O “franchise” dos Piratas das Caraíbas regressou aos cinemas com “Homens Mortos Não Contam Histórias”. Se é um regresso triunfal ou não pouco interessa, mas importa saber que Javier Bardem também está de volta.
Nascido em Las Palmas, o actor de 48 anos fez o seu melhor filme em 2007. Valeu-lhe o Óscar de Melhor Actor Secundário, que também ganhou o Óscar de Melhor Filme. Caso ainda não tenham percebido, estou a falar de “Este País Não É Para Velhos”, o nosso Filme da Semana.
É uma história vista por três perspectivas: Llewelyn Moss (Josh Brolin) depara-se com uma cena de matança e, por consequência, uns quantos milhões de dólares e heroína sem dono. A decisão de ficar com o dinheiro põe-lhe a cabeça a prémio. Anton Chigurh (Javier Bardem), o assassino contratado para recuperar o dinheiro, usa uma moeda para decidir o destino de quem se atravessa no seu caminho. Por fim temos o Xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones), o homem que tenta encontrar o responsável pelo aumento da violência na sua cidade.
Por onde começar? Talvez pela cinematografia de Roger Deakins (The Shawshank Redemption, The Big Lebowski) que, como sempre, é intocável. Para os irmãos Coen a fotografia é um aspecto chave, mesmo durante o processo criativo e, neste caso, na adaptação do argumento. Em ”Este País Não é Para Velhos” Deakins faz muito o uso de contrastes, e uma tela com cores pouco vivas. Isto contribui para aquele ambiente misterioso e de “medo” constante. Para além disto, a câmara é “lenta”, o que faz com que a nossa atenção não se vire para tanto para a acção, mas mais para a história e as personagens.
Juntamente com a cinematografia, outros dois grandes méritos deste filme são a edição de imagem e a edição de som e efeitos especiais de “Roderick Jaynes” e Skip Lievsay, respectivamente. O primeiro é devido ao facto dos irmãos Coen saberem até onde podem esticar uma cena, até onde podem ir para fazer o espectador sentir-se desconfortável e aumentar impacto. O segundo tem a ver com a opção de ser utilizada muito pouca música no filme, salientando aquilo que geralmente não se ouve: o som mais ambiente e mecânico.
Nota para os mais curiosos: coloco “Roderick Jaynes” entre aspas, porque este é um dos pseudónimos que os irmãos Coen utilizam.
Por fim, é obviamente necessário salientar as “performances” individuais. Josh Brolin e Tommy Lee Jones estiveram impecáveis. Mas foi Javier Bardem que mais se destacou. De todos os filmes que já vi, Chigurh deve ser o antagonista mais assustador que tenho memória. O simples facto de decidir se mata ou não, consoante o lado da moeda acrescenta toda uma camada de imprevisibilidade. A capacidade que Bardem tem para passar para o ecrã aquela intensidade, sem entrar em “overacting” não é para todos.
Interpretar “Este País Não É Para Velhos” não é uma tarefa fácil. É um filme sobre valores, valores que se tinham e que foram perdidos. Diferenças entre gerações na maneira de viver e de se relacionarem.
Numa das últimas cenas, a personagem de Tommy Lee Jones comenta que vão sempre existir pessoas como Anton Chigurh, sem valores. Talvez a grande diferença entre gerações esteja na abundância deste tipo de pessoas.