Uma opinião honesta de alguém que deu uma hipótese a “Riverdale” e que dedicou longas horas a assistir a todos os episódios da série.
Começo por dizer que como alguém que vê muitas séries, começar uma nova série é como um compromisso. Independentemente de qual seja a série, são horas e horas que o espetador fica colado ao seu sofá. Sempre preferi cinema a séries, contudo tenho a admitir que o pequeno ecrã também não fica nada longe.
Cada vez mais, com a chegada de séries como Game of Thrones ou Stranger Things, o pequeno escopo do ecrã caseiro, torna-se cada vez mais semelhante ao de uma produção cinematográfica. Para além do facto de que uma série possui muito mais tempo que um filme para desenvolver a sua história e trabalhar as suas personagens. Ainda assim, acompanhar uma série, por mais prazeroso que seja, é um compromisso para o espectador que todas as semanas fica à espera do próximo episódio. Escusado será dizer que para gastar dezenas de horas da minha vida, a série tem de valer a pena!
No caso de Riverdale, não há ponta por onde se lhe pegue!! Entre as dezenas de séries que já vi, nenhuma é tão inconsistente como esta aposta da CW que, na passada quarta feira, terminou a sua quarta temporada. Baseada na banda desenhada Archie Comics, Riverdale segue a história dos adolescentes Archie, Betty, Jughead e Veronica nas suas aventuras pela misteriosa cidade de Riverdale.
Confesso que na sua primeira temporada fiquei muito surpreendido com esta série. Ao contrário de diversas outras apostas da CW, o primeiro ano conta apenas com 13 episódios o que funciona de forma precisa para uma série sobre adolescentes, cujo formato habitual de vinte e poucos episódios normalmente enrola com tramas desnecessárias. Porém, as personagens eram cativantes, simples na sua essência. Archie era o típico rapaz famoso que contra as expetativas de se tornar um jogador, preferia dedicar-se à sua paixão pela música. Veronica tem a personalidade de uma miúda rica que foge aos ideais da sua família. Jughead é um aspirante a escritor apaixonado por livros de mistério e Betty junta-se a ele quase como uma jovem detetive sempre preparada para investigar um mistério. Este tipo de dinâmica lembra imenso livros como Uma Aventura ou as histórias d’Os Cinco, contudo, a partir das seguintes temporadas Riverdale passou de uma aventura simples a um tornado de reviravoltas e inconsistências.
Riverdale sempre teve uma linguagem bastante referencial, sendo que vários dos seus episódios são estruturados como homenagens a vários elementos da cultura pop. Desde Pulp Fiction a Shawshank Redemption, são várias as referencias e homenagens. Porém, a nostalgia acompanhada de um estilo visual neo-noir tornam-se minimalistas quando as personagens deixam de ser quem são. Estes adolescentes passam de músicos de banda a super heróis mascarados que enfrentam ursos e cultos e sobrevivem. Se isto não é cómico o suficiente, temos de relembrar que Jughead e Betty são personagens tão inteligentes cujo plano para salvar o seu melhor amigo é coloca-lo num ringue e convidar dezenas de inimigos para o tentar matar.
No caso da quarta temporada, isto não fica para trás. Ao longo dos primeiros quinze episódios temos um novo mistério. Jughead muda-se do liceu de Riverdale para Stonewall Prep, uma escola para jovens escritores afiliada ao criador da saga de livros Baxter Brothers. Tudo corre bem até que um dos seus professores alegadamente se suicida. Claro que Jughead a par de Betty, acreditam que há algum mistério por detrás disto e partem para investigar.
Olhem, confesso que durante a segunda temporada comecei a abordar Riverdale como uma série de comédia. As reviravoltas são tão inconsistentes e as personagens são tão mirabolantes na sua personalidade, que muito honestamente não há maneira de as levar a sério. Porém no meio de tanto ridículo, a série apresenta um enorme valor de entretenimento, como o típico programa para se por de fundo e olhar de vez em quando. Ainda assim, e com toda a minha ingenuidade, eu presto atenção aos episódios, e tenho a dizer que a quarta temporada não começa mal.
As personagens pareciam estar a voltar aos eixos. É o seu ultimo ano de liceu e Archie está a voltar para a música, Betty continua uma jovem detetive a par do seu irmão Charles e Jughead volta a focar-se na sua escrita. Além do mistério da morte do professor de Jughead a série também introduz cenas no futuro nas quais Jughead teria morrido e seria o resto do quarteto que os havia morto. A ideia é cativante, porém é arrastada ao longo de diversos episódios que acabam por transformar este conceito interessante num rodízio do ridículo de que a série já tanto nos habituou.
Bem, não que eu sequer julgasse que a série teria coragem de matar Jughead, afinal de contas ele é sem sombra de dúvida a personagem mais querida do público e, além disso, esta já não seria a primeira vez que fingem a morte da personagem. Porém todo o plano por detrás da sua falsa morte não faz o menor sentido. Parece que não há riscos ou consequências para o quarteto principal que a toda a hora fogem de casa para se infiltrarem em investigações e situações de perigo sendo que muito raramente são apanhados pelos pais ou até mesmo sofrem no processo.
Pior do que isto é o arco de Kevin e Fangs. Nesta temporada, o casal é contratado por um homem que produz filmes nos quais pessoas fazem cócegas uma a outra em tronco nu. Com o decorrer dos episódios eles abandonam o homem e criam a sua própria rede para ganhar ainda mais dinheiro. Moralmente a série aborda o facto de adolescentes de secundário a exporem o seu corpo por dinheiro como algo extremamente natural e até mesmo benéfico. Parece-me irresponsável por parte da CW tocar num tema destes de forma tão ingénua.
Outra marca da série são os episódios musicais. Por norma os mais fracos de todas as temporadas, e nesta temporada não foi exeção. Terminado o mistério da morte do professor, o novo vilão torna-se o presidente da escola pelos seus métodos de ensino estritos. De todos os musicais da série, não há duvida que este é o episódio com o playback mais notável de todos. Em momento algum eu pensei que os atores estavam realmente a cantar. Isto era reforçado pelo grande uso de auto-tune, que tornava todas as vozes demasiado irrealistas.
Há que ressaltar o episódio de tributo a Luke Perry. Genuinamente o melhor episódio já feito pela série. A homenagem foi bonita e sincera, como uma grande despedida ao ator que deixou parte do seu legado na série. A sua personagem Fred Andrews, de todas era talvez a mais consistente e o ator, na minha opinião, era o melhor que tínhamos neste programa. Um bom tributo e uma emocionante despedida.
O quarto ano da série termina com um novo mistério. A morte do professor Honey e o assassino das cassetes. Decerto iriam haver mais episódios nesta temporada, sendo que a produção foi parada devido à corrente pandemia, contudo teremos de esperar indefinidamente para saber o desfecho deste mistério.
Não recomendo Riverdale a ninguém. É sinceramente a série mais inconsistente que já vi, porém, para aqueles que vêm semanalmente, talvez consigam retirar da série uma experiência mais cómica, ainda que obviamente não seja isso a que a série se propõe.