Rui Pedro Sousa é um dos cineastas que apresenta um novo projeto no MOTELX deste ano. O seu filme Insanium é mais um produto do seu trabalho como realizador, bastante focado no género de terror.
O Cinema Pla’net conversou um pouco com Rui Pedro Sousa de modo a sabermos um pouco mais acerca da sua carreira na sétima arte, bem como do seu novo filme Insanium. Trata-se de uma curta que mostra o percurso aterrorizante de dois irmãos, posteriormente a terem descoberto um cadáver numa floresta.
Para quem não te conhece fala-nos um pouco sobre ti.
Sobre mim: Rui Pedro Sousa, nascido em Aveiro em 1986. Vim para o Porto em 2008 com o sonho de estudar Cinema. Ingressei na ESAP – Escola Superior Artística do Porto, onde estudei Cinema e Audiovisual tendo completado o segundo de três anos.
Após o final do segundo ano fui convidado a trabalhar na empresa Lightbox do Porto onde trabalhei durante sete anos em Motion Graphics e Efeitos Visuais. Durante este período realizei a curta-metragem Tsintty em 2012, um projecto rodado aos fins-de-semana com amigos e colegas num processo que nos demorou dois meses. Dois anos depois em 2014, e de novo com filmagens de fim-de-semana levei os próximos dois anos (até 2016) a produzir a média-metragem Limbo.
Saí da Lightbox rumo a Londres em setembro de 2016 onde estive durante um ano a criar um grande numero de contactos. Foi neste período que falei com a Station Productions, que acreditou em mim, e me abriu verdadeiramente as portas para seguir o sonho da realização. Com eles trabalho ainda regularmente como realizador em Spots Publicitarios e claro Ficção, com este Insanium e uma curta de comédia, George.
O que te atrai para o género de terror? Apesar de muitos dos teus projetos serem focados neste género tens algum outro que gostes?
O terror sempre me criou um certo fascínio desde criança. A capacidade que o terror tem de mexer connosco, de nos deixar inquietos seja no conforto da sala de cinema ou no aconchego da nossa casa. E esse fascínio sempre me fez querer desafiar a mim mesmo a tentar criar esse desconforto no espectador.
Mas, e apesar das minhas últimas curtas terem esta componente, o terror não é de todo o meu género de eleição. Gosto muito de drama social, de poder explorar problemas que as pessoas identifiquem facilmente e poder falar deles abertamente colocando o público a discutir os assuntos postos em cima da mesa pelo filme.
De que se trata Insanium? Como surgiu a ideia da história?
Insanium é um thriller de Terror sim, mas como disse, tem também um pouco de terror psicológico e liga-se um pouco ao que já falei anteriormente, sem querer revelar muito da história para não estragar a experiência a quem ainda for ver o filme.
Insanium surgiu quando estava a morar em Londres. Em Londres foi-me enviado um argumento chamado Zombie do escritor Joey Fidler dos Estados Unidos. Era uma mini curta, super interessante, que eu decidi logo na primeira leitura que queria fazer. Ao mesmo tempo eu tinha duas curtas originais escritas e, junto com a Station, decidimos produzir as três curtas. Na altura, nenhuma tinha a ver com a outra e foram planeadas como filmes sozinhos com atores diferentes.
Já numa fase muito avançada do processo, depois das filmagens do zombie e ainda antes das filmagens do Whispers e do Awoken vi que havia a possibilidade de juntar as três curtas (como volumes ou capítulos) de um só filme (ou como se fosse uma trilogia).
E assim nasceu Insanium, uma história sobre dois irmãos contada em partes.
Que implicações teve a produção do filme? Qual a localização e porquê a escolha desse local?
A primeira parte do filme foi rodado em Londres perto dos estúdios Pinewood na Black Forest onde se filmaram filmes como Star Wars, Harry Potter ou Capitão América. Foi usada uma equipa totalmente britânica, sempre com a supervisão da Station (a produtora Portuguesa) que fez voar de Portugal o equipamento de filmagem.
