“Liga da Justiça” finalmente chega ao grande ecrã! A formação de uma das mais emblemáticas equipas de super-heróis no mundo da banda desenhada que reúne Batman (Ben Affleck), Mulher Maravilha (Gal Gadot), Flash (Ezra Miller), Cyborg (Ray Fisher) e Aquaman (Jason Momoa) na tentativa de parar uma invasão de um outro mundo liderada por Steppenwolf (Ciáran Hinds) após o nobre sacrifício de Super-Homem (Henry Cavill) nos eventos de “Batman v Super-Homem: O Despertar da Justiça”.
Após tantas queixas no arrastado lançamento do universo cinemático da DC temos um resultado de 121 minutos (incluindo créditos), repletos de momentos épicos, divertidos, cheios de acção e com personagens memoráveis que dão lugar a um filme no geral mais consistente, tanto narrativamente como em termos de tom, mas também mais envolvente. Sim, tem os seus aspectos mais convencionais, joga pelas regras e não arrisca muito, mas também não se podia esperar muito no que é uma terceira tentativa de lançar um universo e dada a problemática produção do filme.
Não demoramos a dar de caras com rostos familiares, e quem claramente rouba as atenções e tem o melhor desenvolvimento do filme, Batman e Mulher Maravilha. Assim que o filme começa Batman é a versão que a maior parte do publico conhecerá dos comics e também dos vídeo-jogos Arkham. É impiedoso, astuto e está repleto de gadgets nos bolsos, e fora deles também. Com a ajuda do seu protector e mordomo Alfred (Jeremy Irons), o Batman que aqui encontramos logo do início revela uma postura de líder inegável, alguém que é experiente em ameaças tanto de escala pequena como grande, mas que é experiente devido a erros e a arrependimentos do seu passado. Igualmente dinâmica é Mulher Maravilha, que se encontra em discórdia com Batman. Mas dado que esta acaba de ter o seu sucesso a solo no verão passado, tem uma introdução que iguala esse sucesso ao parar um grupo de assaltantes num banco de Londres numa cena de acção brutal e excelentemente editada, demonstrando o seu poder físico e como é a personagem que o público já tanto adora. Por estas razões, não há muito que Gadot precise de dizer para marcar presença para além de estar, de facto, presente no ecrã. É esta a presença e a relação que tem com Batman que trazem ao de cima a maior tensão dramática do filme, a qual irá mais puxar pelas emoções e fazer-nos sentir a gravidade da situação nos momentos em que tudo parece estar perdido.
Mas também são os seus contrastes que fazem a dupla brilhar: uma Mulher Maravilha esperançosa e cheia de vida discute com um Batman desesperado e pronto a tomar medidas extremas. É uma dicotomia necessária quando estamos a falar de diferentes personalidades gigantes no ecrã a colidir, e narrativamente há uma amostra brilhante disso graças à fabulosa caracterização narrativa, a química entre os actores e a camaradagem que sentimos ser partilhada pelos personagens.
A estas estrelas juntam-se Aquaman, com as suas notáveis rastas e uma dieta consistente em heavy metal e peixe. Flash, que é sem dúvida não só o alívio cómico mas também o benjamin da equipa, que traz consigo a inocência representativa dos fãs da banda desenhada que se sentirão crianças em muitos momentos do filme. E por fim, o robótico (e infelizmente de forma bastante literal) Cyborg, cuja história de origem estabelece o mínimo de empatia dado o facto que essa história é revelada aos poucos quando parece mais conveniente ao filme que saibamos certas informações.
Steppenwolf como vilão é uma figura imponente quando numa batalha, de martelo gigante na mão e capaz de fazer frente a qualquer um dos heróis a solo, este já não é o caso quando temos uma simples dupla a fazer-lhe frente. Como personagem numa narrativa é pouco definido, é mais um conquistador que quer destruir o mundo simplesmente porque é o que parece ser a sua lógica, que traz consigo uma mitologia pouco a nada explicada às costas.
Felizmente, Steppenwolf apenas está no ecrã quando é absolutamente necessário, dando espaço e tempo à equipa titular para se desenvolver como um grupo com personalidades distintas, deixando que a química entre os seus membros cresça e para compreendermos as motivações de cada um para aceitar a missão que os espera.
