Attack on Titan T2: O que é bom realmente sabe a pouco

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Ao fim de quatro anos de espera a tão aguardada continuação do anime que conquistou uma popularidade mundial finalmente foi emitida. A segunda temporada de “Attack on Titan” (título em PT: “O Ataque dos Titãs”) trouxe várias revelações e vários momentos emotivos. Infelizmente o que é bom termina depressa.

Nota: O texto que se segue poderá conter spoilers sobre a primeira e segunda temporadas da série.

A contextualização de uma espera de quatro anos

Durante quatro anos as polémicas fizeram-se sentir entre os fãs de “Attack on Titan”. Uns esperavam pacientemente por esta temporada tentando ao mesmo tempo evitar os spoilers de outros que, devido à impaciência, liam o manga. Foram várias as promessas de que o anime sairia em x ou y ano. No entanto nunca se cumpriam os prazos até ao presente ano. Saíam videojogos e uma série de spinoff, no entanto a continuação parecia não querer chegar.

Em 2013, a WIT STUDIO, responsável pela adaptação do manga de Hajime Isayama, lançou um comunicado no qual pedia animadores interessados em participarem no projeto de “Attack on Titan”. No entanto, apesar da oferta ser tentadora para quem é fã e formado em animação, a série só começou a ser produzida alguns meses antes da sua estreia este ano. Para irritação de muitos fãs só foram lançados 12 episódios ao fim de quatro anos, o que prejudicou bastante a imagem da WIT STUDIO.

Agora falemos de precariedade, especificamente para quem opta por ser animador no Japão. Ser animador (nota: não confundir animador com mangaka) no Japão implica neste momento um longo passeio pelas ruas da amargura. Há excesso de projetos a decorrer, no entanto cada vez menos japoneses optam por esse percurso profissional. A principal razão? Muitas horas de trabalho (que variam entre 50 a 84 horas semanais) e um salário baixo.

Um animador amador ganha cerca de 4 dólares por hora (3,5 euros por hora). Em média um salário mensal de um animador no Japão neste momento varia entre os 92,500 yen (cerca de 745 euros) e os 235,000 yen (cerca de 1.894 euros). Face às exigências da profissão e ao salário não é de admirar que muitos jovens comecem a optar por outras carreiras nas quais a recompensa salarial é maior e mais sólida.

Face ao contexto que apresentei aqui fica a questão: a longa espera de quatro anos valeu a pena?

Uma temporada que apostou nos twists e na emoção

Apesar desta temporada ter passado muito rápido, os momentos que a compuseram não decepcionam a nível de revelações e de desenvolvimento de personagens. Muitas das personagens tiveram um crescimento de carácter notável desde a temporada anterior e esses momentos notaram-se ao longo da temporada. Ao mesmo tempo algumas das personagens revelaram um lado negro pelo qual muitos espectadores que não acompanham os mangas não esperavam.

Algumas das personagens secundárias merecedoras de destaque são Ymir, Christa e Sasha. Esta série tem-se tornado conhecida pelas suas personagens femininas fortes e esta temporada expôs realmente isso. Sasha vence o seu medo dos titãs, Ymir passa de uma personagem praticamente com um papel de figurante a uma personagem com uma história e motivações pessoais interessantes e Christa, ou antes Historia, começa a ser mais destemida, sendo que a verdade acerca das suas origens lhe vai atribuir um papel importante nos episódios que se seguirem.

Sem dúvida o momento mais surpreendente (ou devo dizer os momentos mais surpreendentes) foi o facto de serem reveladas as identidades de mais pessoas capazes de se tornarem titãs. O poder de Ymir surge como uma surpresa, visto que a personagem era muito discreta até ao momento da revelação. No entanto, a traição de Bertoldt e Reiner foi sem dúvida um dos momentos mais virais desta segunda temporada.

Não só estes dois se revelam como sendo o Titã Colossal e o Titã Encouraçado, responsáveis pela queda do Muro Maria e pela morte de milhares de habitantes, como ainda criaram laços de amizade com as vítimas. Para Eren esta tornou-se numa traição marcante e imperdoável, em que dois dos seus amigos mais próximos se tornam em dois dos seus piores inimigos de um momento para o outro.

Eren claramente amadureceu um pouco no decorrer da temporada, apesar do seu temperamento tempestuoso continuar a ser uma característica que o define e lhe concede um defeito significativo. Mas é nesta temporada que o espectador finalmente compreende o porquê de Eren ser tão importante para os seus inimigos: além da sua capacidade de se transformar em titã o jovem consegue controlar os outros titãs normais. Uma descoberta que apenas leva a mais perguntas.

Mikasa e Armin nesta temporada também revelaram facetas que para os espectadores foram uma surpresa. Mikasa ora revelou até onde é capaz de ir para proteger Eren, nem que tal implique matar aqueles que lhe são próximos, ora revelou a sua verdadeira afeição pelo seu “irmão adotivo”, naquele que é capaz de ter sido um dos seus momentos mais amorosos da história. Já Armin começa cada vez mais a usar a cabeça até mesmo para afetar os seus inimigos na parte emotiva.

Sintetizando os aspectos essenciais

No tópico anterior dei uma importância acentuada à história, visto que para mim foi um dos pontos fortes desta temporada. No entanto, convém também referir os aspetos sonoros e visuais.

Mais uma vez a abertura ficou no ouvido do espectador com “Shinzou wo Sasageyo” da banda nipónica Linked Horizon. Este sucessor do primeiro tema da série “Guren no Yumiya” fica no ouvido, chegando a estar constantemente em comparação com o seu tema antecessor. A banda sonora no geral não decepcionou em qualidade conseguindo dar maior ênfase aos acontecimentos ou às emoções que uma certa personagem tem em cada cena.

O voice acting da dobrarem japonesa aqui é um dos pilares da série, tendo os atores (particularmente Yūki Kaji, voz de Eren) dado muita mais vida às personagens em relação ao que se vê no manga. A animação também manteve a sua qualidade, apesar de um ou outro erro que não passa despercebido aos mais observadores. Algumas das expressões faciais das personagens vão desde o amoroso ao aterrador.

No que toca a violência, apesar do anime ser bastante mais suavizado em relação ao manga, algumas das cenas apesar de censuradas ou curtas conseguem ainda assim deixar o espectador de coração apertado. A morte de Hannes foi o perfeito exemplo.

O único defeito relevante que devo apontar foi que, no meio de tanta qualidade, a série acabou por “saber a pouco”. A primeira temporada conseguiu trazer 37 episódios nos quais retratou um total de quatro “story arcs”. Doze episódios após uma espera de quatro anos no fundo acaba por revelar problemas na produção assim como na estabilidade da equipa. Felizmente os aspetos essenciais deste “story arc” foram devidamente explorados, no entanto fica sempre aquela ânsia por ver mais respostas às várias questões levantadas por esta sequência.

Será que haverá mais em 2018?

No mesmo dia em que saiu o episódio 12 surge um anúncio que deixou as ânsias dos fãs em êxtase mais uma vez: aparentemente a terceira temporada de “Attack on Titan” está confirmada para o próximo ano.

Tendo em conta os problemas referidos anteriormente, assim como o estado do setor no Japão, estará a WIT STUDIO a falar com uma certeza verdadeiramente sólida? Ou estará a companhia a querer acreditar em milagres sem ter aprendido com os erros de quatro anos? Só o tempo o dirá.

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