Com mais de uma dezena de filmes a chegar nos próximos meses, o Cinema Pla’net decidiu que estava na altura de entrevistar Bill Moseley para o Let’s Talk.
Ator enraizado no cinema de terror, participou em tudo desde “Massacre no Texas” a “Halloween”, passando por “A Casa dos 1000 Cadáveres” e “Os Renegados do Diabo”.
« Antes de tudo, um olá a todos os meus amigos e fãs em Portugal! »
Como foi interpretar Otis em “A Casa dos 1000 Cadáveres”?
Para “A Casa dos 1000 Cadáveres”, de início pensava que o realizador/argumentista Rob Zombie queria que interpretasse Otis como uma versão de Choptop (o meu papel na sequela do “Massacre do Texas”, 1986), mas o Rob, gentil e firmemente, levou-me a abandonar o Choptop e guiou-me a um Otis mais sossegado, sexy e igualmente perigoso e psicopata.
E como foi revisitar a personagem em “Os Renegados do Diabo”?
Interpretar o Otis em “Os Renegados do Diabo” foi a primeira (e única) vez que fiz o mesmo papel duas vezes! Por essa altura já conhecia o Otis muito bem. É como comprar um carro – se “A Casa dos 1000 Cadáveres” foi como visitar o vendedor e discutir o preço por um Otis, “Os Renegados do Diabo” foi do tipo, ok, comprei o carro, agora vamos levar o Otis pela estrada fora e ver o que podemos fazer! Não foi preciso “encontrar a personagem”, já o tinha feito no filme anterior. Logo, “Os Renegados do Diabo” foi mais desfrutar da personagem e levá-la até onde fosse possível.
Qual foi o processo de participar no trailer falso de “Grindhouse”*?
* “Werewolf Women of the SS”, de Rob Zombie, foi um dos trailers falsos exibidos entre os dois filmes de “Grindhouse” – “À Prova de Morte” (Quentin Tarantino) e “Planeta Terror” (Robert Rodriguez)
“Werewolf Women of the SS” foi um processo muito divertido. O Rob pediu-me para interpretar um cientista nazi, o Dr. Von Strasser. Tinha algumas ideias quando fui à sessão de guarda-roupa com o Rob; pedi para o doutor ter um espelho na testa, pedi uma bata branca e luvas de borracha. Para mim, a personagem é uma homenagem ao assistente de laboratório, Fritz, num filme “pouco refinado” da American International, “O Cérebro Que Não Podia Morrer”. Era um corcunda de braço torcido, a base física para o Dr. Von Strasser. Participar com a Sheri Moon e o Sybil Danning tornou tudo muito mais divertido. Até consegui fazer um sotaque alemão decente!
Pode falar-nos sobre como conseguiu o papel de Chop Top em “Massacre no Texas 2”?
Fui contratado para o Choptop em “Massacre do Texas 2”, do realizador Tobe Hooper, por causa de uma curta-metragem que escrevi, produzido e na qual tive um cameo, chamada “The Texas Chainsaw Massacre Manicure”. Um amigo meu deu uma cópia ao Tobe em 1984, dois anos antes da sequela. O Tobe adorou “Manicure”, principalmente o meu cameo do homem que dá boleia no “Massacre do Texas” original. Dois anos depois, enquanto o Tobe estava na pré-produção da sequela, o argumentista Kit Carson ligou-me uma noite e perguntou-me para onde me podia enviar uma cópia do argumento. Não falava com o Tobe desde há dois anos, por isso foi uma verdadeira surpresa receber aquela chamada. Li o argumento, adorei o papel de Choptop e telefonei ao Kit a contar-lhe isso mesmo. Ficou contente de o ouvir e disse que manteria o contacto. Na semana seguinte recebi uma chamada do departamento legal da Cannon Films a perguntar para onde deviam enviar o contrato! Estava em choque. Na altura, vivia em Nova Iorque, a escrever artigos para revistas, não tinha um agente! Tinha conhecido numa festa de Natal a agente do William Morris, e decidi ligar-lhe a perguntar se podia negociar por mim. Ela ficou feliz por fazê-lo, fechou o contrato, e assim voei para Austin, Texas, para fazer o papel de uma vida sem nunca ter conhecido o Tobe Hooper, quanto mais fazer uma audição! Pouco depois, acabei por conhecer o Tobe, foi divertido trabalhar com ele, e o resto, como dizem, é história.
