Mais conhecido pela sua participação em “Idiotas, ponto” o Cinema Pla’net esteve à conversa com Duarte Grilo, que participou recentemente em “Carga” e na série “Sul”.
Participou em todos os projetos fílmicos de Bruno Gascon. De onde surgiu esta colaboração permanente que até agora culminou na longa-metragem “Carga”?
A colaboração entre nós surge da busca do Bruno para a sua curta-metragem “Boy”. Chegou até mim através da Tânia Melo Rodrigues, Produtora da Companhia do Chapitô, com quem colaboro. Lembro-me de nos termos encontrado, O Bruno, a Joana Domingues e eu, num cafezinho ali no Campo Grande. A partir daí foi tudo muito natural. A conversa fluiu, o entendimento e o trabalho também. Para além de o Bruno ser um grande profissional, como poucos, é uma pessoa de uma generosidade incrível, de uma bondade gigante, e de uma compreensão e amizade invejáveis… O resto está escrito!
Bruno Gascon falou-nos das duras filmagens de “Boy”, especialmente para o Duarte. Pode contar-nos o seu ponto de vista?
Foi um processo no qual pela primeira vez, eu decidi ser um bocadinho inconsciente. O personagem era bastante forte, com bastantes perturbações mentais, sociais. Vivia completamente isolado e preso por uma corrente ao pescoço. E assim decidi viver, durante 3 semanas (excepto a corrente). Vivi isolado no meu quarto, sem banho, sem higiene, a comer atum e maçãs. Perdi 13 kg, e estava com muito mau aspecto. A rodagem em si foi mágica. Eu e o Bruno falámos e chegamos a conclusão que a respectiva corrente deveria ser uma corrente real, pesada… e conseguimos uma com mais de 40 kg. Escusado será dizer que ao fim de 4 horas já não aguentava o tira/põe a corrente, com o pescoço em ferida e magoado, percebemos que no dia a seguir ia ser muito pior, portanto decidimos filmar tudo seguido. Foram perto de 20 horas de rodagem seguidas. Sei que a partir de uma certa altura perdi a noção de tempo, espaço. O Bruno conta (eu não me recordo muito claramente), de que numa das pausas para a equipa comer, eu pedi um paracetamol, um café e um cigarro, e fiquei ali, de corrente ao pescoço. Foi muito duro para mim e para toda a equipa. Foram uns guerreiros. Para além disso, a maior parte dos planos foram filmados em sequência.
Como foi participar em “Carga”, um filme forte que chama a atenção para uma dura realidade?
Foi um prazer. Trabalhar com o Bruno e a Joana novamente, num filme com tantos colegas actores que eu respeito tanto, sobre um tema com este peso e com um personagem relativamente difícil de fazer, foi um presente. Foi uma dádiva. Para mim o cinema deve alertar, deve chamar a atenção para problemas mundiais, deve alertar a sociedade. Saber e ouvir todas as histórias reais foi duríssimo. A Rodagem tinha um ambiente super místico… Foi um projecto muito bom de se fazer, toda a gente envolvida o abordou com muito respeito e cuidado.
Como foi a dinâmica de grupo de “Idiotas, ponto”?
O que dizer? Talvez o Diogo Lopes tenha escrito propositadamente para nós, talvez não. O que é certo é que entre o André Nunes, o Salvador Sobral e eu, as coisas não fogem muito daquilo. Foi tão divertido fazer, que fazia sem pensar mais 2 temporadas. Conhecemo-nos faz tempo, por isso temos uma dinâmica muito forte. A ajudar à festa, tínhamos uma equipa maravilhosa, cheia de bom humor, bons profissionais, o guião é de chorar… Imagina gravar aquelas cenas com uma equipa de pessoal bem disposto e brincalhão… Era uma pequena família de gente doida, que passava os dias a rir.
Ainda há mais histórias do trio por contar?
Se há…. A par da imprevisibilidade vêm as histórias caricatas. Ficam histórias da rodagem por contar, ficam desfechos, cenas inventadas, situações possíveis, muitos “E se agora acontecesse isto…” Confesso que torço todos os dias por uma segunda temporada. RTP… Por favor!!!
“Al Berto” valeu-lhe uma nomeação aos prémios Sophia. Como foi trabalhar num projeto tão pessoal/familiar para Vicente Alves do Ó?
Trabalhar com o Vicente é uma experiência ímpar, ainda para mais num filme tão pessoal, tão dele. Um filme biográfico onde as pessoas retratadas estão vivas (grande parte). Foi um filme feito com muito amor e isso estava muito presente em cada cena. Estar “de fora” a ver os colegas e o Vicente faz-te perceber onde estás, porque é que estás ali….com que intenção o filme está a ser feito. E com um bocadinho de perspicácia percebes que é um filme de amor. O personagem ao qual dou vida é o Zé. Infelizmente não o conheci, e muita gente nunca mais soube do paradeiro dele. Soube-se que fugiu da prisão, foi apanhado no estrangeiro, voltou a ser preso e a fugir…. a partir daí ninguém sabe. É um personagem maravilhoso que em meia dúzia de cenas mostra bastante. Conjugar todo esse amor, todo esse mundo, com o Vicente e restante equipa e elenco, foi viver naquela época, com aquelas pessoas durante aquele tempo.
O que nos pode dizer sobre “Sul”?
Posso dizer que vai ser uma grande série do Ivo. O que se pode dizer quando tens o Pimentel, o Canelas, o Adriano Luz, a Margarida Vila Nova, dirigidos pelo Ivo, com uma história destas? É surreal trabalhar directamente com o Canelas… Foi uma série onde pude jogar com os meus colegas, pude tocar ao vivo, compor para a série, dar porrada no Pimentel… Uma experiência e tanto…
Das peças de teatro em que participou que personagem lhe apresentou um maior desafio?
Todas. Ainda que algumas sejam mais marcantes… O Macbeth, da Companhia do Chapitô, por exemplo. A besta do “Belo, Feio e Assim-Assim”, que traz muitas recordações. Todas as personagens das Obras Completas de William Shakespeare em 97 minutos… É muito dificil responder a esta pergunta! 🙂
Entre cinema, televisão e teatro, dá preferência a algum dos três?
O cinema e o teatro estão no meu coração por motivos igualmente fortes e diferentes. A televisão dá-te uma estaleca gigante, uma super agilidade de pensamento, mas se tivesse de escolher… Seria uma grande luta entre o Teatro e o Cinema.
Que personagem gostaria muito de interpretar e porquê?
Todas as que estão para vir. Venham elas! Porquê? Porque o melhor ainda está para vir!
“Carga” já está disponível em VOD. “Sul” terá os seus dois primeiros episódios exibidos no IndieLisboa e estreará na RTP ainda este ano.