Reed Morano, mais conhecida pela realização de “The Handmaid’s Tale” cria uma Terra desolada onde Peter Dinklage e Elle Fanning são os últimos habitantes.
Um homem anão estaciona a sua carrinha à frente de uma casa. Destranca a fechadura da porta de entrada. Tem uma máscara na cara e carrega com ele mais alguns utensílios. Dá uma volta pelos vários pisos da casa para verificar o estado em que está e começa a limpá-la. Aspira o chão, limpa o pó dos móveis, enrola um cadáver no tapete da sala e arrasta-o até à carrinha. Retira uma fotografia de uma moldura, fecha a porta da casa e então assinala-a a spray branco com um X. Segue posteriormente para um descampado, e enterra o cadáver junto de dezenas de outros. Del é o último homem na Terra.
Protagonizado por um Peter Dinklage contido mas de presença forte, o novo filme da realizadora de vários dos episódios de “The Handmaid’s Tale”, Reed Morano, é um indie pós-apocalíptico que se foca em transparecer os sentimentos das personagens em vez de explorar grandes cenários de destruição, fazendo lembrar mais um filme como “A Estrada” de John Hillcoat que “Eu Sou a Lenda” de Francis Lawrence. O argumento de Mike Makowsky divide a narrativa em três partes. Uma primeira focada na vida solitária e repetitiva da personagem de Peter Dinklage; Uma segunda em que é introduzida a personagem de Elle Fanning; E uma terceira, em que o filme transcende para algo muito diferente.
Dinklage, que recebeu o seu terceiro Emmy de Melhor Ator Secundário na aclamada série “Game of Thrones”, apodera-se da personagem. Transmite-lhe traços de personalidade fortes e ainda algum mistério, de alguém que se sente melhor sem mais ninguém no planeta do que quando este era habitado por milhares de milhões de pessoas. O choque é grande quando deixa de ser o último habitante, no entanto, com a chegada repentina de uma adolescente que se despista na pequena cidade onde ele está a morar. Esta adolescente, interpretada por Elle Fanning, vem mudar o ritmo e a trajetória do filme. O desenvolver da dinâmica entre os dois é, portanto, um dos melhores aspetos do filme. Coloca dilemas sobre a necessidade de companhia, de ajuda, a partilha de sentimentos… Tudo acentuado pelas consequências de uma Terra onde 99,99% dos habitantes morreram.
Pautado por uma banda-sonora de Adam Taylor (também de “The Handmaid’s Tale” e que compôs anteriormente a banda-sonora do primeiro filme da realizadora, “Meadowland”), que em certos momentos aproxima-se das obras de Hans Zimmer, o filme, cujo título original é baseado numa música dos anos ’60 “I Think We’re Alone Now” (de Ritchie Cordell), é ainda acompanhado por algumas faixas de rock como “Working Man” e “Finding My Way” dos Rush e por “Free the Mind”, um trabalho remarcável do falecido compositor islandês Johann Johannsson (“Arrival”, “Sicario”).
A realização e direção de fotografia de Reed Morano merece igualmente o seu destaque, numa transição do fechado para o cada vez mais amplo, que acontece a um ritmo constante do início ao fim do filme, simbolizando a libertação das personagens das suas vidas anteriores. O filme guarda em si, todavia, mais algumas surpresas que não serão aqui reveladas.
“Agora Estamos Sozinhos” é um filme que com calma chega onde quer e o lugar de destino certamente surpreende.