Esta missão é impedir que Steppenwolf junte as três Motherboxes que foram deixadas há milhares de anos na Terra sob a protecção das Amazonas, os Atlantes e o humanos, cada população em cargo de uma Motherbox. Colectivamente estes objectos basicamente são o objecto cobiçado do filme, algo a que chamamos o MacGuffin. Podemos assumir que fãs das bandas desenhadas saberão o seu propósito e saberão cobrir os buracos do mesmo deixados na narrativa, mas é devido a estes mesmo buracos que em vez de sentirmos uma ameaça da parte destes objectos, sentimos que é mais uma desculpa para juntar a equipa e deixar que o espetáculo que são as batalhas de heróis contra vilão aconteçam.
Contudo, é inegável que vale a pena esperar por estas batalhas, as quais acontecem devido aos heróis que resultam tão bem no grande ecrã. Com um catálogo variante de “Dawn of the Dead” a “Sucker Punch”, Zack Snyder mais uma vez junta sofisticação visual com espetáculo cinemático, provando novamente como é um artista visual do meio.
Desde uma gigantesca cena de acção que junta as Amazonas, Atlantes, humanos e alguém mais que não será aqui divulgado, contra Steppenwolf e o seu exército de insectos alienígenas, mostrando feroz brutalidade nos visuais assim como na edição e coreografia. A uma batalha sub-aquática que vai deixar fãs com pele de galinha na expectativa de ver mais no filme a solo do Aquaman, no próximo ano. Os momentos de maior inspiração em “Liga da Justiça” surgem claramente nos momentos em que Snyder prova ser brilhante, nos quais não se preocupa tanto com uma narrativa coesa.
Infelizmente, é notável que o filme começa com grande pressa em arrancar, dada as ordens pela parte da Warner Bros. em ter um filme com duas horas e não mais, apresentando todos os seus personagens nos seus respectivos lugares, em cena claramente apressadas e cortadas nas quais absorvermos apenas metade das informações do que era suposto, assim como há uma clara conveniência no que toca às circunstâncias em que todos os personagens se encontram passo a passo até se dar a reunião de todos.
A banda sonora de Danny Elfman é infelizmente bastante vulgar, algo que me entristece dizer sobre um lendário compositor do cinema. No entanto, Fabian Wagner é brilhante na sua estreia como cinematógrafo no grande ecrã, oferecendo um trabalho vibrante e um conjunto de imagens que se movem com os personagens e a acção e pouco se deixam ficar paradas num único indivíduo.
Falemos agora, sem revelar demasiado, do mais emblemático personagem na história de qualquer banda desenhada, que surge a meio do filme com um regresso triunfal, não só recebemos de imediato uma brilhante cena de acção que demonstra e dá os 15 segundos de fama a todos os membros da Liga, mas também irá sem sombra de dúvida, puxar normalmente os cordelinhos emocionais, calando muito dos críticos que já há muito se queixam que o personagem é diferente daquele com o qual cresceram.
Com esta regressada presença, a Liga reúne-se novamente para o clímax do filme que sem dúvida oferece os seus momentos altos, deixando que todos os membros mostrem o seu valor e provem que merecem o seu lugar na equipa.
Há tentativas de aceleração daquilo que deve ser um processo levado com calma e isso infelizmente pode retirar o foco daquilo que deviam ser elementos importantes e narrativamente essencial para o entendimento do público da história e da gravidade da situação. Mas como um todo, “Liga da Justiça” serve como a mais pura forma de entretenimento que se pode esperar de um filme de banda desenhada, com Batman, Mulher Maravilha (e um certo alguém que ressurge a meio) como exemplos de quem rouba as luzes da ribalta e quem tem mais desenvolvimento. Estes elevam o material escrito para si, vestindo as peles dos seus respectivos personagens lendários, aqui, mais do que nunca.
O filme nunca se afasta demasiado dos seus melhores personagens, ou dos seus melhores elementos no geral. Entende o quanto os heróis são importantes assim como aquilo que representam, e entende também como um filme consegue merecer os momentos narrativos mais inspiradores, não dependendo de filmes anteriores dedicados a certos personagens.