Elegância, subtileza e engenho são qualidades que Michael Keaton sempre demonstrou ter, mas que, durante muito tempo, talvez por escolhas erradas de papeis, estiveram adormecidas.
Michael Keaton é, não só um homem, mas também um ator, com bastante charme. Tendo no carisma um dos conceitos que melhor definiu o início de carreira promissor, depois de uma queda em direção ao fundo do precipício, Keaton, com o engenho que nunca perdeu, consegue um rejuvenescimento que parecia difícil de ser alcançado, ganhando uma nova vida.
Ver também: Subtilezas (Des)Medidas – Os filmes que marcaram a carreira de Marion Cotillard
Conquistou o que perseguia a sua personagem em “Birdman”, voltar à ribalta, alcançando uma nomeação para o Óscar de melhor ator principal e estar intimamente ligado à conquista de um Óscar de melhor filme.
Beetlejuice em “Os Fantasmas Divertem-se” (1988)
Personagem: Fantasma vigarista contratado por um casal para expulsar os novos habitantes da sua antiga casa.
Muito do sucesso que o filme teve, dando depois mote para a criação de uma série, se deve à personagem e à forma como Michael Keaton a interpretou. É notório que Keaton (e Beetlejuice) diverte(m)-se neste filme. A simplicidade e a elegância com que o ator representa favorece e muito o seu desempenho neste filme. Conseguiu, sem qualquer dúvida, dar a esta personagem tudo o que ela necessitava para vingar e para ser relembrada.
À semelhança do que aconteceu com a escolha do nome da personagem, remetendo para a segunda estrela mais brilhante da constelação de Orion, e apesar de Keaton ter encaixado na perfeição no papal de Beetlejuice, o nome do ator não foi a primeira escolha do realizador, mas sim a segunda, após a nega da produção ao nome de Sammy Davis Jr..
Não sendo demais associar grande parte do sucesso do filme ao ator, é inevitável não o ligar diretamente ao rumo que o filme tomou, visto que foi o Keaton a pedir liberdade criativa ao realizador para construir a personagem fazendo com isto que o filme, que inicialmente era para ser um drama com personagens mais mórbidos, se tornasse mais cómico, dando lugar a uma bela comédia negra, ainda que ligeira.
Realização: Tim Burton
Bruce Wayne/Batman em “Batman” (1989)
Personagem: Um homem que, após assistir ao assassinato dos seus pais, decidiu tornar-se o vigilante noturno da sua cidade, combatendo o crime.
Este papel marca desde logo a carreira do ator pelo facto de ser o primeiro Batman da história do cinema. O super herói que ganhou vida nas comics, tinha sido visto numa série de televisão. Mas até então, nunca havia tido a oportunidade de aparecer no grande ecrã. O sucesso foi tal que deu o mote para uma tetralogia. No entanto, Keaton vestiu apenas por mais uma vez a pele do herói de Gotham.
Keaton consegue uma interação com as outras personagens muito boa, principalmente com Vicki Vale interpretada por Kim Basinger e com Joker de Jack Nicholson. Eles complementam-se. Conseguem os três, mas sobretudo o herói e o vilão do filme, construir uma relação de cumplicidade tremenda, tendo a capacidade, junto do realizador, de honrar aquele que muito provavelmente será o mundo com mais conteúdo e com as personagens mais carismáticas no que a histórias de super-heróis diz respeito.
Este foi o segundo trabalho do ator com o realizador Tim Burton.
Realizador: Tim Burton
Ray Nicolette em “Jackie Brown” (1997)
Personagem: Um agente da ATF (organização federal do departamento de justiça dos EUA) que interceta uma mulher assim que esta chega aos EUA com o dinheiro de um traficante de armas que está na mira da própria ATF e alguma cocaína.
É um dos poucos filmes, após vestir o papel do herói de Gotham, que teve algum impacto na sua carreira. Apesar do pouco impacto no filme, é das raras personagens bem conseguidas entre Batman e Riggan em “Birdman”.
Uma prestação segura, sem correr grandes riscos e quase sempre sem sair do “tom” (o que não é necessariamente mau). É certo que a personagem não exige muito, mas o que exige é feito de uma forma muito bem conseguida. Sem grande espaço de manobra, Keaton consegue ter um desempenho competente e fazer com que a personagem tenha o que é necessário para não sair defraudada.
Realizador: Quentin Tarantino
Riggan em “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” (2014)
Personagem: Um ator sem sucesso, completamente frustrado, que após ter vestido a pele de um super-herói icónico (Birdman) viu a sua carreira desmoronar e que agora tenta relançar a mesma escrevendo e estrelando a sua própria peça de teatro.
É inevitável não fazer a comparação entre os acontecimentos do filme com a carreira dos atores. Principalmente com a de Michael Keaton. Consegue o ator, como a personagem, vingar, atingindo um objetivo que procurava desde há muito tempo. O regresso à ribalta com um grande filme, uma grande personagem e um grande desempenho.
Um filme com uma realização nunca antes vista, traz o ator no seu melhor. Valeu-lhe, inclusive, uma nomeação para o Óscar de melhor ator principal. Michael Keaton tornou-se o Dom Sebastião do cinema, aparecendo no meio do nevoeiro e triunfando de forma excecional.
A personagem deambula pelo filme, sem rumo, completamente à deriva. Com momentos degradantes, de pura alucinação, a personagem precisava de quem soubesse encarna-la e a interpretasse da melhor forma possível. Keaton consegue responder na perfeição ao que lhe era exigido, fazendo tudo de uma forma bastante sólida.
Realizador: Alejandro G. Iñarritu
Walter “Robby” Robinson em “O Caso Spotlight” (2015)
Personagem: Editor de uma equipa do jornal de Boston que faz jornalismo de investigação.
Com o tema do filme a abordar uma história verídica, sobre casos de abuso sexual e pedofilia por membros da arquidiocese de Boston, a importância de dar a credibilidade necessária a esta história passou, não só, pela forma fidedigna de apresentar a história, como também por ter os atores certos para desempenharem os papeis dos heróis da vida real. Tal como a personagem, que chefia uma equipa de investigação, Keaton encabeça um elenco de luxo liderando-o da melhor forma.
O filme tem no elenco os nomes de Mark Ruffalo, Rachel McAdams, Liev Schreiber, John Slattery e Stanley Tucci, o que favorece desde logo a prestação de qualquer ator e, não sendo Michael Keaton um ator qualquer, faz com consiga, talvez com maior facilidade, ter uma prestação bastante segura e regular.
A interpretação desta personagem por parte de Michael Keaton é a prova de que o ator está presente. A prova de que ainda podemos contar com ele. O ator está intimamente ligado à conquista do Óscar de melhor filme.
Realizador: Tom McCarthy