filme do M. Night Shyamalan, e, já agora, do James McAvoy. Por isso, Sr. Shyamalan, volte se faz favor, está perdoado.

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