“Mulherzinhas” adapta o livro de 1868 que acompanha a história de quatro irmãs durante a Guerra Civil Americana. Este já é o terceiro filme que conta esta história sendo que a primeira adaptação surgiu em 1949, realizada por Mervyn Leroy.
Não me interpretem mal, mas não sou o maior fã da realizadora Greta Gerwig. Apesar de ter gostado do seu filme anterior, “Lady Bird” não o achei um dos melhores filmes desse ano, muito menos um candidato aos Oscars. No entanto, estava curioso com o seu novo projeto, muito devido ao elenco que conta com nomes de peso como: Emma Watson; Saoirse Ronan; Meryl Streep e Timothée Chalamet.
Apenas o facto de esta ser a terceira interpretação desta a história leva o espectador a questionar se haveria ou não necessidade de voltar a adaptar o livro para o grande ecrã. Eu sou de opinião que Hollywood deveria apostar em filmes com conceitos novos e inovadores, contudo, acho que existem histórias que merecem ser recontadas para as novas gerações. Por vezes resulta, um exemplo recente é o filme “Assim Nasce Uma Estrela”, cuja nova versão do clássico de 1937, se destaca através de uma realização e performances energéticas que por sua vez atualizam a antiga história a um novo público. Porém, isto nem sempre resulta. O exemplo mais recente talvez seja o live-action remake de “O Rei Leão”, uma produção que se limita a contar o mesmo filme mas desta vez em live-action o que acabou por reduzir a emoção e fantasia de certas cenas por serem demasiado realistas.
Vistas as coisas, talvez um remake possa renovar uma história e fazer um bom filme, por vezes até um filme melhor. No caso de “Mulherzinhas” nunca vi nenhuma das versões anteriores e estava ansioso por conhecer esta história nova. Porém fiquei desiludido por encontrar uma história um tanto convencional ainda que com diversos pontos positivos.
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Como escritora e realizadora Gerwig demonstra controlo e precisão ao apresentar as suas personagens. A realizadora dá tempo para que o espetador observe a vida individual de cada uma das irmãs para que fique a conhecer os seus sonhos e maneirismos. Assim conhecemos Jo March que pretende ser uma escritora de renome, Amy, com sonhos de se tornar uma pintora, Beth que adora o piano, e Meg, talvez a mais normal das irmãs que sonha em ter uma família e lutar por ela.
Todas estas personagens são muito bem desenvolvidas em especial quando estão juntas. O elenco faz maravilhas ao entregar um texto lírico com naturalidade e carisma em sequências cheias de ritmo e energia. É no seio familiar e amizade destas irmãs que se encontra o coração da história.
O elenco é sem dúvida o ponto mais forte, em especial Florence Pugh. A atriz convence seja na ingenuidade de uma Amy adolescente e invejosa pelo sucesso da irmã mais velha ou na dor de uma mulher que passou a sua infância a ressentir o sucesso da sua irmã. Saoirse Ronan carrega muito bem o fardo de uma escritora feminina do século XIX e todas as limitações que isso acarreta.
A cinematografia do filme é vibrante. A paleta de cores varia entre o passado e o presente, sendo que o passado é repleto de cores vivas e tons lúcidos que banham a tela como um quadro impressionista. Já o presente é cristalino como uma janela para a realidade sórdida na qual as personagens se encontram. Sem dúvida um dos filmes visualmente mais bonitos do ano.
…A cinematografia e performances impecáveis são o ponto forte de um filme…
Apesar de uma excelente estética, energia e ótimas performances é na história que o filme deixa a desejar. A estrutura é muito simples. Temos aqui os típicos conflitos da “sonhadora cuja carreira não é levada a sério”, já vista em tantas outras histórias. Aqui isso é representado com Joe March cujo desejo de prosseguir carreira na escrita é constantemente impedido pelos rótulos que a sociedade impõe, seja sobre preconceitos entre géneros ou até mesmo liberdade criativa.
Não só isto mas o filme também entrega o típico romance do rapaz loucamente apaixonado e da rapariga que também está apaixonada mas não sabe bem o que quer. No fim das contas a história do filme não traz nada de novo. Temos aqui um drama/romance de época cuja história já foi vista em diversos outros filmes, o que me leva a pensar que talvez não houvesse necessidade de voltar a contar esta história.
A estrutura do filme é algo que também me desapontou. A história salta entre passado e futuro constantemente mas quase nunca de forma fluída. Certos pontos emocionais são interrompidos com passagens de tempo que quebram o ritmo do filme.
Além disso, a banda sonora por vezes é demasiado intrusiva. Contudo, os tons de musica clássica operantes funcionarem muito bem na maior parte do filme.
“Mulherzinhas” é um filme de sábado à tarde de alto nível. A cinematografia e performances impecáveis são o ponto forte de um filme cuja história convencional e estrutura desorientada apenas provam o quão desnecessário era voltar a adaptar a obra de 1868. Porém, a dinâmica entre as protagonistas e o visual do filme fazem desta produção uma experiência agradável ainda que demasiado convencional.