As restantes partes foram já Rodadas em Portugal com grande parte da equipa Portuguesa fazendo voar alguma equipa e todo o elenco durante uma semana para rodar cá. Esta decisão foi tomada primeiro porque Portugal nos oferece condições muito boas e a um bom preço e porque na procura da casa perfeita para o filme a mesma foi encontrada em Vila Nova de Gaia e a produção decidiu então mudar toda a produção do filme para Portugal.
Como acreditas que vai ser a receção ao teu filme?
É uma pergunta complicada de se responder sendo totalmente honesto. Mas sendo sincero tenho a certeza que será recebida como qualquer obra de arte, seja cinematografia ou não.
Muitos vai adorar, outros tantos não irão gostar mas importante para mim é que seja visto, que as pessoas tenham opinião sobre o filme e que consigam discutir os temas a que o filme se propõe discutir. Claro que pretendo acima de tudo entreter as pessoas e surpreende-las em cada capítulo do filme e creio que muito público ficará surpreso com os twists que fomos criando.
Podes-nos falar de outras produções que tenhas feito antes de Insanium?
Antes do Insanium fiz em 2012 a minha primeira curta-metragem “Tsintty” que me valeu alguns prémios incluindo o Rising Star Award no Canadá International Film Festival e mais recentemente em 2016 uma média metragem de nome “Limbo” baseada num conto de Guy de Maupassant. Demoramos cerca de dois anos desde pré-produção até a estreia a fazer este filme e foi o projecto que me fez crescer como cineasta.
Antes de Insanium e com Produção da Station fizemos uma curta de comédia atualmente no circuito de festivais “George”
Tens, por assim dizer, algum fator distintivo no teu trabalho em relação a outros do género?
Recentemente, e até como trabalho de estudo para o meu próximo projecto, vi cerca de cinco filmes de terror e todos tinham em comum algo que me deixou sempre inquieto. Todos eles funcionam apenas e só como formas de entretenimento não se esforçando para fazer algum sentido ou transmitir alguma moral ao espectador.
Vi um filme sobre um assassino que mata só porque sim, e que no fim consegue matar todas as suas vítimas e as personagens não evoluem, não crescem, apenas entretém os espectador. Não me interpretes mal quando digo que são na mesma filmes viáveis e importantes para quem ama o género mas a mim chateia-me quando um filme não tenta, pelo menos, dizer-te algo.
E bem ou mal, se o conseguir fazer ou não, e dependendo tudo da forma como o público entende a mensagem do filme creio que tento sempre fazer algo com que as pessoas se consigam identificar. Preocupo-me sempre em fazer um filme que tenha algo a dizer, entretendo na mesma.
Há algum projeto futuro que gostasses de partilhar?
Estou já a trabalhar um próximo projeto sim, uma longa-metragem e estou em conversas com produtores do Reino Unido e Estados Unidos, com ligação à Station a partir de Portugal. Ainda estamos em conversações mas o projeto existe. O argumento de um escritor americano é brilhante e vamos ver no que da.
Achas que a área de cinema está a começar a ter futuro em Portugal?
É sempre uma pergunta difícil de se responder sem ferir susceptibilidades. Eu acho que o cinema em Portugal nunca deixou de ter futuro, nós somos muito bons artisticamente e temos cineastas com muito talento por este pequenino mas tão grande país.
Se me perguntares se as oportunidades para os novos talentos Portugueses estão a crescer? Dir-te-ia que ainda há um caminho a percorrer e que as oportunidades têm de ser dadas aos “mais pequenos” para que também a nossa arte seja renovada. Não quer isto dizer que se devem cortar com os costumes ou parcerias criadas com os nomes mais sonantes do cinema Português mas sim tornar o acesso ao cinema e ao fazer cinema mais abrangente.
Se a arte Portuguesa já é tão valorizada lá fora com os poucos nomes a quem as oportunidades são sempre dadas, imagina até onde não poderia ir o nome “Portugal” se a todos fosse dada a chance de ter uma fatia desse mesmo bolo.