O “Toxic Avenger” nasceu nos anos 80 e tornou-se um símbolo de cinema gore independente. O reboot de Macon Blair procura manter o ambiente “trash” que tanto caracteriza o universo, e conectar-se com as novas gerações, atualizando o comentário social. O filme teve estreia mundial no Fantastic Fest 2023, muito antes de arrancar para o circuito comercial deste ano.
Quem é Toxie, o Toxic Avenger?
Winston Gooze (Peter Dinklage) é o típico americano de classe baixa: empregado precário e oprimido de uma grande empresa tecnológica, é exposto a um acidente tóxico catastrófico, transformando-se num anti-herói radioativo: o Toxic Avenger.

Para salvar a sua cidade (Tromaville) e a sua família, Toxie terá de lutar contra magnatas e músicos violentos. A justiça, tal como a vingança, é um prato que se serve frio… e tóxico.
Uma homenagem ao universo Troma
A Troma Entertainment é uma das mais antigas produtoras independentes ainda em atividade. Fundada em 1974 por Lloyd Kaufman e Michael Herz, já fez chegar mais de mil filmes a todos os cantos do mundo. O caminho foi difícil, mas conseguiram entrar na história do cinema com a receita perfeita: atores baratos, efeitos nada especiais, maquilhagem de guerrilha e zero pudor. Desta mistura explosiva, nasceu o clássico de culto “O Vingador Tóxico” (The Toxic Avenger) — que se tornou a prata da casa.
O novo filme de Macon Blair (argumentista de “The Monkey’s Paw” e “Room 104”) não tenta, de forma alguma, branquear Toxie: o nosso herói representa a herança Troma com todo o seu esplendor: derrama sangue por todo o lado, luta contra corporações maléficas e tem um coração maior do que a esfregona.
A banda sonora – que ficou a cargo de Brooke e Will Blair – mistura pop e punk, mantendo o filme sempre num ritmo caótico e envolvente. Além de bandas como Motörhead e The Giraffes, temos também canções originais pela banda fictícia do filme “The Killer Nutz”.
A opção óbvia pelos efeitos especiais práticos (próteses, sangue fluorescente, etc.) tornou-se uma bonita homenagem, mas confere um importante passo no sucesso do filme: promoveu o humor físico, o que fez abrilhantar a performance de todos os envolvidos.
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Performances (nada) Tóxicas
Grandes nomes do entretenimento mundial quiseram ter o seu nome neste grande reboot.
Peter Dinklage consegue ter uma amplitude exímia entre o empregado de classe baixa que não quer levantar ondas, e o pai apaixonado que quer um mundo melhor para o filho Wade, interpretado por Jacob Tremblay (“Room”, “Doctor Sleep”).
Elijah Wood acaba por ter pouco tempo de ecrã, tendo em conta a potencialidade da sua personagem. Com um aspeto quase irreconhecível, torna-se um vilão bastante diferenciado que nos relembra um pouco de vários outros: como se o Penguin (“Batman Returns”), o Hanson (mordomo no “Scary Movie 2”) e o Fester (“Addams Family”) fossem um só.

Kevin Bacon é o grande magnata que provoca toda esta catástrofe na vida de Winston. Inspirado em gurus de autoajuda e nepobabies corporativos, o nosso verdadeiro vilão é representado de forma exêntrica e despreocupada, mas sempre com uma ligação (nem sempre profunda) aos seus familiares.
Lloyd Kaufman não deixou de dar o ar de sua graça nesta produção, fazendo um cameo divertido que só os verdadeiros fãs do Troma Universe irão reparar.
Toxie também é (um bocadinho) português
Neste reboot, o corpo do Toxie tem ADN português: Luisa Guerreiro é a intérprete física por baixo do fato radioativo, ou como a produção apelidou “Toxie, The Bod”. Sabemos que Peter Dinklage dá voz e corpo a Winston, mas no que toca a Toxie, o trabalho é outro: apenas a sua voz fica, e é Luísa que dá peso, ritmo e comédia ao nosso herói.
Numa entrevista ao Bloody Disgusting!, Luísa conta como o desafio de interpretação foi bastante técnico: além de todas as próteses complexas (que incluíam um olho mecânico, limitando a visão e audição da atriz) que demoravam mais de 4h diárias, seguiram-se várias semanas de gravação que exigiram uma grande resistência física.
O resultado está à vista de todos: um Toxie com textura e cor, mas com uma interpretação que atravessa a carapaça verde, mostrando sentimento e empatia.
Conclusão
Entre a homenagem e a ousadia, The Toxic Avenger: A Vingança é a prova viva de que os anti-heróis ainda têm espaço no grande ecrã – e nos nossos corações. Repleto de violência e conteúdo gráfico, não deixa de ser um filme divertido que vai tocar no coração de todas as idades (acima de 16 anos, claro!).
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