James Wan apresenta “Maligno”, a sua ‘pequena ideia’ de 40 milhões de dólares entre filmes do “Aquaman”.
“Maligno” é ridiculamente ridículo e só por isso já vale a ida ao cinema (com desconto).
Realizador de grandes filmes de terror do século XXI como “Saw – Enigma Mortal”, “The Conjuring – A Evocação” e “Insidioso”, James Wan apresenta o seu filme de terror menos consistente quer na história como no estilo visual, mas que mesmo assim não deixa de ser um momento no mínimo divertido numa sala de cinema, a sentir-se o medo e as gargalhadas de uma plateia cada vez mais sem saber o que está mesmo a ver.
Misturando referências ao terror italiano dos anos ’80 (giallo), ao terror americano dos anos 2000 e a videojogos estilo “Silent Hill” e “Resident Evil”, James Wan masteriza os três, mas sem grande coerência entre uns e outros, criando um filme que visualmente parece a amálgama de vários.
Por outro lado, os diálogos tanto são levados a sério como inesperadamente surgem linhas de diálogo que claramente levam a gargalhadas por parte dos espectadores, mas enquanto certos filmes fazem-no inconscientemente, aqui parece um ato deliberado que só mina a já fraca consistência dos diálogos.
Annabelle Wallis, que tem tido mais sorte nos seus papéis televisivos (“Peaky Blinders”, “The Loudest Voice”) que no cinema (“A Múmia”, “Annabelle”), tenta dar a sua prestação mais credível, a uma mulher que experiencia nos seus sonhos homicídios que estão a decorrer ao mesmo tempo na realidade. Mas se a premissa parecia ter potencial para um bom filme de terror, a verdade é que as reviravoltas demolem as fundações do enredo elevando o nível de ridículo até rebentar a escala e aí não há atriz que consiga parecer credível.
No meio disto tudo as capacidades físicas e mentais do vilão não fazem qualquer sentido à medida que o argumento oferece as suas explicações para o que está a acontecer.[SPOILERS LEVES] Aquilo que deveria estar ancorado na realidade pela explicação do filme, ultrapassa os limites das artes marciais, já para não falar na capacidade de comunicar mentalmente através de rádios e telemóveis. [FIM DOS SPOILERS]
Os 40 milhões de dólares empregues em “Maligno”, ao mesmo tempo que garantem uma boa direção artística e efeitos visuais (com destaque para a cena nos subterrâneos de Seattle e as transições sonho/realidade, respetivamente), acabam por funcionar contra a aceitação do filme por parte do espectador.
Pois este é um caso particular de um projeto mais fácil de ‘digerir’ com um muito baixo orçamento, como se se tratasse de um filme da The Asylum (responsável por pérolas do cinema de terror de série Z) mas com um realizador com capacidade artística para fazer algo melhor.
No final, vale a pena ver o filme pela experiência diferente de uma história totalmente ‘passada dos carretos’, mas não se enganem pensando que vão assistir a algo que se leve a sério. “Maligno” teria melhor qualidade se fosse mais sério ou mais ridículo, mas ficando pelo meio, não é demasiado mau para ser bom, nem tão mau que seja intragável.
“Maligno” estreou a 9 de Setembro nos cinemas.