Batalhas entre vizinhos e dentro da própria família marcam um filme islandês que podia muito bem ser passado no seio de uma família portuguesa.
De vez em quando, cerca de uma vez por ano, chega quase como um OVNI um filme da Islândia aos cinemas portugueses, com uma temática tão bizarra mas ao mesmo tempo tão comum, apimentada de um humor muito típico do país.
Filmes de boa qualidade como “Carneiros” (um homem reencontra o irmão 40 anos depois para o ajudar com as ovelhas e carneiros), “O Grande Fusi” (um quarentão que ainda vive em casa da mãe conhece uma vizinha que vai acabar com a paz no lar), “Noi, o Albino” (um jovem sonha em escapar da vila em que habita, isolada por um glaciar) e “Corações de Pedra” (um rapaz apaixona-se pelo melhor amigo que se apaixonou por uma amiga)… só para referir alguns.
A começar bem o ano cinematográfico de 2019 chega a Portugal “A Árvore da Discórdia”, em torno de um problema comum a milhões de vizinhos por todo o mundo, quando não seguem o princípio de que ‘a liberdade de uns termina onde começa a dos outros’.
No novo filme de Hafsteinn Gunnar Sigurðsson, duas famílias vizinhas odeiam-se mutuamente. Uns queixam-se da grande árvore que tapa o sol e deita folhas para o jardim, os outros aborrecem-se com o pastor-alemão que salta a vedação e deixa ‘presentes’ na relva. A completar a trama, cada personagem tem os seus próprios problemas pessoais, que só aumentam o stress em torno da desavença principal, num acumular de pressão que a qualquer momento pode rebentar.
Mas ao contrário de um qualquer filme mediano, em “A Árvore da Discórdia” a maioria das situações por mais bizarras que aparentem ser, encaixam-se naturalmente umas nas outras, justificando o desenrolar da narrativa. Azares de um destino em que ninguém sai impune dos seus atos.
Do elenco destaca-se Edda Björgvinsdóttir (no papel de uma mãe tão traumatizada quanto maquiavélica), Sigurður Sigurjónsson (que já tinha protagonizado “Carneiros” e aqui é um pai de família que se refugia no coro da igreja para fugir aos problemas) e Steinþór Hróar Steinþórsson, a protagonizar um fio secundário que aborda o tema delicado da guarda parental.
Um agradecimento especial à Cinema BOLD, que com este e outros filmes como “Thelma”, “O Interminável” e “Anna e o Apocalipse”, continua a trazer aos cinemas portugueses pérolas do cinema independente, que de outra maneira não chegariam às nossas salas de cinema.