Como se sentiu ao regressar ao mesmo franchise em “Texas Chainsaw: O Massacre” mas com uma personagem diferente?
Soube bem confiarem em mim para interpretar o papel do grande Jim Siedow, entretanto falecido, em “Texas Chainsaw: O Massacre”. Perguntei-me porque razão não queriam os produtores que repetisse o papel de Choptop, mas aparentemente tinham os direitos do primeiro “Massacre” mas não do segundo. Logo, com o Cook fiquei. Eu adoro o Jim Siedow, sempre adorei desde que nos conhecemos no set do segundo filme em 1986. A postura e os movimentos corporais do Jim foram difíceis de dominar, mas após alguma prática penso que os consegui reproduzir. Um dos produtores queria que eu usasse um “fato de gordo” porque pensava que o Jim era, enfim, gordo. Argumentei que ele era magro, até mesmo esquelético, mas o produtor insistiu. Quando filmámos “Chainsaw 3D” no verão, no Louisiana rural, a temperatura rondava os 40ºc com muita humidade o dia todo, durante a rodagem inteira! O fato, que tinha muito algodão, vestido entre duas t-shirts, absorvia toda a transpiração; no final do dia, o mais provável era pesar uns 7kg extra! Quente e transpirado, sim, mas orgulhoso de continuar o legado de Jim Siedow. Podemos ter de sofrer pela nossa arte, mas “Massacre no Texas” é Família!
Qual o filme que mais o assustou?
Filme mais assustador? O primeiro filme de terror que vi foi o “The Blob – Fluido Mortal”, o original – tinha 6 anos de idade e fiquei bem assustado! “Carnival of Souls – O Circo das Almas” deu-me um sobressalto quando o vi nos tempos de liceu no final dos anos ’60. E obviamente, “Massacre no Texas” impressionou-me para sempre.
Do outro lado do espectro, qual o filme que o fez rir às gargalhadas?
Mais divertido? Vi há pouco tempo “The Nice Guys – Bons Rapazes”, fartei-me de rir com o Russell Crowe e o Ryan Gosling.
Falando de comédia e terror, “Smothered” tem uma premissa interessante…
“Smothered” foi outro filme do Louisiana, tinha um grupo bem divertido com o meu parceiro, Kane Hodder, a fazer um grande trabalho como protagonista. Interpretei uma personagem do género Freddy Krueger, tive oportunidade de trabalhar com o hilariante R.A. Mihailoff (Leatherface!) [entrevistado pelo Cinema Pla’net no Let’s Talk #12] e a encantadora Brea Grant. História com uma ideia engraçada, boas pessoas e um quarto de hotel com vista para o rio Mississípi!
O que nos pode dizer sobre os seus próximos filmes?
Tenho alguns filmes a chegar. Ora vamos lá ver, três thrillers sobrenaturais: “The Church”, escrito e realizado por Dom Franklin; “American Exorcist”, escrito e realizado por Tommy Trov & Johnny Zito; e “The Possession Experiment”, escrito por Mary Dixon e realizado por Scott Hansen; duas comédias de terror chamadas “Cynthia” e “Shed of the Dead”; uma comédia pura e dura “Arlo: the Burping Pig”; e um filme sobre uma criatura selvagem, na Austrália, “Boar”, escrito e realizado por Christopher Sun, que também escreveu e realizou um slasher australiano em que participei há dois anos chamado “Charlie’s Farm”. Fiz recentemente um videoclip de heavy metal – tenho outro a surgir – e escrevi e cantei as letras de 6 canções com o vocalista dos Pantera, Phil Anselmo, para “Phil & Bill: Songs of Darkness & Despair”, que deve sair daqui a uns meses. Para mais informações, sigam-me no Twitter e Instagram (@choptopmoseley) e podem sempre visitar o meu website, choptopbbq.com .
Vai interpretar uma personagem de nome Father Ethan em “86 Zombies”. Como é fazer parte de uma série televisiva de terror?
“86 Zombies” ainda se encontra em negociações, é tudo o que posso dizer sobre o assunto.
Há algum realizador com quem gostaria de trabalhar mas que ainda não teve oportunidade?
Adorava trabalhar com Guillermo del Toro, Quentin Tarantino e James Wan, mas quem não adoraria?
De novo, muito obrigado,
Bill Moseley