Está mais do que na altura de poder discutir os spoilers da terceira temporada de “Ozark”, portanto, aqui está o veredito!
Realmente esta quarentena tem dado tempo para por em dia tudo e mais alguma coisa. Num espaço de quase dois meses tenho percorrido a lista de séries que já andava há uns tempos para ver. Desta forma comecei Ozark há cerca de uma semana e meia e já terminei as três temporadas. A série criada por Bill Dubuque junta-se ao catálogo da Netflix não apenas como uma das melhores séries da produtora, mas também como um dos melhores dramas da atualidade.
Ozark segue a história de Marty Byrde (Jason Bateman), um contabilista responsável pela lavagem de dinheiro de um cartel mexicano. A terceira temporada da série começa a pós a morte do pai de Ruth (Julia Garner) na segunda temporada e a abertura do casino pela família Byrde. Nesta temporada a família a par de Helen (Janet McTeer), advogada do cartel, estão numa constante prova de lealdade ao cartel.
É possível traçar um paralelo entre Breaking Bad e Ozark, afinal de contas ambas são excelentes dramas nos quais as personagens principais trabalham para um cartel e tem as suas vidas em constante risco. Se em Breaking Bad Walter produz droga, em Ozark Marty lava dinheiro. Assim sendo, na minha opinião esta é a única comparação legitima entre ambas as séries. Ainda que muitos possam achar que Ozark é apenas a nova Breaking Bad eu tenho a defender o contrário. Esta série distingue-se pelo núcleo familiar. Aqui a família trabalha em conjunto e os problemas de um tornam-se num problema geral. Seja no irmão bipolar de Wendy (Laura Linney) que não aceita que a irmã trabalhe num cartel, ou na agente de FBI que persegue Marty. Escusado será dizer que a constante tensão é um dos grandes elementos da série, as personagens nunca parecem estar a salvo do cartel. E nesta temporada o risco foi mais elevado que nunca.
Nos primeiros episódios Wendy e Marty não conseguem concordar em absolutamente nada. Marty não perdoa Wendy por ter encomendado a morte de Cade (Trevor Long), o pai de Ruth, e esta por sua vez, acusa o marido de ter medo de evoluir o seu negócio e dessa forma agradar o cartel. Esta tensão fragiliza o casal que começa a tomar decisões nas costas de um do outro. O caso de Wendy torna-se o mais interessante. Dei por mim a ficar enervado com esta personagem inúmeras vezes sendo que durante a temporada, esta é seduzida pela sua proximidade a Navarro, líder do cartel. Cada vez mais ela fica sedenta por poder, acreditando que tem influência sobre o seu chefe. Porém isto leva a várias decisões que deixam a família em perigo, em especial no que toca ao seu irmão, Ben.
E é com Ben que chega um dos pontos altos desta nova temporada. O irmão de Wendy, interpretado por Tom Pelphrey (Iron Fist), chega no começo da temporada como um homem relaxado. A sua presença influencia Wendy que acaba por, tal como o irmão, tomar várias decisões na flor da pele. Este aproxima-se de Ruth e eles desenvolvem uma amizade que leva a um romance natural. Porém à medida que o irmão descobre a verdade sobre a sua irmã, também nós descobrimos que esta personagem é na verdade bipolar e tem debilidade mental. Pouco a pouco ele acaba por interferir com o negócio de Wendy, Marty e Helen. Isto leva a um dos momentos mais emocionantes da série no qual Wendy tem de levar Ben para fora da cidade em fuga de Helen que quer eliminar Ben. São várias as cenas em que Ben transita entre a normalidade e um estado de extrema fragilidade e o ator Tom Pelphrey a par de Laura Linney dão as melhores interpretações que vi em qualquer série este ano e merecem uma nomeação aos Emmy’s. Wendy faz de tudo para proteger o seu irmão que tenta a todo o custo voltar a ligar a Helen para resolver tudo. Eventualmente ela percebe que não há volta a dar. Ben volta a tentar ligar, portanto Wendy abandona o seu irmão num restaurante. Ela entendeu que se ele sobrevivesse estaria a por em risco a sua família e ele nunca o iria entender. O cartel assassina Ben numa cena entre-cortada entre Wendy de luto pelo seu irmão. Um dos momentos mais pesados da série e uma adição extremamente importante para a personagem de Wendy que se no início da temporada começa sedenta por poder, agora entende o que Marty dizia. “O objetivo é sair desta situação, não ficar nela.”
Preciso de comentar sobre a relação de Darlene (Lisa Emery) com Wyatt. Ainda que ache interessante que ela proteja Ruth no último episódio, parece bastante estranho ver uma mulher com perto de 60 anos a namorar com um adolescente. Ainda que Wyatt (Charlie Tahan) esteja traumatizado com a morte do pai, achei todo este núcleo um tanto desnecessário.
O final da série é daqueles que te deixa a pedir por mais. A morte de Helen é inesperada e chega num momento em que esta está em clara vantagem, afinal de contas o FBI está prestes a emitir a confissão falsa de Marty que ela forjou. Tal como na primeira temporada a série surpreende a eliminar um dos seus protagonistas e prepara-nos para uma nova temporada que promete continuar aquele que é um dos melhores dramas televisivos do momento!
Todas as temporadas de Ozark estão disponíveis na Netflix.