Convidado da 12ª edição do MOTELX (4 a 9 de setembro), Oliver Kienle deu uma entrevista ao Cinema Pla’net sobre os seus projetos no cinema e televisão.
O que o levou a fazer a série “Bad Banks”?
A produtora da série, Lisa Blumenberg, perguntou-me se queria fazer uma série sobre uma jovem mulher em investimentos bancários. No início estava muito céptico porque tinha muitos dos típicos preconceitos contra os banqueiros. Mas depois de fazer muita pesquisa percebi que podia criar um universo muito interessante de personagens, todas elas em busca de satisfazer fortes necessidades humanas. Da mesma maneira que as personagens na série ficaram viciadas nas suas profissões, eu fiquei viciado em descobrir o que faz mover estas pessoas tão ambivalentes, irrequietas e extremamente inseguras.
De que maneira Paula Beer tornou-se protagonista da série? O que gostou mais na sua personagem, Jana Liekam?
Na verdade a Paula era demasiado jovem para o papel. Durante um longo tempo estávamos a fazer um casting para atrizes mais velhas, mas simplesmente não conseguíamos encontrar a certa. Portanto decidimos tentar com a Paula, que na altura só tinha 21 anos. Ficámos imediatamente fascinados por ela conseguir transmitir um lado humano e uma face misteriosa a esta personagem claramente conduzida pela carreira. Acho que é importante para uma série ter um lado de forte desenvolvimento da personalidade e um outro lado de uma lenta descoberta do que está verdadeiramente a guiar esta pessoa. Olhar sempre para o futuro e passado de uma personagem ao mesmo tempo.
Vários realizadores consideram que uma série/mini-série permite-lhes desenvolver melhor a história e as personagens, outros pensam que a virtude encontra-se em conseguir concentrar tudo na duração de um filme. Qual é a sua opinião?
Para mim as séries são a antítese narrativa dos filmes. Em poucas palavras: Num filme está a contar-se uma mentira. A mentira que uma personagem segue é “Querer” e tem de encontrar e aceitar o “Precisar” para ser feliz. Uma série manda isto às urtigas. Os seres humanos dividem-se entre “Querer” e “Precisar” a vida toda. Portanto uma série mostra a batalha de emoções e desejos de uma personagem mas nunca a força mesmo a escolher ou mudar. Tanto as séries como os filmes são muito fascinantes de desenvolver, mas temos de compreender que têm mecanismos narrativos completamente diferentes.
“Stronger than Blood” recebeu muitos prémios no circuito de festivais. Qual é o sentimento que prevalece sobre o filme e o reconhecimento que lhe trouxe?
Uma vez que este filme foi de certa maneira uma história autobiográfica e trabalhei de forma muito intuitiva no argumento, fiquei muito feliz e tocado pelas reações que causou nos cinemas e nos festivais. Mas precisei de algum tempo para refletir e analisar que quintessência mais profunda e universal o filme contava sobre a amizade.
Em 2017 apresentou “Four Hands” no Munich Film Festival, de onde surgiu a inspiração para esta história das duas irmãs?
A inspiração do filme surgiu de um trauma com o qual ainda me debato. Durante a terapia aprendi que temos de aceitar ambos os lados que se encontram em nós e lidar com o trauma de uma maneira muito diferente. Um trauma divide a mente. Daí que, para mim, as duas irmãs no filme representam os dois lados de uma alma traumatizada.
Realizou um episódio de “Tatort”, uma série que tem quase 50 anos. Como foi fazer parte de um projeto que perdura desde há décadas?
Por um lado é um bocado frustrante ter fronteiras bem definidas. Por outro lado é ótimo e incrível oferecer entretenimento para mais de 10 milhões pessoas durante uma única noite. É uma experiência que muito provavelmente nunca terei com um filme no cinema.
Há algum ator/atriz que sonharia dirigir?
Claro que há muitos grandes atores com quem gostaria de trabalhar. Mas o que mais adoro é encontrar novos talentos e trabalhar com novas caras que ainda não são famosas e dão tudo num papel.
Tendo nascido nos anos ’80, qual é o seu filme favorito dessa década?
Não tenho bem um filme favorito dos anos ’80 porque todos os filmes que me inspiraram e me formaram saíram nos anos ’90 quando tinha mais de 10 anos de idade, como por exemplo “Goodfellas ”, “Kids”, “Matrix” ou “Fight Club”. Mas claro que adoro “Breakfast Club”, “Raging Bull”, “Full Metal Jacket” e “An American Werewolf in London”.
Já tem um próximo projeto em mente? Num futuro próximo vê-se mais no cinema ou na televisão?
Ambos. Por agora estou a trabalhar numa comédia para cinema que escrevi e espero realizar no próximo ano. Em paralelo estou a trabalhar na segunda temporada de “Bad Banks” que será filmada no início de 2019. E depois tenho um projeto para uma nova série que pretendo escrever muito em breve…
Quais são as expectativas para a sua vinda a Lisboa em setembro?
É a minha primeira vez no país! Espero encontrar uma bela cidade, com dias bem quentes, muita gente bonita e comida deliciosa 🙂