Nome de Código: Cloverfield | O found footage ainda funciona

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Nome de Código: Cloverfield é um dos muitos filmes de 2008 que nos ficaram na memória. Por diversas razões, este diferencia-se das restantes ofertas do género. SEGUEM-SE SPOILERS!

Nome de Código: Cloverfield foi lançado no dia 24 de janeiro de 2008 nas salas de cinema portuguesas. Foi realizado pelo Matt Reeves, responsável pelos últimos dois filmes da série reboot de Planeta dos Macacos. Foi escrito por Drew Goddard (Perdido em Marte) e produzido por ninguém menos que J. J. Abrams.

Cloverfield

Primeiro, há que parabenizar o cuidado que toda a produção teve em esconder o filme. Em 2007, foi lançado um teaser antes das sessões de cinema de “Transformers” que despertou a atenção de todo o mundo. “Slusho” e “Cheese” foram então os nomes falsos dados ao projeto. Nas ruas de Los Angeles, da Califórnia e de Nova Iorque, onde “Nome de Código: Cloverfield” foi filmado, eram inúmeras as pessoas que podiam ser vistas com um telemóvel da década de 2000 a gravar aquilo que era a produção de um filme bastante diferente.

E a verdade é que tal se verifcou. “Nome de Código: Cloverfield” tem, ainda hoje, o chamado cult following. Não é muito conhecido, mas quem o conhece soube sempre apreciá-lo, devido à sua capacidade de causar sustos e pânico, deixando o seu público constantemente de queixo caído. Tal como toda a publicidade do filme, a narrativa mantém as surpresas calculadamente em espera, aguardando o melhor momento a partir da metade do segundo ato. Por muito horrorosas que sejam as imagens que um filme mostre, nada é mais assustador que a sugestão daquilo que não vemos. Tal como “Alien – O 8º Passageiro”, o monstro aparece minimamente através de gigantescas ondas de fumo e camuflado entre os prédios nos quais entra e abalroa. É só passado mais de uma hora que o conseguimos ver totalmente, através de planos aéreos, bem como do espetacular contre plongée gravado no Central Park.

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Cloverfield

E, claro, como qualquer bom filme, o que seria dele sem bons personagens? Eu sei que não são por estes que se assiste ao filme mais que uma vez, mas justiça seja feita: eles são bem construídos e, mesmo alguns não tendo muita personalidade, são carismáticos e envolventes o suficiente para nos podermos sentir mal quando morrem.

O melhor é, sem dúvida, o Hud, interpretado pelo T. J. Miller. Os seus dotes de humorista são perfeitos para o personagem. O cameraman da ação não podia ser outra pessoa. O mais curioso é que, mesmo quase nunca aparecendo à frente da câmara, este consegue ser engraçado, inseguro, inconveniente, tagarela e chato. Quando vi o filme pela primeira vez, percebi imediatamente como é que a escolha para o personagem Weasel, de “Deadpool”, tinha sido feita. De resto, o elenco é perfeitamente competente e os personagens são bem desenvolvidos. Respeitam a sua própria lógica. Riem e choram quando é preciso. Funciona. Acho que as palavras “Oh Meu Deus!” nunca foram pronunciadas tantas vezes seguidas num filme.

Cloverfield

O próprio found footage funciona esplendorosamente bem aqui. Pensando bem, hoje, tendo em conta o nível de realismo, o resultado final não seria inferior a uma adaptação casual. Pensemos desta maneira. J. J. Abrams declarou no making of que todas as sequências de pânico coletivo nas ruas de Nova Iorque se basearam, na verdade, nas imagens do 11 de setembro. Coloquemos este excelente elemento lado a lado com efeitos sonoros agressivos e uma fotografia opressora e negra. O resultado é impecável. Estamos a falar de um filme que foi lançado apenas sete anos após uma das maiores tragédias da história americana. Apesar de “Nome de Código: Cloverfield” se revelar progressivamente um filme de terror com um gigantesco monstro a atacar a cidade, as primeiras reações do público nas salas de cinema foram idênticas às dos personagens – “Será outro ataque terrorista?!”.

Assim, a publicidade reservada (ou quase totalmente inexistente) não podia ser um melhor instrumento. É irónico que um dos maiores problemas dos filmes atuais seja exatamente uma coisa tão fácil de precaver. Os twists em trailers são chatos. É esta a conclusão.

Cloverfield

E para quem se pergunta ainda o que raio significa o título do filme, eis uma curiosidade. Como é anunciado mesmo no princípio, “Cloverfield” é o nome dado ao acontecimento em si, bem como à missão militar que foi a tentativa de matar a criatura. Acontece que “Cloverfield” é nome da rua principal que J. J. Abrams atravessa para chegar ao seu escritório em Santa Mónica. É isso. Fim de discussão.

No entanto, existem algumas conveniências e facilitações narrativas. Nomeadamente um machado exatamente à mão quando é preciso e a aparição do exército e dos médicos no shopping assim que disseram em voz alta que a Marlena precisava de um médico depois de ser mordida no metro por uma daquelas pequenas criaturas. O aspeto que mais incomoda é a sobrevivência da Beth, a namorada do protagonista. Esta cai de costas em cima de um ferro grosso e fica horas à espera de salvamento. O ferro atravessa-a de uma ponta à outra. Passou dos limites.

Cloverfield

Falando em pequenas criaturas, há muito que dizer acerca do monstro. O Matt Reeves faz um ótimo trabalho, mas, como é óbvio, claramente inspirou-se no trabalho de ficção científica do J. J. Abrams. Os efeitos visuais são muito eficientes e o monstro é mostrado apenas quando necessário. Ficamos com a sensação de que há toda uma história para contar acerca da sua natureza e até anatomia. Ainda assim, o desconhecimento ou a falta de desenvolvimento talvez seja uma das armas das boas obras cinematográficas. Se a franchise de “Alien” tivesse ficado pelo primeiro filme, talvez o respetivo sucesso fosse ainda maior.

Por vezes, deixar o público deliciar-se com aquilo que tem, em vez de receber continuações e explicações que fácil e possivelmente estragam toda a hype, seria uma melhor opção. As enormes marcas televisivas e cinematográficas atuais podem lucrar bastante e dar emprego a muita gente, mas, por vezes, é preciso saber parar e arranjar ideias originais e incomensuráveis.

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