Depois de muitas curtas, Paul Urkijo aventura-se agora nas longas-metragens. O Cinema Pla’net entrevistou o realizador do País Basco.
De “Jugando con la morte” até “El Bosque Negro”…
Fiz 15 curtas-metragens nos últimos 15 anos. Estudei Belas Artes mas os meus estudos cinematográficos são na prática a realização daquelas curtas. Para mim “Jugando con la muerte” é um conto sobre a solidão, uma história profunda e triste, com uns toques de humor, mas acima de tudo muito pessoal. Acabou por ser um grande salto na qualidade relativamente às curtas que fiz anteriormente. Havia um set construído, maquinaria profissional, uma grande equipa… Em “El Bosque Negro” tentei fazer uma história mais arrepiante e poderosa, com valores de produção mais ambiciosos: Lutas, monstros, atmosfera…
“El Bosque Negro” recebeu vários prémios e até foi nomeado a um prémio no Fantasporto…
Desfrutei muito de rodar esta curta. Adoro desenhar criaturas, as lutas, fazer a direção artística… Tentei fazer uma fantasia negra com alguma aventura. Uma história simples com produção ambiciosa. Filmámos tudo em 4 dias… e tivemos muitos problemas… Dá para ver o making-of na internet: Problemas com animatronics, o cavalo ficou maluco e atirou o ator na sua armadura metálica de 40kg ao chão… foi a loucura total! Mas no final tudo acabou bem. Gostei imenso de combater esses problemas. Acho que isso sim é a verdadeira realização e aprendi muito!
De onde surgiu a ideia para “Errementari: The Blacksmith and the Devil”?
Em criança tinha um conto basco “Patxi Errementaria” e adorava lê-lo. Era divertido como o ferreiro era pior que o diabo e como o tratava mal. Fez-me ter pena dos demónios. No País Basco tínhamos muita mitologia pagã e fábulas. Em 1903 um padre famoso, J.M. Barandiaran reuniu muitos desses contos, sendo que “Errementari” é inspirado neles. O conto pertence assim a um compêndio de fábulas europeias sobre os demónios que falham na captura da alma humana e acabam por ser punidos pelos próprios humanos.
Senti que havia muitos ingredientes a desenvolver em “Patxi Errementaria”: colocá-lo numa determinada era histórica, adicionar personagens e novas situações… Podia criar um belo filme de terror gótico com humor negro. O filme fala sobre o inferno num nível gráfico, literal, um lugar perturbador, Dantesco (na linha da mitologia cristã). Mas também descobrimos o inferno no seu estado psicológico que está claramente ativo na mente de cada personagem.
Cada um deseja escapar ao seu inferno pessoal e descobrem que para isso têm de quebrar as regras, ultrapassar prencoceitos e aprender a perdoar, para conseguir seguir em frente. Tentei contar a história, que lida com temas adultos, de uma maneira que fizesse as pessoas sentirem-se crianças outra vez.
Como foi passar das curtas-metragens para as longas-metragens?
Há muito mais pressão no desempenhar das funções porque o orçamento é maior. Tento não pensar nisso. Para mim a maior diferença é a força física e psicológica a manter durante umas sete semanas de filmagens. Neste caso o orçamento era pequeno para o tipo de filme e muitas vezes era preciso mudar sequências e o storyboard, eliminar diálogo, no próprio dia. Portanto o mais importante é confiares em ti próprio.
Em quem se inspira para a realização dos seus projetos?
Do lado clássico da fantasia e monstros pessoas como Georges Méliès, Todd Browing, Hammer, Ray Harryhausen… Do lado da fantasia moderna, os filmes de Terry Gilliam, Alex de la Iglesia, Peter Jackson, Jim Hemmson, Guillermo del Toro…
Para um próximo projeto…
Será igualmente uma fantasia histórica, baseada noutro conto mitológico da minha cultura basca. Com mais monstros!
Paul Urkijo estará presente no MOTELX com a sua primeira longa-metragem.