Pela mão de Guillermo del Toro, The Strain tem resistido à forte concorrência dos canais televisivos em horário de Verão, sendo que foi renovada para uma 3ª temporada antes desta 2ª ter terminado. A história acompanha o desenvolvimento progressivo dos vampiros à lá del Toro, denominados Strigoi, e da pequena resistência que até então tem defendido os seres humanos. Setrakian e Eph, juntamente com o seu grupo de resistentes, procuram por soluções para acabar com a epidemia nas ruas, sendo que se dividem em duas distintas missões: o judeu procura por um misterioso livro que se resume a uma espécie de bíblia no que toca a descobrir a fraqueza de The Master, enquanto o virólogo procura por uma espécie de vacina para impedir a transformação de humanos em Strigoi, mas claro que estes resultados não chegam de “mão beijada” aos nossos heróis com as constantes investidas de The Master e dos seus lacaios Eichhorst e Eldritch Palmer.
Para os fãs do cinema de terror e para os que apreciam o talento de Guillermo del Toro, The Strain é uma série obrigatória. Não só cria alicerces que a separa das restantes apostas da televisão no que toca à criação de um realismo horripilante e fantasioso digno de um grande pesadelo, como aproveita a visão excêntrica e, de certa forma, doentia de del Toro, tornando-a num conceito que é perfeitamente adequado à marca que a define como “série de autor”. A 2ª temporada não só vai enriquecendo uma narrativa simplória com visuais agressivos e tom obscuro, como vai desenvolvendo progressivamente as suas personagens, ainda que com algumas falhas. Falhas estas que consistem na introdução de novas linhas de história temporárias com base em personagens secundárias de fraca consistência e que acabam por empatar o panorama geral da narrativa. Estas falhas chegam sob a forma de Coco Marchand, Justine Feraldo e Gus Elizalde, que não só vão “contaminando” os momentos mais importantes da temporada, como, no caso de Gus, vêem a sua importância reduzida a breves ocasiões que nada de novo trazem. Os flashbacks também regressam, com um particularmente engenhoso que prova que a criatividade de The Strain se vai mantendo fresca com recurso a realizadores competentes, sendo ele o de Angel. A história de Angel é filmada a preto e branco, num vídeo em VHS de um “luchador” mexicano e dos seus filmes de série B em que combate contra os vampiros toscos criados em cinema. Parecendo que não, os espectadores acabam por reconhecer este flashback como uma pequena celebração do multiculturalismo da série e uma breve homenagem ao cinema de série B, ainda que tenha perdido a pertinência com o passar dos episódios.
As performances continuam em alta, com destaque para Richard Sammel, Corey Stoll e Kevin Durand que coordenam a parte masculina com seriedade e algumas doses de humor subtil e não prejudicial à linha de história. Mesmo não sendo uma série extraordinária, The Strain é um exercício subvalorizado que adorna uma história vulgar com visuais típicos de uma obra deltoriana (se é que lhe podemos chamar assim) e de um certo carisma de banda-desenhada, enaltecendo um género pouco difuso pela televisão. As meninas da série ficaram a perder, mas não invalida que a mente de del Toro vá contornando estas falhas e consiga trazer aquela personagem feminina por que todos esperamos. Para que as coisas funcionem melhor e para que o enredo se mantenha fresco, a equipa de argumentistas necessita obrigatoriamente de realçar o impacto avassalador desta epidemia no ecrã, não só porque as exigências do próprio argumento requerem esta ilustração, como trará uma visão global ao espectador da dimensão e do rumo que a história vai tomar. Mas, até lá, The Strain continua em boa forma e mostra a todos que é possível fazer bons exercícios de terror na televisão.