7 anos depois do êxito incrível de “A Gaiola Dourada”, Ruben Alves apresenta outro grande filme, “Miss”!
Alexandre Wetter é uma das revelações do ano no papel principal…
Mais de 760 mil espectadores marcaram presença nos cinemas portugueses em 2013 para assistir à grande comédia do ano “A Gaiola Dourada”, sobre “…uma família portuguesa, com certeza!”. Em França, foram mais de 1,1 milhões de espectadores e o sucesso replicou-se ainda em territórios como Alemanha, Austrália e Espanha… Nos meses seguintes, o filme venceria o Prémio do Público nos European Film Awards e seria nomeado ao César de Melhor Primeiro Filme.
Os anos passaram e a pergunta de muitas pessoas era “Afinal por onde anda o próximo filme de Ruben Alves?”. A resposta chega agora, no turbulento ano de 2020, e após sucessivos adiamentos de Abril a Novembro, devido à pandemia. Mas o resultado final valeu a espera.
“Miss” é daqueles filmes que muito facilmente poderia ter falhado redondamente, partindo por um mar de clichés e caricaturas em prol de gags mal amanhados e infantilizados. Felizmente, o resultado é exatamente o oposto, uma obra humana, sensível e com coragem para abordar temas de identidade de género, objetificação sexual das mulheres e liberdade de pensamento.
E quem de melhor para entrar na pele do protagonista que Alexandre Wetter. “Miss” é um filme talhado à sua medida. Modelo andrógeno que encantou a passerelle em Paris durante um desfile de Jean Paul Gautier em 2016, mas também em grandes campanhas publicitárias.
Não seria de espantar se o desempenho de Wetter em “Miss” lhe garantisse nomeações a Prémios Revelação, quando chegar a habitual temporada de prémios, neste que é um talento promissor do cinema francês.
O ator tem aqui o seu primeiro papel de protagonista no cinema, interpretando Alex, um jovem que desde criança tem o sonho de se tornar Miss France. Já em adulto, órfão, com pouco dinheiro e a trabalhar nas limpezas, decide que está na altura de tentar concretizar o seu sonho e tornar-se numa mulher capaz de vencer o concurso de beleza.
Fugindo ao percurso mais fácil de divertimento simples para as massas, o filme apresenta-nos uma aventura plausível e com várias nuances. “Miss” percorre todas as etapas da preparação até à grande cerimónia, desde a seleção das candidatas ao período de ensino e promoção, mostrando assim os bastidores de um concurso do qual geralmente apenas conhecemos o programa televisivo.
Neste percurso as candidatas são preparadas pela personagem de Pascale Arbillot, que a certo momento afirma: “Sabe o que distingue a excelência da vulgaridade? Alguns milímetros.”
Falando de Arbillot, a sua personagem de coordenadora do concurso defende que este serve para que as mulheres se afirmem em toda a sua feminilidade e que estão no seu direito e total controlo do seu corpo.
Em contraponto da personagem interpretada por Isabelle Nanty, uma figura maternal para o protagonista, que defende que este tipo de concursos serve apenas para sexualizar e objetificar o corpo feminino. Representando lados opostos do tema, as duas personagens tentam encontrar um meio-termo, e é esse ponto que também na realidade temos de alcançar.
Outra personagem igualmente interessante é interpretada irrepreensivelmente por Thibault de Montalembert (conhecido de séries como “The Tunnel” e “Dix pour cent”). Lola é o amigo travesti de Alex, que ganha a vida na prostituição. Numa idade em que já poucos lhe pagam para andar com ele, Lola dedica-se afincadamente a Alex para ajudá-lo a encontrar o seu lado feminino.
Para um tipo de personagem que costuma ser encarado de forma caricatural, o trabalho de preparação do ator Thibault de Montalembert e do realizador Ruben Alves, fazem desta Lola uma personagem realista e memorável.
Com bons valores de produção, desde a direção artística ao guarda-roupa, “Miss” posiciona-se acima do recente “Mulheres ao Poder”, sobretudo pelo argumento, num muito melhor desenvolvimento das personagens e dos valores que representam.
O resultado é um ‘feel-good movie’, que apesar de estrear num período difícil, merece sem dúvida a ida à sala de cinema. Em França, após sucessivos adiamentos, acabou por estrear uma semana antes de um novo confinamento, estando agora previsto um relançamento em sala para 15 de Dezembro. Em Portugal, foi o filme de abertura da Festa do Cinema Francês e viu também a sua estreia adiado sucessivamente até que, numa jogada totalmente inesperada, foi anunciado para 26 de Novembro, a apenas dois dias da data.
“Miss”, de Ruben Alves, encontra-se em exibição nos cinemas desde 26 de Novembro. Brevemente apresentaremos as entrevistas ao realizador e ao protagonista.