Devido ao gigantesco sucesso da série baseada nos comics de Robert Kirkman, “The Walking Dead”, os produtores e o próprio criador resolveram expandir o universo deste já limitado pequeno “mundo” ao criar uma nova série que funciona como companheira das aventuras de Rick Grimes e seus compinchas. Daí surgiu “Fear The Walking Dead” (sim, a originalidade do título está a olhos vistos…) e Kirkman, juntamente com Dave Erickson, escreveram um roteiro que se fixa numa família, de certa forma, disfuncional que aprende a sobreviver a um apocalipse em que precisarão de deixar a normalidade e aprender a tornar-se em pequenos estrategas e guerreiros. Com apenas seis episódios lançados, FTWD é um exercício de televisão completamente desnecessário; se se tornasse num anexo aos episódios da série que lhe deu origem não seria má ideia, uma vez que nenhuma das personagens deste “apêndice” parece ter carisma ou capacidade de carregar a narrativa primitiva do seu enredo.
Conhecemos então Travis Manawa, que é casado com Madison Clark que, por sua vez, tem dois filhos de um casamento anterior chamados Nick e Alicia. Travis foi casado com Liza Ortiz e, do seu amor, surgiu Christopher. Estas ramificações familiares são mais simples do que parecem… e, ao despoletar os primeiros indícios do apocalipse onde pessoas infetadas com um estranho vírus morrem e regressam à vida sequiosos por carne humana, conhecem Daniel, Ofelia e Griselda Salazar, donos de uma barbearia onde os nossos “heróis” se abrigam durante um momento de vandalismo por parte da população sobrevivente. Nick, filho de Madison, parece ter sido o primeiro indivíduo a presenciar em primeira mão o nascimento do vírus, mas os seus hábitos toxicodependentes põem em causa a sua credibilidade. Nisto, como medida de segurança, Travis e as suas famílias, juntamente com os Salazar, são resgatados pelas forças militares. Mas será que estão seguros? A resposta é tão óbvia que nem vale a pena responder.
Fear The Walking Dead podia tornar-se em algo bem mais emocionante do que a série que lhe deu origem, e as expectativas apontavam para que isso acontecesse. No entanto, as qualidades da série-mãe tornaram-se as maiores falhas deste spin-off. Isto porque o ritmo lento de The Walking Dead e que se torna um incómodo para muitos fãs, é refletido no desenvolvimento de personagens, bem como se revela uma tentativa de mistificação dos espaços que ocupam o dia-a-dia dos intervenientes seja ele uma quinta ou uma prisão ou um refúgio. Em The Walking Dead há uma evolução carismática das personagens: temos um Daryl e uma Michonne que associamos logo a momentos de ação, um Rick e filho que contribuem para o conceito de família e todos os restantes que possuem um propósito, bom ou mau, na história mas, acima de tudo, deixam o seu contributo para cativar os fãs a manterem-se fiéis à série. Em Fear The Walking Dead o que temos? Nada… o ritmo lento não possui sequer os valores que referi anteriormente, torna-se maçudo e incomodativo porque não contribui em parte alguma para manter a narrativa interessante. Mas o pior nem se transcreve através do ritmo, mas sim pela ausência de personagens cativantes e que vão adornando a temática pesada da série. Já para não falar de que a “explicação de como o vírus surgiu” não se torna sequer foco do guião, caindo por terra por se tornar exatamente uma espécie de nova versão rasca de The Walking Dead só que com personagens piores e história demasiado óbvia.
Numa série em que não há sequer inovação, o que se pode reter de positivo? A banda-sonora. Paul Haslinger sabe adaptar os temas aos momentos-chave dos episódios, contribuindo para criar uma atmosfera sombria e sentimentalista nas devidas situações. O desenvolvimento de personagens procura aumentar a dimensão emocional dos seus protagonistas, ao mesmo tem que tenta a todo o custo “puxar” por prestações decentes, destacando Frank Dillane que interpreta o filho toxicodependente de Madison. Mesmo assim, os resultados não foram suficientes para tornar as personagens minimamente interessantes e, portanto, Fear The Walking Dead é uma série a evitar, visto que não traz nada de original e criativo e que, como spin-off falha em transpor as qualidades que têm mantido The Walking Dead vivo durante estes anos que passaram.