“A Hora Mais Negra” – Uma empolgante e envolvente crónica da política britânica

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Dramas históricos não são nada de novo, e ainda menos aqueles centrados na 2ª Guerra Mundial.

Mas ao juntar uma das melhores interpretações de Gary Oldman e o sempre interessante cineasta Joe Wright, magia acontece. O resultado é A Hora Mais Negra, que mostra os dias iniciais de Winston Churchill (Gary Oldman) no seu reino como Primeiro Ministro do Reino Unido, nos quais se encontrava confrontado com a decisão de como decidir enfrentar a invasão das forças Nazis.

Oldman é completamente irreconhecível assim como imensamente charmoso no papel de Churchill numa interpretação tão fantástica que o público irá falar da mesma durante os anos vindouros, e Wright eleva o que poderia ser uma já muito contada história a níveis assombrosos.

A Hora Mais Negra começa em Maio de 1940, um período preocupante na vida britânica. Dada a tomada de posse de França pela parte das forças alemãs, o Parlamento britânico decidiu que a aproximação do Primeiro Ministro Neville Chamberlain não estava a dar resultados. É aqui tomada a decisão que este deve ceder o seu posto. Após Lord Halifax (Stephen Dillane) renunciar o seu apontamento ao lugar, os partidos consternadamente escolhem o seu sucessor. O bombástico e sempre imprevisível Churchill.

O filme não perde tempo, começando com a expulsão do chefe de gabinete. De imediato seguimos Churchill enquanto este tenta encontrar uma estratégia que traga a vitória ao Reino Unido. Enquanto isto, as forças britânicas no campo estão cada vez mais encurraladas. A costa é o seu único porto seguro após a queda de várias cidades. Assim que Churchill assume funções, o gabinete de guerra insiste na negociação de um tratado de paz com os Nazis. Nesta altura os Nazis conseguirão chegar ao Reino Unido, pois este tratado coloca-los-á nas boas graças do Reich. Mas Churchill, que tinha avisado sobre o perigo que era Hitler anos antes, esforça-se arduamente para convencer todos a lutar. Enquanto isso, planeia uma estratégia de purga para os 300,000 homens do império britânico presos em Dunkirk.

E sim, A Hora Mais Negra é deveras um excelente acompanhamento para Dunkirk de Christopher Nolan. Aconselho ver a obra de Nolan primeiro para sentir a experiência de como foi a fuga e depois ver A Hora Mais Negra para testemunhar como a Operation Dynamo surgiu e como foi executada, assim como todo o conflito interno que houve ao longo do processo. O filme de Wright é semelhante ao Lincoln de Spielberg no sentido em que se trata da história de um grande líder politico que teve que convencer pessoas de ambos os lados da guerra a executar o seu plano, e é também uma grande lição sobre o que faz um grande líder. A Hora Mais Negra, sendo um filme distintamente britânico, não tem a mesma sentimentalidade de Lincoln. Tem, no entanto, uma igualmente transformativa interpretação da parte do seu ator principal.

Oldman tem uma carreira histórica repleta de papéis camaleónicos, mas é sem dúvida arrebatador ver o seu trabalho neste filme. Não será loucura nenhuma dizer que sentimos que estamos a ver o verdadeiro Winston Churchill no ecrã. É uma interpretação brilhante e incrivelmente detalhada de Oldman, desde os maneirismos de Churchill ao seu distinto padrão de fala. E claro há também a bebida e os charutos, elementos tão essenciais para Churchill como o seu chapéu e casaco.

O argumento de Anthony McCarten  (A Teoria de Tudo), sabiamente aborda a história com as especificidades de um filme biográfico. Opta por encapsular toda a pessoa ao longo de um evento único, em vez de retratar a sua vida inteira. Desta forma, o filme funciona, e mais uma vez graças a Oldman, saímos com o sentimento que de facto conhecemos Churchill como pessoa e ser humano. A primeira vez que o vemos não é no parlamento. É sim na sua cama, de robe, comendo um gorduroso pequeno-almoço tipicamente inglês.

O foco na Operation Dynamo e, em maior parte ainda, nos esforços de Churchill para encorajar as pessoas em combater os Nazis e não negociar a paz, permite que entendamos como ele funciona, como ele pensa, e até vemos o efeito que o seu trabalho tem na sua vida familiar. Kristin Scott Thomas partilha poucas cenas no ecrã como a esposa do Primeiro Ministro, Clementine Churchill. Mas todos os seus momentos no ecrã são memoráveis, e o argumento ajuda a que não esqueçamos a sua presença. As cenas de Clementine enaltecem o protagonista da história e ao mesmo tempo não a tratam como um personagem unidimensional que apenas serve para ajudar a história a avançar.

O filme conta também com Ben Mendelsohn, que traz ao ecrã uma controlada e subtil interpretação de King George VI. É sem dúvida diferente ver Mendelsohn num papel tão “normal,” mas é apenas mais uma prova que o seu talento é mais versátil que “vilão estranho mas encantador”.

Contudo, a arma secreta do filme é absolutamente Joe Wright. Oldman é seguramente arrebatador, mas nas mãos de outro realizador o argumento poderia ter dado um resultado monótono, relatando uma aborrecida sequência de eventos nos quais pessoas falam em quartos pequenos escuros e depois discursam em quartos grandes e escuros. Esta é na verdade a maior parte do filme, mas Wright tem sempre uma visão única. Captura tudo isso com toda a virilidade e vigor, no espírito do próprio Churchill. É o seu primeiro trabalho com o cinematógrafo Bruno Delbonnel, juntos oferecem uma abordagem à história guiada pelos belos visuais. Cada composição de plano, ângulo e movimento de câmara tem uma razão de ser. Não há truques de câmara apenas por ser bonito, estes são integrados pelo espírito da cena em questão.

Grande parte do filme é filmado em close-up. Aqui, Wright concentra todas as atenções em Oldman e mostra o fantástico trabalho do actor em detalhe. Por vezes encontramo-nos tão perto que vemos os poros na cara de Oldman. Perdemos a noção que existe toda uma obra-prima de maquilhagem e próteses na cara de Oldman fazendo desses poros falsos.

Darkest Hour é, do princípio ao fim, uma incrível obra de arte. E o compositor Dario Marianelli oferece-nos o que talvez seja o seu melhor trabalho até hoje, com uma composição sonora guiada por piano que é magnífica. O filme é alternadamente arrepiante, sombrio, introspetivo e gregário, este último adjetivo uma reflexão brilhante do comportamento de Churchill.

Há momentos em que o filme parece apenas que está a saltar entre discursos, mas o trabalho de Wright por detrás da câmara eleva os momentos mais monótonos. É uma empolgante e envolvente crónica da política britânica mas também uma comovente história sobre liderança. Ser líder é difícil nos momentos fáceis. O que Churchill enfrentou revela como chegamos perto da nossa história ser totalmente diferente. Isto faz com que seja uma história que vale a pena contar. Felizmente, Wright e Oldman estiveram mais que à altura do desafio.

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