Com mais de três milhões de cópias vendidas em todo o mundo, “O Capital no Século XXI” fez do seu autor Thomas Piketty uma das pessoas mais influentes do mundo segundo a revista Time.
Chega agora aos cinemas portugueses a adaptação cinematográfica por Justin Pemberton, no formato documental.
Baseado no best-seller do matemático e economista francês Thomas Piketty, cuja tese de doutoramento em filosofia abordava o problema da distribuição de riqueza na sociedade, “O Capital no Século XXI” é um longo estudo de como o a evolução socioeconómica está a ‘fechar o círculo’ e todos os avanços do século XX estão a levar-nos no século XXI, de volta ao sistema socioeconómico do século XIX.
Numa altura em que poucas mega-empresas controlam a maioria dos bens e transações económicas a nível mundial, traçando o destino de todos os países e, por consequência, das suas populações, numa desigualdade crescente imparável, é necessário expor o problema e encontrar uma solução.
Em cada período de desigualdade social, o crescendo de instabilidade e pobreza levou a grandes revoltas numa tentativa de mudar definitivamente o sistema. Provas disso foram a Revolução Francesa e as Guerras Mundiais.
A recuperação económica a seguir à Segunda Guerra Mundial ajudou a equilibrar a situação durante algumas décadas, mas chegados ao século XXI, a crise mundial de 2008 foi só o início e numa altura em que recuperávamos da crise, chega agora a pandemia, em que se a situação económica for mal resolvida internacionalmente (e para lá caminhamos), o resultado será uma grande nova crise, muito superior ao período da Grande Depressão.
Infelizmente, essa instabilidade só auxilia ao aumento dos movimentos populistas e ascensão da extrema direita, o que originará ainda mais confrontos e situações calamitosas, das quais demoraremos muitos anos a recuperar.
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Apesar deste documentário do neozelandês Justin Pemberton ter sido realizado em 2018 e apresentado pela primeira vez no verão de 2019, ou seja, muito antes da pandemia e de todo este panorama atual de incerteza, a realidade é que a teoria de Piketty está tão assente na natureza humana, que principalmente agora que nos encontramos nesta situação é que este documentário torna-se ainda mais relevante.
Analisando agora a parte técnica, a montagem do documentário mistura análises precisas de historiadores, economistas e professores catedráticos, por entre músicas com letras relevantes para a situação retratada e cenas de filmes históricos como “Orgulho e Preconceito” e “Os Miseráveis”, tudo em prol de fazer sobressair a mensagem de uma forma mais clara e fácil de assimilar pela maioria do espectadores.
Esta abordagem mais “pop”, com colagens e videoclips, pode não ser do agrado de todos, ao fugir a uma abordagem mais clássica para estar alinhado com o grau de atenção dos públicos atuais, mas certamente ajudará a mensagem a chegar a uma audiência mais geral, principalmente aos estudantes, quer do ensino secundário como universitário. Aqueles que têm de interiorizar estas ideias, para não cometer e ampliar os erros das gerações anteriores.
“O Capital no Século XXI” encontra-se em exibição nos cinemas.